Poucas torcidas na face da Terra são mais intensas que a do Flamengo. Seja para amar diante do menor acerto, seja para odiar diante de qualquer erro, o torcedor rubro-negro habita um mundo de paixões intensas, de raivas incontroláveis, em que toda vitória é uma overdose de alegria que mataria personagens da série Euphoria e toda derrota é uma viagem sem fim pelo vale das trevas e das pichações de muro.
Quando você soma a isso o fato de que vivemos um dos períodos de maior investimento da história do clube, temos um dos elencos mais fortes do continente e poucos anos atrás fomos campeões de praticamente tudo que um time poderia ser – após um longo período sendo campeões de muito pouco – você tem um cenário que levaria até mesmo o treinador mais tranquilo, mais relaxado, mais confiante, mandaria um Whatsapp pra terapeuta dizendo que vai precisar subir de uma pra duas sessões por semana.
Do mesmo autor: Um clássico pra ensinar em quem Paulo Sousa não pode confiar
E é aí que entra o português Paulo Sousa. Recebendo um time absolutamente bagunçado após três treinadores que realizaram péssimos trabalhos, buscando implementar um novo esquema tático e uma nova filosofia de jogo, ciente de que precisa de tempo para realizar experiências e descobrir alternativas, mas já sendo pressionado por uma torcida que chama técnico de burro após dois jogos, pede demissão depois de três e provavelmente vai perseguir o homem na rua se não ganharmos a Supercopa no fim de semana que vem.
Mas se o começo de Paulo Sousa pode não representar o sonho dos torcedores no Twitter – que imagino que só ficariam satisfeitos se ele tivesse levado o elenco clandestinamente para o Catar, invadido o campo, goleado o Chelsea e roubado a taça de campeão mundial – é visível que ele parece estar trabalhando dentro das próprias expectativas, em busca de experiências e soluções para criar um Flamengo capaz de conquistar coisas durante a temporada.
E se algumas experiências não deram tão certo – Isla na partida passada mostrou que se não é confiável como lateral, como zagueiro é como se estivesse de lateral e Marinho visivelmente ainda não entendeu exatamente o que o professor espera dele, por exemplo – outras variações, como Pedro e Gabigol juntos no ataque, Éverton Ribeiro na ala esquerda e Rodinei na direita, parecem bem mais promissoras e podem ajudar a oferecer mais possibilidades para o time e garantir alegrias para a torcida.
Porque ainda que a goleada de hoje sobre o Nova Iguaçu, por 5×0, com belíssima atuação de Arrascaeta e grande jogo de Gabigol, sem contar os gols de Pedro, Gustavo Henrique e a pintura de Diego, não serve exatamente como um referencial do que vai ser o Flamengo diante de uma equipe mais organizada e de nível técnico mais alto – Fabrício Bruno fez boa estreia e nem mesmo Leo Pereira comprometeu, mas o adversário tem só 3 gols em 6 jogos neste Carioca – já é possível sim perceber quais ideias de Paulo Sousa estão dando frutos ou não, quais experiências vão resultar em boas opções e quais estão mais para “Projeto Manhattan”, o programa de pesquisa responsável pelas bombas atômicas durante a Segunda Guerra Mundial.
Que na próxima partida, contra o Madureira, no meio da semana, o treinador português possa seguir ajustando a equipe, seguir entendendo melhor o que pode funcionar e o que evidentemente vai dar errado neste Flamengo que tem potencial para ser tão promissor. Porque sabemos que ainda é fevereiro, sabemos que Paulo Sousa desembarcou no Rio de Janeiro tem pouco mais de um mês. Mas conhecendo a torcida rubro-negra, qualquer coisa diferente de uma vitória, diferente de um título, na partida contra o Atlético-MG no próximo domingo, e muita gente vai, tal qual os camponeses na história do monstro de Frankenstein, querer sim colocar fogo no laboratório do homem.
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