O Fla de Abel teve fragmentos de bons momentos. O individual o técnico já tem. Resta descobrir a fórmula do coletivo.
Por Pedro Henrique Torre – Twitter: @pedrotorre
A voz que encontra maior eco entre torcedores e críticos aponta a utilização dos campeonatos estaduais como um laboratório para a temporada. Sem tempo ideal de treinamentos antes do início dos jogos oficias, resta fazer experiências no período menos badalado do ano para encontrar a formação ideal. Ao menos neste início de 2019, Abel Braga parece seguir esta cartilha. Diante do Boavista, uma vez mais o técnico lançou a campo outro Flamengo. Um time diferente, com uma ideia diferente. O saldo foi uma vitória confortável de 3 a 1 e a classificação antecipada para a semifinal da Taça Guanabara.
Contratempos típicos do futebol brasileiro dificultam um pouco a tarefa do técnico. As principais contratações – Arrascaeta, Gabigol e Bruno Henrique – iniciaram os treinamentos depois da reapresentação do grupo. Natural, então, que estejam ainda em um patamar de condicionamento físico abaixo do restante do elenco. Apenas este fato impede que Abel os utilize desde o início da mesma maneira. É necessário, então, tempo. O passar de jogos, a melhora do condicionamento dos novos reforços para que todos, enfim, estejam no mesmo nível. Mas o laboratório já está aberto. Alternando equipes, Abel arrisca não só outros jogadores, mas formações distintas. Certamente imaginando o encaixe de um ou outro atleta em determinada posição. As pancadas, claro, estão em voga em um clube traumatizado com os fracassos recentes. Principalmente com atuações ruins diante do processo de tentativa e erro na montagem de uma nova equipe. Resultados são necessários para aumentar a blindagem a críticas.
Nesta terça-feira, Abel mandou a campo um Flamengo de novo com Arrascaeta e Gabigol desde o início. E, de novo, em um 4-4-2. Não clássico, com um losango no meio. Um sinal da tentativa e erro. Se diante do Resende ficou claro que os lados do campo sofreram com a formação, desta vez o time se montou com uma linha atrás da dupla de atacantes, formada de novo por Gabigol e Henrique Dourado. Arrascaeta à esquerda, Piris e Jean Lucas por dentro, e Vitinho à direita. Só neste início caiu por terra a narrativa sobre uma suposta impossibilidade de o camisa 11 estar na mesma escalação de Bruno Henrique. E também o indício de que Abel deu mais um passo e iniciou a mescla das duas equipes. Além de Vitinho, Rodrigo Caio formava a zaga ao lado de Léo Duarte.
O zagueiro, aliás, teve uma noite feliz. Não apenas por ter marcado o terceiro gol, seu primeiro pelo clube. Mas por ter demonstrado estar mais à vontade para arriscar passes muito verticais da defesa até o meio. Talvez por característica, mas, também, talvez por necessidade. Sem Cuéllar, o início do jogo rubro-negro ficou prejudicado. Piris da Motta e Jean Lucas não têm essa característica. Um combativo e preocupado em dar o combate nos rivais. Outro com mais gosto pela posse de bola, sem distribuí-la. Corre com ela. Rodrigo Caio, então, apareceu bem. Arriscou 46 passes*. Não errou nenhum. Também mostrou qualidades na retomada da bola em velocidade. Ponto positivo. Mas no primeiro tempo houve vários negativos.
Sem rodeios: o time não funcionou bem. Apesar de um bom momento inicial, com grande movimentação de Gabigol, que caiu ao meio, achou Dourado na esquerda e este cruzou rasteiro para a infiltração de Vitinho na área. A bola foi passou rente à trave esquerda e animou os incríveis 34 mil presentes numa noite de terça-feira no Maracanã. No restante, o que ficou marcado foi a desorganização. Arrascaeta e Vitinho avançavam tanto pelos lados, instintivamente, acompanhando os dois atacantes e o time saía do 4-4-2 para o 4-2-4. Com Piris e Jean Lucas sem capacidade de construção, como dito, um vazio se criou entre os setores. Ou Rodrigo Caio arriscava o passe bem longo ou Trauco era muito acionado para buscar Arrascaeta. O time ficou mais lento e pendeu demais à esquerda. Desordenado, o Flamengo abriu espaços para o Boavista.
