O técnico Tite enfim concedeu sua primeira entrevista coletiva no comando do Flamengo. Uma semana após ter sido anunciado e começado a trabalhar, Tite falou pela primeira vez com jornalistas no Ninho do Urubu.
No início da entrevista, Tite lembrou da primeira vez que enfrentou o Flamengo, como jogador, e disse ter consciência do tamanho do desafio que tem.
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“Por mais programação que se tenha daquilo que se deva fazer, sempre as informações elas captam. E uma da que me capta mais é quando joguei contra o Flamengo. Ele tinha Adílio, Andrade, Zico e depois Tita, ainda bem que eu não peguei Zico, Zico tinha recém ido pra Itália, e Lico. Fora Nunes, Edmar e outros mais. Mas essa composição… Era Júnior e Leandro. E eu na Portuguesa na época”, explicou.
E prosseguiu: “O quanto eu corri atrás, o quanto eu passei de sufoco nessa história. Falei isso daí para mostrar a história, a grandeza, o quanto eu sei. Da alegria que o torcedor tem em ver sua equipe. Do quanto eu vou estar empenhado para transmitir também de alguma forma, participar dessa alegria para poder transmitir a eles. Da grandeza do clube. E do orgulho. É um desafio e uma responsabilidade muito grande”.
Coletiva de Tite foi adiada para aguardar volta de Landim
Tite esteve acompanhado na coletiva do presidente do Flamengo, Rodolfo Landim, do vice-presidente de Futebol, Marcos Braz, do diretor-executivo de Futebol, Bruno Spindel, e do CEO do clube, Reinaldo Belotti. A coletiva demorou uma semana para acontecer pois Landim estava viajando durante a semana passada.
Já Braz a princípio poderia ficar fora da coletiva a pedido dos patrocinadores do Flamengo por conta do caso da mordida em um torcedor num shopping no mês passado. Entretanto, ao contrário disso, o Flamengo tem apostado numa superexposição de Braz ao lado de Tite para apagar a imagem ruim do dirigente com a torcida.
Braz e Landim vêm sendo hostilizados pela torcida do Flamengo. A vez mais recente foi no jogo de estreia do Flamengo no NBB, no Maracanazinho.
Landim lembrou que já trabalhou com Tite quando foi chefe de delegação da seleção na Copa América de 2019, competição vencida pelo Brasil no Maracanã.
“Tive a honra e a felicidade de conhecer Tite trabalhando na Copa América em 2019. Sempre foi um sonho voltarmos a trabalhar junto, estar lado a lado para buscar novas conquistas. O convívio que a gente teve naquele período foi curto, mas muito intenso, e muito marcante para mim”, disse o presidente.
“Falar da qualidade de Tite é perder tempo. Todo mundo aqui conhece os trabalhos que ele fez, como foi vencedor. Acho que tem o DNA, a cara do Flamengo. As expectativas que a gente têm são as melhores possíveis. No contato que eu tive com a equipe desde que ele chegou aqui, vi o sorriso nos olhos, a vontade que eles têm de abraçar esse trabalho”, acrescentou.
Landim agradeceu Tite “por ter ouvido e entendido que a chegada dele era importante que acontecesse um pouco antes”.
Tite explica por que aceitou antecipar início do trabalho
A primeira pergunta que Tite respondeu foi feita pelo sócio-torcedor Lucas Zózimo, que quis saber qual foi o principal aspecto treinado na primeira semana de trabalho do técnico no Flamengo,
“Esse tempo de vinda para cá na Data Fifa permitiu um conhecimento primeiro humano. Dos funcionários, depois com os atletas. E três deles ainda por videoconferência. Para mostrar a importância do trabalho a todos. Na sequência a gente fala das informações que foram feitas anteriores, no aspecto físico, mas já na implementação das fases ofensiva, defensiva e de bola parada a gente já implementou de uma forma bastante rápida”.
Na sequência, Tite explicou por que aceitou voltar a trabalhar já em 2023, contrariando o que havia planejado e prometido, de só assumir um clube no ano que vem.
“É o projeto de 2024. É a busca de uma retomada de vitórias importantes. Da perspectiva de títulos. E depois um alinhamento de datas, para que a gente pudesse seguir esse trabalho e ter uma possibilidade extra [de título] que é o que me move. O objetivo do Flamengo de 2024 no trabalho foi a premissa da conversa. Da minha forma também. O Braz perguntou: como a gente ajusta os seus objetivos profissionais com a necessidade do Flamengo? E aí o projeto pesou mais forte”, disse.
