Janeiro de 1995. Era o promissor ano de nosso centenário. Romário, o maior jogador do mundo, aportava na Gávea para liderar um elenco estelar sob a batuta do inquestionável Luxemburgo. Assim, todos os prognósticos apontavam para uma temporada de sucessos e títulos, em contraste ao ano anterior, que fora difícit, turbulento e fracassado.
A boaventura nos gramados, porém, contrastava com o ânimo pessoal: havia recebido a notícia de que passaria os 15 meses seguintes, justamente aqueles meses tão promissores, no outro lado do Atlântico: o destino era Paris. Se por um lado a experiência de morar fora seria inesquecível para um adolescente de 15 anos, como de fato foi, por outro a distância sinestéstica do Flamengo daquele momento singular já me reunia motivos suficientes para mais lamúrias que entusiasmo. Especialmente porque o “au revoir” do Brasil veio apenas alguns dias depois da célebre Taça GB – conferida em loco – com Marcio “Te Adoro” dando o título de bandeja para o Baixinho.
E então? Não é necessário reescrever a história, pois de fato testemunhei o que talvez tenha sido o ápice do nosso Centenário. Depois dali, de fato fui poupado de conferir dois vices traumáticos (Estadual, e Supercopa) e os fracassos na Copa do Brasil e no Brasileiro. Sim, há o hiato de não ter visto o gol de barriga ou o “melhor ataque do mundo” em campo.
Sem internet, as notícias me vinham pelos resultados no “tabelão” da Revista France Football, às vezes com vários dias de atraso. Ou por recortes do “Cor de Rosa” que me avô me mandava pelo correio. Ou, de maneira mais desesperada, em dias de final, por telefonemas a familiares em dias de final, numa tentativa de se informar do resultado em tempo real (o que às vezes não acontecia por pura desinformação do interlocutor, já que o cartão telefônico me permitia ter apenas 30 segundos de conversa).
A realidade daquele mundo desconectado poderia reduzir a militância rubro-negra, mas ao contrário: com um quê de masoquismo, eu ansiava em ter visto essas derrotas ao vivo, de ter presenciado (seguramente esmagado por quase 200 mil pessoas) o gol de Romário contra o Independiente que nos deu alguma esperança do título ou mesmo ter a zoação tricolor zombando no ouvido (nos vingaríamos tanto deles pelos rebaixamentos posteriores, certo?)
Com o retorno ao Rio, já no meio de 1996 e sem ter visto o Carioquinha invicto, injetei-me de Flamengo como um sobrevivente de um naufrágio. E a tese do preferir ver e sofrer a ser restingido de torcer foi corroborada por sucessivas decepções nos anos seguintes, como o vice da Copa do Brasil de 1997, fiascos no Brasileiro…Existia ali um flamenguista inteiro. Como torcedor, concluí que necessitamos de dores e cicatrizes para o amor prevalecer e para as vitórias serem comemoradas mais intensamente.
Nos anos seguintes, vi os primeiros títulos de verdade no estádio, como o tri carioca de 1999 a 2001 e a Mercosul de 1999. Depois de dois vices doídos da Copa do Brasil em 2002 e 2003, e já na vida adulta e longe do Rio (mas não do Brasil), veio a forra da CB de 2006 e os dois primeiros capítulos de mais um tri estadual (2007 e 2008) até aquele meados de 2008, quando veio a outra notícia: a confirmação de uma nova aventura, dessa vez a longo termo, no exterior. Se por um lado a conquista transferência sonhada aos EUA foi celebrada, por outro ficava o quê da frustração pela distância do Mais Querido (ainda sob o trauma do hiato dos anos 90). Éramos líderes do Brasileiro de 2008 quando parti do Brasil.
A grande diferença sobre a agonia da escassez flamenguista em Paris era que, em Nova York, existia todas as possibilidades para acompanhar o time pela televisão a cabo e também pela internet (ainda que as opções pela web eram escassas e muito irregulares, que me fez sofrer especialmente quando a Globo/PFC Internacional não tinham direito de transmissão de algumas competições, como as Libertadores de 2008 e 2010 – sim, eu não vi os gols do Cabañas sem travar!). O hexa veio nos EUA, numa época em que florescia o meu apogeu rubro-negro com o hoje finado MundoFlamengo.Wordpress.Com (2009-2011), projeto em que tentei criar uma comunidade de rubro-negros residentes no exterior e que, apesar de efêmero, teve relativo sucesso. Foi diferente e longe do calor ideal do Maraca (cogitei, de verdade, ir para o Rio naquele fim de semana só para ver o Flamengo x Grêmio), mas a neve e os -6 daquele dia em NY não me impediram de chorar o hexa.
