Treinador catalão enfrenta dificuldades em diversas posições, e parece ainda buscar alternativas para o time titular
Domènec Torrent levanta dúvidas na torcida do Flamengo em relação à escalação do time titular. Os torcedores reclamam que alguns jogadores têm mais chances do que outros, mas muito pode ser explicado em questões básicas do que o catalão quer no time. Pegando a escalação da partida contra o Botafogo, é possível entender algumas escolhas do treinador.
Ter um meio de campo com Éverton Ribeiro e Diego faz sentido para a ideia de Dome. Ainda que Arrascaeta tenha sido fundamental em 2019, não é por isso que ele deve ter uma vaga fixa de titular com o novo treinador. Se a diretoria do Flamengo quisesse um treinador para manter o trabalho de Jorge Jesus, era melhor ter oferecido mais dinheiro ao português ou contratar outra pessoa, pois Domènec vê o futebol de uma forma diferente da de JJ.
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Então vamos lá. Diego e Éverton Ribeiro são dois jogadores para a criação. A opção dos dois juntos contra o Botafogo foi uma tentativa de usá-los entrelinhas do Botafogo. Tal função não funcionou com Gerson nem com Arrascaeta nos testes iniciais. Gerson, apesar de também ter um forte poder com a bola e uma boa capacidade de passe, não é um jogador de criação como Everton Ribeiro. Arrascaeta, que tem uma reconhecida habilidade, tem sua capacidade total explorada quando encontrado na ponta. A escolha por Diego, um jogador que faz a função de criação que Domènec quer.
O motivo do uso desses dois jogadores entrelinhas também não é difícil de entender. Algumas características do jogo posicional forçam o uso de outras características. Se o treinador quer usar dois jogadores entrelinhas, um centroavante e dois pontas, isso requer jogadores que sustentem o time na defesa, e para isso o Flamengo e todo time que tenta adotar o jogo posicional deve fazer o uso de laterais invertidos.
Não é a primeira vez que explico o uso de laterais invertidos aqui, e nem será a última. Em tal função, os dois laterais jogam mais perto do volante, garantindo uma capacidade defensiva mais forte. Além do mais, isso pede o uso de dois jogadores mais criativos no ataque. Uma coisa leva à outra no jogo posicional, e para isso os dois jogadores entrelinhas são usados.
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A questão não é se um jogador ou outro deve ser titular, mas sim se ele tem as características necessárias para ser titular. Essa é a pergunta principal a ser feita.
A “questão Arrascaeta” já virou polêmica. O jogador postou em seu Twitter que não está lesionado e pode jogar sim. Além de não ser uma questão boa para o ambiente dentro do clube, a publicação do uruguaio levanta perguntas de todos os lados.
1: É certo contratar um treinador com uma filosofia totalmente diferente do anterior e pedir para ele repetir o que foi feito?
Isso vai da visão de cada um, mas a partir do momento em que você contrata um novo treinador, é presumível que todos os responsáveis pela contratação conheçam o estilo de jogo e as necessidades dele. O clube que contrata um treinador que nunca teve experiência no futebol brasileiro e tem uma filosofia nunca adaptada ao país tem que saber dos riscos que está prestes a correr, e o Flamengo tem de saber disso.
Domènec foi apresentado aos torcedores e à imprensa como ex-auxiliar de Pep Guardiola, não como entusiasta do trabalho de Jorge Jesus. A filosofia dele é outra. Não é por praticar um ofensivo que os dois são iguais. Guardando as diferenças e as proporções, compare Guardiola com Klopp e veja as diferenças.
2: Até que ponto vale a pena ter o jogo posicional em seu time?
Em um time pronto para investir, vale muito a pena. O treinador terá dinheiro para montar um time com jogadores que ele sabe que se adequam ao seu estilo. Jorge Sampaoli não implementa o jogo posicional no Atlético Mineiro, mas fez questão de garantir com a direção de seu clube que teria a capacidade de agir no mercado financeiro para fazer as contratações necessárias para ter jogadores adequados ao seu estilo de jogo.
Domènec, porém, irá trabalhar com um elenco que já está pronto. O catalão foi contratado para trabalhar com um elenco cheio de jogadores de qualidade, mas que, em sua grande maioria, nunca trabalharam com o jogo posicional.
3: Os diretores fizeram a escolha certa?
É muito cedo para responder esta pergunta, mas é algo que o Flamengo deve pensar logo. Vale a pena bancar Domènec, esperar a adaptação do elenco ou até gastar mais na próxima janela?
A torcida rubro-negra ainda acredita que Arrascaeta não deve ir para o banco de reservas. E muitos deles também querem que Thiago Maia assuma a vaga de Willian Arão no time titular.
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Thiago Maia é sim um jogador de qualidade, e entrou bem no empate contra o Botafogo, mas vale ressaltar que ele jogou ao lado de Willian Arão, fazendo a função de segundo volante. Sua capacidade na saída de bola é maior que a de seu companheiro, mas a confiança que Domènec pode ter em Arão no âmbito defensivo é justa. O camisa 5 teve a sua melhor temporada da carreira em 2019, e ainda se apresenta bem jogando como único volante.
Além do mais, não se sabe ao certo se Thiago Maia pode render bem jogando sozinho como volante, ou seja, fazendo uma função mais defensiva, assim como Arão. A capacidade de jogar pelo meio de campo pode ser útil, mas ainda pode comprometer a defesa do Flamengo. O teste é válido, assim como a manutenção de Arão totalmente compreensível.
Léo Pereira gerou reclamações por parte da torcida já no final da passagem de Jorge Jesus pelo clube. No Athletico Paranaense o zagueiro era muito importante em papéis de início de criação da equipe, trabalhando diretamente com os laterais e com o volante, ainda tendo Bruno Guimarães fazendo um box-to-box, uma função de área a área. Jogando pelo Flamengo, porém, Léo Pereira comprometeu muitas vezes a zaga rubro-negra. O momento pode ser de Gustavo Henrique, apontado como um dos melhores zagueiros do Brasil em 2019. Os dois zagueiros apresentam algumas características parecidas, e a mudança na zaga não deve custar tanto ao treinador.
*Créditos da imagem destacada no post e nas redes sociais: Alexandre Vidal / Flamengo