Voltou a mostrar problemas defensivos principalmente pelo miolo da defesa. Na primeira tentativa do Boavista, Lucas recebeu ótima bola entre Piris e Trauco, que mantinham guarda com o avanço dos zagueiros para um escanteio, avançou e César teve boa saída para evitar o gol. Parecia improvável que o time rubro-negro produzisse a ponto de sair em vantagem ainda no primeiro tempo. Mas há qualidade no time. Rodinei avançou pela direita, Jean e Rafael Marques deixaram o buraco fatal entre lateral e zagueiro para a entrada de Vitinho. A enfiada chegou na medida e o atacante carimbou o travessão de Rafael. No rebote, Henrique Dourado apareceu bem. Talvez o esperado fosse uma conclusão de primeira. Mas não. O Ceifador travou a bola, limpou o lance e bateu rasteiro, com categoria. No fundo da rede. E o Flamengo desceu para o intervalo com um futebol ruim. Mas à frente no placar. 1 a 0.
Blog do Téo: Quantos volantes? Não importa.
No segundo tempo, Abel manteve a formação. E foi punido. De novo, com erros defensivos pelo meio. Após cobrança de lateral pela esquerda, Arthur Rezende ficou livre, sem combate, para finalizar, como já acontecera com Jean, no clássico contra o Botafogo. A batida foi ótima, no cantinho direito, mas César pareceu uma vez mais ter pulado atrasado na bola, como diante do Resende. Abel, então, se deu conta do erro. Provavelmente consciente da baixa produção da equipe, trocou Vitinho – quem mais finalizou no time, quatro vezes, ao lado de Gabigol – por Bruno Henrique, arriscou um 4-2-3-1, com o camisa 27 à esquerda, Gabigol na direita, Arrascaeta por dentro. Piris e Jean Lucas à frente da defesa. Mais próximo da formação de 2018, o Flamengo melhorou coletivamente. A consequência foi o aumento de produção de alguns jogadores. Piris da Motta, por exemplo, pareceu entender melhor a sua função para proteger a defesa. Arrascaeta, mesmo mais por dentro, não teve problemas. Ao contrário. Tentou ajudar na marcação e acelerar ao ataque após tabela com Trauco ou Gabigol. Em duas vezes, recebeu passes na frente de Rafael e finalizou. É sempre objetivo. De forma simples, tenta sempre o caminho mais fácil até o gol rival com seus passes.
Com o time mais solto em campo e espaços cedidos pelo Boavista, Abel trocou Jean Lucas por Everton Ribeiro. O camisa 7 caiu como uma luva. De volta ao conhecido 4-1-4-1 de 2018, o Flamengo teve seus melhores momentos na partida. Uribe substituiu Dourado e deu mais mobilidade a um Flamengo que contava com Bruno Henrique e Gabigol pelas pontas, Arrascaeta e Everton Ribeiro por dentro. Mais qualidade técnica e uma formação bem mais confortável e agressiva. O segundo gol saiu de bela tabela de Everton com Trauco, que entrou na área e fez o que melhor sabe: dar assistências. Cruzou rasteiro para Uribe completar ao gol. Com dois meias que têm o passe como principal arma por dentro e atacantes rápidos e inteligentes pelos lados, o Flamengo pressionou o Boavista. Everton Ribeiro mandou bola no travessão e Rodrigo Caio, após escanteio da esquerda, cabeceou para fechar o placar. 3 a 1.
Abel leva percepções para a sequência da temporada. Foi compreensível, apesar dos protestos em redes sociais, a preferência por abrir o laboratório e alternar equipes, mesmo com mau desempenho em grandes partes dos jogos. Está claro que o próprio técnico tem dúvidas sobre a melhor formação. Com todos os jogadores no mesmo patamar físico, o próximo passo será dar jogo e tempo de treinamento já de olho na Libertadores, no início de março. Definir uma equipe principal. Há lacunas no elenco – um zagueiro mais experiente, um segundo volante que dê consistência ao meio, um lateral-direito. Mas o cardápio em mãos já é muito saboroso. Por enquanto, o Flamengo de Abel teve fragmentos de bons momentos durante os jogos na temporada. Está classificado para a semifinal da Taça Guanabara com folga, mas a fase do laboratório está próxima do fim. O individual o técnico já tem. Resta descobrir a fórmula do coletivo.
Publicado originalmente no site Chute Cruzado.
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