Desde os idos de 2013 o Flamengo construiu algo único no país. Primeiro nós construímos um time sólido financeiramente, feito isso, construímos uma forma de jogar. Uma forma bela, plástica e que nos dava orgulho. Mas como bem dizia Winston Churchill, construir é um ato de anos, destruir pode ser um ato impensado de um único dia.
A julgar pela infelicidade da ideia, creio que trocar Dorival por Vitor Pereira tenha sido exatamente a decisão impensada de um único dia que destrói tudo. E para consolidar essa destruição, contratamos Jorge Sampaoli para quebrar o Flamengo em diversos níveis.
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A quebra do espírito
Embora vocês não percebam isso, jogadores são seres humanos. Se por um lado há um endeusamento dos jogadores em bons momentos, em maus momentos, tratam-os como meras máquinas movidas a milhões. Daí nasce a ideia de que são meros acomodados porque estão felizes em passar vergonha dia após dia desde janeiro, desde que recebam seu salário.
Mas eles também sentem. E tá nítido que sentem. O espírito dos jogadores foi a primeira vítima no ano. Importante salientar que essa é a que Sampaoli tem a menor culpa. Foi quebrada por Marcos Braz em cumplicidade com Vitor Pereira.
A quebra do encanto
E então o Flamengo trocou de técnico. Para muitos a continuação do futebol ridículo após a troca torna fácil entender o problema: os jogadores. Parece uma conclusão óbvia, mas é burra. Se você trocar 10 vezes com técnicos e todos esses técnicos forem ruins/não encaixarem com o perfil do elenco, você vai patinar no mesmo lugar.
Em decorrência disso, ninguém mais fica a salvo. Gabriel, que começou o ano como “o cara que está fazendo de tudo para honrar a camisa 10”, se tornou um jogador em fim de clico. Arrascaeta que muitas vezes foi elogiadíssimo por sua disposição de sair do aeroporto direto pro jogo, agora virou o novo símbolo dos jogadores que não estão nem aí, com imagens antigas sendo recuperadas para criar essa ideia.
Alguns dos maiores ídolos do clube estão sendo queimados por mais um trabalho ruim. Como acontece há algum tempo.
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A quebra física
Dentre os ídolos, se encontra Filipe Luís. O lateral que afirmou peremptóriamente que não há problema físico no elenco, foi transformado por alguns jornalistas em pivô de uma crise com Sampaoli. Entretanto, o que o Filipe fez, foi revidar de maneira muito sensata e educada, críticas injustas que os jogadores vêm recebendo há muito, do próprio comandande.
Há problema físico. E o culpado desse problema é careca, baixinho e fala um portunhol ruim. Eventualmente, quando o Flamengo começa a ir mal, parte da torcida encontra um preparador qualquer lá de dentro pra culpar. Já eu, que tenho problemas para manter a minha condição física no ideal, jamais entrei nessa onda. Entretanto, quando o treinador admite que ele tem participação nas lesões dos jogadores, isso muda de figura.
Logo após a partida medonha contra o Corinthians, na coletiva, houve o seguinte diálogo:
Repórter: Hoje o Everton Ribeiro Sentiu no aquecimento, aconteceu também com o Gérson. Queria que você explicasse pro torcedor o que tá acontecendo, se era uma carga de trabalho que não era elevada e agora é elevada com o seu trabalho. E se de alguma maneira isso te preocupa.
Sampaoli: Eu recebi o time de uma forma e a única forma de mudar o time é trabalhando, trabalhando, trabalhando. Eu não vejo outra forma de melhora. E isso TEM UM TIPO DE CONSEQUÊNCIA.
O que é essa resposta senão o argentino assumindo que para implantar o seu estilo de jogo, ele forçou os jogadores até quebrá-los? Quando Filipe diz que não há problema físico, se trata de problema físico prévio. É claro aqueles inventaram que o Flamengo é uma colônia de férias comprarão a ideia de que ficava todo mundo lá jogando futmesa e comendo Doritos e agora estão se lesionando porque botaram para trabalhar.
Para fazer esse o time jogar o “Sampaboll”, apoiado em correria desenfrada e confronto físico, Sampaoli precisa força-los fisicamente. E aí você vai quebrar TODOS os seus jogadores que não têm o físico como seu principal foco. Não atoa se chega em um jogo sem que você tenha NENHUM jogador de criação. Nesse interím, tivemos a primeira lesão muscular de Evertonm Ribeiro, uma profusão de jogadores se machucando o aquecimento e a lesão do goleiro reserva após 45 minutos em campo.
A quebra do futebol
A partir daí, nós entremos na quebra mais triste. Embora não seja a mais preocupante, é definitivamente a mais triste. Sampaoli teminará de destruir o futebol que nos orgulhamos de jogar. Li outro dia que o Flamengo estava tentando se tornar o Palmeiras, que era imprevisível se daria certo mas que era triste. E é esse o sentimento. Estamos desesperados artrás de um Rony e de um Felipe Melo.
Fomos atrás de um ponta direto driblador que corta pra dentro pra chutar, rápido, forte e (pelo que eu vi) certa dificuldade no passe e no domínio de bola. Contratamos Luiz Araújo. Qualquer pessoa que olhar para isso perceberá a semelhança entre ele e Marinho. Obviamente, não se trata de dizer que a nova contratação é tão ruim quanto Marinho, mas é uma questão de características do jogador.
Consequentemente, de características pensadas para o elenco. Ainda se fala na contratação de um volante “carregador de piano”, de um “zagueiro xerifão” e de um lateral-esquerdo ainda sem características reveladas.
É o fim do Flamengo que ganhava campeonatos com Gerson como volante, Everton Ribeiro e Arrascaeta achando os atacantes. Mais que isso, é o fim do Flamengo que tinha na Zaga o Arão, Rodrigo Caio ou Pablo Marí. Abram alas para o Flamengo correndo pelos lados, com Cebolinha, Luis Araújo, Ayrton Lucas e Wesley.
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Por outro lado, teremos uma zaga firme e combativa com um Júnior Alonso da vida. E em decorrência disso (e aqui vai um chute), em breve teremos um centroavantão cabeceador pra tirar um dos queimados Pedro ou Gabigol que tendem a entrar em seca de gols.
A quebra financeira
Se a quebra do futebol é a mais triste, a financeira é a mais perigosa. Os memes sobre os refuerzos pedidos pelo treinador começaram a se tornar reais. Já se fala em o Flamengo fazer uma das janelas mais caras de sua história. Para atender aos caprichos do treinador e dos torcedores que passaram a ver nos atuais campeões da Libertadores e da Copa do Brasil, grandes imprestáveis.
Por conta disso, o Flamengo poderá se colocar em um verdadeiro jogo de perde-perde. Se tudo der certo, teremos a derradeira “palmeirização” do Flamengo, é como se o Barcelona se tornasse no Atlético de Madrid. Por outro lado, caso dê errado, estaremos com a conta para pagar no longo prazo de jogadores fracassados no clube. Esse foi o roteiro de Everton Cebolinha.
A quebra financeira a qual me refiro não é parar de pagar salário, cair para a segunda divisão e ter que virar SAF. É uma quebra do Flamengo pujante financeiramente que pode fazer bons investimentos. Do Flamengo que, por ter finanças ótimas, pode se dar ao luxo de contratar qualquer um. Uma vez comprometido o orçamento nos próximos anos com jogadores que não dêem certo, estaremos fadados a torcer por um novo Vinícius Júnior ou por veteranos que queiram vir ao Flamengo de graça. Por fim, ficamos entre nos tornamos o Palmeiras ou o Fluminense, em termos de modelo de negócio e futebol.