Muita coisa influencia o resultado de uma partida de futebol. Tem a preparação física, tem a preparação psicológica, tem o estado do gramado, tem a pressão da torcida, tem o risco de alguém tomar um caneta laser no olho durante uma bola parada e não pular na bola, tem a possibilidade do jogador descobrir que o maqueiro é na verdade o irmão gêmeo perdido dele e ficar absolutamente desestabilizado durante o jogo inteiro. Mas quase nada influencia tanto o resultado de uma partida quanto o talento das pessoas envolvidas.
Sim, o talento. A qualidade. A capacidade de realizar uma atividade específica com um nível de eficiência, criatividade e até mesmo beleza que as outras pessoas não conseguem. O cara que consegue acertar aquele passe que todo mundo erra, consegue encaixar o drible que outro cidadão tropeçaria tentando, é capaz de disparar aquele chute que o goleiro não alcançaria nem se o filho dele viesse do futuro pra avisar.
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E ainda que a classificação do Flamengo para a sua oitava final de Copa do Brasil, com a vitória por 1×0 sobre o São Paulo no Maracanã, obviamente tenha conexão com a evolução tática do time sob o comando de Dorival Junior, com o ambiente totalmente diferente que existe após a saída de Paulo Sousa e também com o fim da bizarra série de contusões que o clube enfrentou no começo desse ano, em que jogadores se lesionavam até durante o tratamento de lesões, é impossível ignorar o quanto o desempenho rubro-negro está diretamente ligado à quantidade brutal de talento que essa equipe reúne.
Desde o goleiro e inimigo do rebote chamado Santos, passando pelo aristocrático Felipe Luís e chegando até o cada vez mais obsceno Pedro, o elenco rubro-negro é recheado de jogadores talentosos, habilidosos e com uma inteligência acima do normal, mas poucos atletas simbolizam tão bem o desnível técnico entre o Flamengo e boa parte das demais equipes do continente quanto Éverton Ribeiro e Giorgian De Arrascaeta.
Porque Éverton Ribeiro é um craque. Um jogador de visão diferenciada, de inteligência absurda e que nem por isso deixa de ser voluntarioso e combativo, o meia rubro-negro, finalmente atuando como meia e não como ala-esquerdo, ponta-direita ou na área de TI da Gávea, é um monstro da articulação de jogadas, um gigante da busca de espaços, capaz de fazer com que as chances de gol apareçam da mesma maneira intensa e contundente com que o cabelo voltou a aparecer em sua cabeça.
Já Arrascaeta é um gênio. Um homem que se fosse cientista estaria curando doenças incuráveis, se fosse físico estaria inventando a viagem no tempo e se fosse diplomata já teria negociado a paz mundial, optou pelo futebol, para a sorte do torcedor rubro-negro – e talvez o azar a humanidade em geral, mas cada um com seus problemas – e na noite de hoje não apenas deixou novamente a sua marca como tirou marcadores para dançar, deixou zagueiros sentados no chão e nos lembrou mais uma vez do privilégio que é contar com um jogador como ele no time.
E foi na base do talento que o Flamengo chegou até aqui na temporada. De equipe desacreditada para time que está nas finais da Libertadores e da Copa do Brasil, de quem planava pouco acima da zona de rebaixamento para um time que, ainda que no campo do improvável, ainda não desistiu do título brasileiro. E que seja assim, também no talento, que o Flamengo possa decidir as finais que tem pela frente. Porque como a gente falou antes, muitos fatores podem influenciar uma partida, seja dentro ou fora de campo. Mas no talento, ah, meu amigo, no talento é muito complicado bater de frente com o Flamengo de 2022.
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