Mais recentemente, e com o desenvolvimento das opções streaming, a tensão de seguir o Flamengo ao vivo, apesar de longe da perfeição, foi muito reduzida. A minha jornada fora do Brasil ainda segue, agora novo no Velho Mundo (agora Itália), e hoje na melhor das condições desse meu rubro-negrismo remoto.
Nessa quinta-feira, vamos para mais uma final, e as alternativas de ver o Flamengo no exterior são muito variadas. Enumero aqui algumas opções. Que São Judas Tadeu esteja a nosso lado.
1) Consulados Rubro-Negros: A melhor solução, hoje, é procurar um grupo de rubro-negros residentes na cidade onde se está. Apesar de ter ainda muito o que melhorar, o projeto de fomento às “Embaixadas” cresceu absurdamente na atual gestão e hoje já é possível torcer como autêntico rubro-negros seja em Londres, Buenos Aires, Cingapura ou Porto. O site do Mundo Flamengo já se notabilizou por difundir a informação da exibição das partidas nos mais diversos Consulados mundo afora (link?)
2) Via TV estrangeira que tenha os direitos de transmissão: É uma opção muito restrita, mas alguns países transmitem o Brasileiro em canais locais (geralmente por assinatura). Não era o caso dos EUA, mas é o caso da Itália (MediaSport: http://www.premiumsporthd.it/campionati-brasiliani/news/il-brasileirao-su-premium-sport-2017_4536.shtml), que exibe os jogos do Brasileiro e da Copa do Brasil (apenas um ou dois por rodada, o que não assegura a transmissão especificamente da partida do Flamengo). É, porém, a melhor alternativa porque não depende da internet e permite de maneira mais simples a gravação do jogo para assistir depois.
3) Via Globo Internacional ou PFC Internacional: Apesar das restrições de competição e de países, é a melhor opção para ver o jogo pela internet. Além de ser o modo legal e que beneficia os clubes, em geral a conexão é muito mais estável e, ademais, conta com a narração em português. O ponto negativo é que a Globo não transmite competições internacionais, já que não tem o direito de exibi-las fora do território brasileiro. (http://globointernacional.globo.com/Asia/Paginas/assine.aspx; http://pfci.globo.com/como-assistir.html ; www.pfcplay.com);
4) Via streamings não-oficiais (pagos): É uma alternativa crescente e que, em função do pagamento (geralmente a preço reduzido), limita o acesso de usuários e garante, dessa maneira, uma conexão de velocidade mais dedicada. Também não apresenta restrições de países ou competições exibidas, já que de hábito os sinais são puxados diretamente dos canais brasileiros, transmitidos em solo nacional. Pesa contra essa alternativa o fato de não ser uma opção legal e ainda sujeita a algumas falhas.
5) Via streamings não-oficiais (gratuitos): É a maneira mais difundida, já que as opções podem ser acessadas por uma simples inserção em um mecanismo de busca ou via redes sociais. No entanto, muitos dos sites que hospedam os links oferecem riscos ao computador e não produzem conexões minimamente estáveis e seguras, o que costuma gerar muito aborrecimento. Muitos canais também têm os sinais cortados no meio da transmissão. Como último recurso, é válido e é melhor do que conferir o jogo apenas pelo Tempo Real.
Jornalista, nascido no ano 0 das mais altas glórias vermelho e pretas, Paulo Lima viveu na França nos anos 90 e nos EUA nos anos 2000. Hoje, residente na Itália, e nesse espaço contará as agruras de ser rubro-negro fora do país, conclamando os rubro-negros expatriados a assumirem voz cada vez mais ativa. E compartilhará os anseios, as cornetagens e as emoções comuns a todos os flamenguistas espalhados nos quatro cantos do planeta. É o administrator do perfil @Flamengo_IT
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