Riscos e benefícios
Tite afirmou que começar imediatamente o trabalho traz “riscos e benefícios”.
“Porque o objetivo é a classificação na Libertadores, direto. Esse é o objetivo real. A perspectiva de título tem matemática, mas ela é um sonho. E nós temos realidade na relação a isso. E ela tem um risco porque tem nove equipes que estão muito próximas de classificação à Libertadores onde o campeonato é extremamente disputado”.
O técnico disse que não considera que a decisão de antecipar o início do trabalho no Flamengo contradiga sua promessa de só voltar a trabalhar em 2024, já que na prática vê o trabalho atual como início do trabalho do ano que vem.
“Para o projeto de 2024, também conhecer todos os atletas, estar trabalhando agora, é importante. Então esse ajuste acabou acontecendo dentro desse projeto inicial que eu não considero uma falta de [palavra ao prometer que não voltaria a trabalhar em 2023]. Mas sim uma percepção da grandeza do Flamengo, dos seus objetivos inclusive do benefício particular do trabalho”.
Técnico fala sobre Gabigol, Pedro, Bruno Henrique e Cebolinha
Um dos principais tema da coletiva foi o relacionamento com Gabigol, abalado pela não convocação do camisa 10 para a Copa do Mundo. Tite revelou que teve uma conversa conjunta com o atacante e com Pedro, este sim convocado para a Copa.
“Eu conversei com o Gabi e conversei com o Pedro. E falei da possibilidade da utilização dos dois, sim. O conjunto da obra com o Bruno [Henrique] ele começa a ter uma variável maior ou de um outro atacante, o Bruno, o Cebolinha, o Luiz [Araújo], são jogadores mais verticais, mais agudos. Ele começa a ter naquilo que é a estrutura de uma equipe ela possa balançar. Jogar bem é jogar bem na fase ofensiva, na fase defensiva, nas bolas paradas. Quando alguma coisa dessas não funcionar bem você está mais longe da vitória”, disse.
De acordo com Tite, ele explicou a Gabigol que não foi a presença de Pedro que o tirou da Copa.
“Eu conversei com ele, sim. Então nós conversamos sim. Coloquei a eles que eles concorreram a ir à Copa. Mas não concorreram com as mesmas características. Um disputava com o pivô. O outro com o jogador de movimentação. Inclusive por isso eles dois podem atuar juntos. Mas tranquilo em relação a isso”.
Reabilitação de Cebolinha
Em seguida, ao ser questionado sobre o que pretendia fazer para recuperar Cebolinha, que teve seu último grande momento de destaque na Copa América de 2019, comandado por Tite, o técnico acabou conversando mais detalhes da conversa com a dupla de goleadores.
“Eu vou pegar as palavras que o Pedro teve quando nós conversamos. E aí eu me permito, algumas coisas eu levo a público. Eu perguntei pra ele: como vocês podem contribuir um com o outro, Pedro e Gabi? E o Pedro falou pra mim: a gente competindo e elevando cada vez mais o nível técnico dentro dos treinos e dos jogos, a gente vai estar trazendo o nível nosso acima. É nisso que eu acredito, serve também para o Everton”.
Tite desconversa sobre brigas, fracassos e renovações de contrato
O técnico evitou se comprometer sobre alguns assuntos. Questionado sobre as brigas envolvendo o elenco este ano – caso da agressão de Pedro pelo preparador físico Pablo Fernández e a troca de socos entre Gerson e Varela num treino – ele respondeu contando como era sua relação com técnicos no tempo de jogador.
“Eu tenho a ciência que eu era um jogador nota 7, não tinha a excepcionalidade. Eu observava os técnicos e pensava assim: o cara pode me escalar ou não, é da função dele. Porém me treine igual e me respeite igual. Aquela mensagem que eu eu tive de Carlos Alberto Silva, por exemplo, ela ficou marcada. Para que agora eu possa passar aos atletas. Respeito”.
Já sobre a renovação de contrato de atletas cujo atual vínculo com o Flamengo se encerra em dezembro, casos de Bruno Henrique, Everton Ribeiro, Rodrigo Caio e Filipe Luís, Tite passou a bola para a diretoria, mas admitiu que a reta final do ano pode mudar os planos.
