Substantivo feminino. Apego exagerado a um sentimento ou a uma ideia descabida. No dicionário, isto é obsessão. Na prática, trata-se de um desejo com intensidade incalculável, para o qual nos sujeitamos a situações sequer cogitáveis na normalidade.
O papel explica, mas não ensina. E nós só aprendemos, de fato, quando nos vemos obsecados por algum objetivo.
A obsessão não é apenas a Libertadores, mas também é como ela. Em ambas, aprendemos seus respectivos significados quando as sentimos. O futebol, palavra deste mesmo seleto grupo, torna-se inexplicável a partir do momento em que sentimentos tão iguais se antagonizam e tornam uma energia inicialmente tão pura em algo carregado, pesado. Quando quer, ele é maquiavélico, fantasmagórico, doído.
O flamenguismo, bem como a obsessão rubro-negra, se diminuía a cada vez que se via diante da busca por aquela taça. Aquela, só levantada por Zico num time imortal, capaz de sobrepor qualquer folclore ou maldição. Mesmo com a primeira participação cumprindo os requisitos para amolecê-la, o tempo fez com que ela nos intimidasse, diminuísse, pisasse. Nosso orgulho, na maioria dos casos, impedia a constatação óbvia, mas vamos falar baixinho aqui: era doloroso ver um colosso se passar por apenas mais um medíocre em meio à guerra.
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Nosso lugar nunca deve ser no meio do fogo cruzado. Nascemos para atirar e resistir.
Tal time imortal, capaz até de levantar tal taça, trazia um misto de nostalgia com a melancolia por não chegar perto de viver tudo novamente. E, assim, criou-se a maior obsessão que poderíamos ter: o Flamengo de volta.
A maior concentração existente de um sentimento tão natural não pode ser uma estranha perante a Taça mais humana da Terra.
Se fora do plano físico, o Flamengo é sempre o mesmo, no sentido de nos tornar maiores apenas ao lembrarmos sua existência, dentro de campo havia uma dívida, ou uma encomenda. O “Flamengo de volta” passa por inúmeros fatores, mas o atalho para apressar a entrega passa pela maldita Taça. Com ela em mãos, há o povo na rua, o morro em festa, o chão tomado pelo sentimento mais puro de alegria a uma Nação que se vê parte daquilo e, mesmo que precise desenhar pro Cristo ver, deixa claro que jogará junto pela Copa até o fim.
Pra quem o leva como sentido da vida, o Flamengo com a Taça era a explicação de que viver vale a pena.
Após uma certa noite de agosto, ao fim de uma disputa por pênaltis, um e-mail dos Correios chegou em nossa caixa de entrada. Aquela encomenda, antes travada, quase extraviada, acabara de sair da distribuidora.
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Esta demora pode ser causa da constante confusão na troca entre destinatário e remetente. Sabe-se lá quem enviou pra quem. Talvez por isso o nome Gabriel tenha aparecido na carta.
Não é engano. Não agora. Há vida, há volta.
A campainha toca, é o carteiro. Careca, de barba, bigode e nome exótico: Javier Horácio. Curioso aparecer aqui logo num sábado à noite.
Corro pra atender, mas caio chorando num chão molhado pela chuva carioca. Nem quero levantar.
O Flamengo de volta está entregue. E assinado.
A vida vale a pena.
Saudações,
Twitter: @_LeoLealC
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