Uma reflexão: nosso péssimo futebol em tempo de tanta grana e cobrança por resultados – que garantem premiações -, também é FRUTO do calendário.
Fácil explicar: com 16 a 18 datas a mais que a Europa, não conseguimos folgar como folgam clubes de outros cantos do mundo.
Dito isto, sobra menos tempo para treino e para preparação da equipe para os grandes jogos, pois 30% do calendário foi ocupado com jogos de times de série A contra times de séries B, C, D e sem divisão, que nada somam.
O que já publicamos sobre o calendário do futebol brasileiro que é do seu interesse:
Nova Copa Sul-Americana é a chance de acertar o calendário do futebol brasileiro
O calendário do futebol brasileiro em tempos de coronavírus
Uma proposta de calendário
Tudo começa pelo calendário
Calendário brasileiro: desafio à espera de um milagre
Unidade Pan-Americana
Os chamados estaduais nada somam, mas derrubam treinadores. Treinadores estes que para se manter no cargo usam do artifício mais básico do esporte bretão: fechar a casinha, não tomar gol: PARK THE BUS.
Disse o Carille esses dias que não tomar gol facilita que se vença jogos, pois você pode jogar por uma bola e ganhar por placar mínimo.
Já em competições mata-mata, já ouvimos Abel Braga dizer que é melhor o 0x0 em casa que o 2×1… sendo que a derrota por 1×0 fora elimina nos dois casos…
E todos eles jogam defensivamente, sem construção de jogada, sem construção de uma equipe que valorize a técnica e a posse.
Do mesmo autor: Quando a corda estourar pra eles, o Urubu vai aproveitar para jantar a concorrência
E segue o calendário a moer treinadores, que formam-se jogando cada dia pior, com “transição ofensiva rápida”, famoso contra-ataque, esperando atrás, bloqueando o acesso do adversário ao gol com mais gente, e alçando bola pra área – valorizando jogadores altos e fortes.
E aí só se treina bola aérea defensiva e ofensiva, num futebol Lorenzetti, o famoso chuveirinho.
Os estaduais representam EXATAMENTE a diferença de datas entre Brasil e Europa. A quem interessa que se mantenham os estaduais como são, com clubes de orçamento milionário jogando?
Tudo isso repetidamente destruiu nosso futebol. Os estaduais sempre existiram, mas a entrada da Libertadores e Supercopa (depois Mercosul e em seguida Sul-Americana) e a criação da Copa do Brasil nos anos 80 e 90 incharam nosso calendário de tal forma que ele ficou impraticável.
Quem não lembra do São Paulo jogando duas partidas num mesmo dia? E desde então, nada foi feito. Criaram Supercopa, Recopa e claro, não há espaço para parar os campeonatos em Datas FIFA, quando os melhores jogadores servem à seleção Brasileira e desfalcam os clubes que lhes pagam caro.
Mas o errado não é ter Libertadores, Sul-Americana, Recopa, Copa do Brasil e Supercopa. É ter até 18 datas para campeonatos estaduais. É obrigar o Flamengo a enfrentar Nova Iguaçu, Madureira, Resende, Duque de Caxias, Macaé e grande elenco em fases de CLASSIFICAÇÃO.
Não deixe de ler: Jornal espanhol rasga elogios ao elenco do Flamengo: ‘varreu a Europa’
A repetição intensa de calendário sobre calendário fez com que tivéssemos menos Telês e Coutinhos e vingasse a “escola gaúcha de futebol”, o jeito de jogar supracitado: futebol de resultado.
Veio 94 a 2002, a sensação que dava certo: monta a defesa e os craques resolvem. Apostar na individualidade técnica dos jogadores foi sendo trocada aos poucos por apostar na altura, velocidade e força, porque era preciso aproveitar as levantadas de bola pra área pra se ter mais chance de marcar, e isso tudo em campeonatos lotados de jogos modorrentos de 0x0/1×0.
Glamourizados por setores da imprensa, coniventes com o péssimo futebol daqui, vimos o nosso futebol apequenar-se frente ao crescimento técnico e financeiro do europeu, que abriu porta aos estrangeiros e passou a levar embora cedo todos aqueles que fazem mais que o básico.
E só foi piorando. Aos poucos o modo de se jogar bola mudou, centroavantes viraram falsos noves, pontas foram, voltaram. Tivemos líbero, líbero invertido, três volantes, um volante, nenhum volante. E o Brasil seguiu sempre atrás, porque aqui não dá tempo de avançar. Só se segurar.
Fala torcedor! Isonomia e pactos no futebol brasileiro: uma reflexão
Os camisas 10 sumiram da formação de nossas canteiras, a posse de bola e o toque abrindo espaço deu vez ao futebol pragmático de passes verticais aleatórios e um jogo acelerado onde ninguém pensa, apenas corre atrás da bola, enquanto a bola corre deles. E há de correr.
Na TV, esses jogadores que jogaram nos anos 90 e 2000, agora comentaristas, endossam esse jogo medíocre, elogiam pelejas sem nenhum atrativo como se fossem grandes jogos, relativizando péssima qualidade como “nervosismo” e “tradição do confronto”. Cúmplices da agonia.
Não haverá bom futebol aqui enquanto não houver o TEMPO de volta.
Tempo que se gasta jogando contra time de empresário, de prefeitura… com goleiro que é padeiro de dia e atacante que é motorista de aplicativo à noite. Futebol AMADOR.
Informe-se mais: Barcelona x Flamengo: onde assistir, horário e provável escalação
Isso não cabe mais no mundo do futebol profissional.
É preciso TEMPO para treinar, excursionar, atrair gente boa de fora, fazer intercâmbio, mostrar que é possível jogar um futebol diferente do que se pratica nestas pradarias. Como Jesus mostrou.
Clubes que não lutam pelo calendário não sabem o mal que fazem ao nosso futebol.
O pior de tudo: a CBF arrecada 1 bilhão por ano há anos e não percebe que podia ser o dobro se o futebol daqui fosse melhor jogado e formasse melhores produtos com mais jogos melhores entre agremiações mais qualificadas tecnicamente.
Seguiremos com peladas… e pelada é de graça.
Também pudera, a CBF é eleita por votos de federações, não por votos de clubes. Federações não parecem interessadas no bem de seus federados, mas no bem de sua própria conta bancária.
Até quando veremos gente sabotando o nosso calendário e consequentemente, nosso futebol?