“O técnico é uma figura importante na engrenagem do clube. Mas acima, na sua hierarquia, tá a direção que já tem a sua diretriz. Há um encaminhamento. Porém são 12 jogos decisivos que todos são importantes para que a gente alcance o objetivo da classificação”.
De olho no futuro, sem olhos para o passado
Ele também se esquivou de fazer um diagnóstico sobre os motivos do fracasso do Flamengo na temporada até aqui, dizendo que todas suas atenções estão voltadas para os próximos jogos.
“Todas as atenções ficaram voltadas na preparação agora. Antes eu coloquei em termos diretivos, e agora eu amplio, para Fabinho, para Juan, departamento médico, fisiológico, que tem passado informações que são importantes. A gente conversou hoje de manhã com o Mário Jorge. São os trabalhos vislumbrando o jogo, esses 12 próximos jogos. Se eu começar a trazer por que lá, por que cá eu vou estar perdendo o meu foco. Meu foco é formatar a equipe para quinta-feira”.
Entretanto, Tite explicou como pretende agir para recuperar a confiança dos jogadores.
“Eu acredito em confiança, um atleta ter confiança, e ser desafiado. Não gosto do termo tira de uma zona de conforto. Eu gosto de deixa numa zona de confiança e desafia. Somos nós, sou eu e são os atletas todos”.
Técnico tem que se adaptar aos atletas e à equipe, diz Tite
Com uma fama de ser “retranqueiro” por privilegiar a defesa em sua passagem no Corinthians, quando cunhou a frase sobre “saber sofrer”, Tite garantiu que no Flamengo vai privilegiar o ataque.
“O jogo é um mecanismo vivo mas parte de alguns princípios. Manter a posse de bola, historicamente, ser criativo, ofensivo, é do DNA do Flamengo, e vai continuar sendo dessa forma, porque o técnico tem que se adaptar aos atletas e à equipe. E não o contrário. Ele precisa jogar e saber jogar, mesmo que seja num percentual menor, consistente defensivamente. E ele precisa ser eficiente em bolas paradas. Quando se foge desse aspecto, a gente fica mais longe de vencer”.
Sem usar o termo “saber sofrer”, porém, Tite admitiu que em alguns momentos dos jogos o Flamengo precisará saber resistir à ofensiva do adversário.
“É inevitável que em alguns momentos do jogo o adversário vai ter aquilo que eu chamo de domínio. Domínio que eu considero quem está com a bola. E aí você vai fazer o quê? Você vai controlar o adversário, não dar a ele oportunidade de finalização. Quando conseguir isso, tu está mais perto de vencer. A gente vai procurar estar equilibrando essas situações”.
Esquema de jogo ainda é mistério
O técnico não quis responder sobre qual esquema de jogo pretende utilizar, dizendo que são vários fatores a serem levados em consideração.
“Numa conversa que nós tivemos com o Zico, esse senso criativo, essa capacidade de agredir o adversário sendo contundente, procurando o gol, infiltrando, finalizando, ela faz parte do conjunto. Mas esse ponto de equilíbrio que eu me referi anteriormente na resposta é fundamental. E vai depender do momento técnico individual, de como a equipe se ajustar, depende desse contexto e das variáveis todas que possam aparecer. Sem preestabelecer ou se amarrar numa ou outra ideia”.
Tite encerrou a coletiva com uma frase de efeito.
“O campo fala. Às vezes ele esconde. Às vezes a bola esconde. Tu tá melhor, não é possível, às vezes toma um gol. Mas normalmente o campo fala”.
Quando Tite estreia no Flamengo
A estreia do técnico Tite acontece na próxima quinta-feira (19) no jogo Flamengo x Cruzeiro, no Mineirão. A partida, válida pela 27ª rodada do Brasileirão, será às 19 h, no Mineirão.
O Flamengo ocupa atualmente a 5ª posição no Campeonato Brasileiro, com 44 pontos, e precisa da vitória para tentar voltar ao G4, que garante classificação direta para a Libertadores 2024. Além disso, o time tenta diminuir a distância de 11 pontos para o líder Botafogo, que joga na quarta-feira contra o América-MG. A próxima coletiva de Tite, portanto, acontecerá no vestiário do Mineirão após a partida.
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