Oportunidade. Não tem palavra melhor para sintetizar. Na agenda sempre apertada do presidente do maior clube do Brasil, não podemos esperar hora e local marcados com antecedência. E foi assim que conseguimos — finalmente! — uma entrevista daquelas padrão MRN de qualidade. Looonga, apenas para os mais CDFs de Flamengo. Aqui é pra quem gosta de textão, sim senhor.
Oportunidade é pra agarrar. E lá fui eu de uma hora pra outra trocar ideia com Bandeira. Na memória os tópicos relevantes e um papo com a galera do Conselho Editorial do site. Não houve tempo para pesquisas, anotar no caderninho meus humildes questionamentos. Então decidi guiar-me por um caminho: não remexer, na medida do possível, em questões que ficaram mal resolvidas lá atrás. Sim. Queria olhar pra frente, não por achar menor revisar o passado recente dessa gestão. Isso deve ser feito e refeito, revirar e deixar revolto, para só depois de assentado todo o discurso chegarmos na verdade total. Promessas não cumpridas e ações estranhas precisam sempre de um questionamento inteligente, sistemático e objetivo, sem segundas — prós ou contras — intenções.
É notório como Eduardo Bandeira de Mello é escorregadio quando questionado em rádios e tevês. Discurso solene demais, mesmo para o maior cargo esportivo deste país. Agarrada a oportunidade de ter meus 30 minutos na agenda do homem, o que tentei fazer foi presentear meus leitores com uma “conversa guiada”. Espero que gostem.
Diogo Almeida – Twitter: @DidaZico – Email: [email protected]
Vamos começar falando sobre o Maracanã. Estamos em um estágio complicado. O Maracanã está cedido ao Estado e este o disponibiliza para o COI. A Odebrecht anunciou a devolução oficialmente no fim do mês de junho. A seguir, Leonardo Espíndola, secretário estadual da Casa Civil, declarou que o governo estuda aditivo na atual concessão para mantê-la, com um novo parceiro, ou, de fato, promove outra licitação, com ou sem a participação dos clubes. Dentro deste cenário, como o Flamengo está se organizando, efetivamente, pra administrar o Maracanã?
Bom, nós estamos trabalhando nesse projeto do Maracanã já há muito tempo. Trabalhando na modelagem financeira. No business plan, na identificação de parceiros, nos contatos com o Governo Estadual do Rio e com a Odebrecht também. Nesse momento quem tem que decidir o que vai acontecer é o poder estadual, que é o poder concedente. Se for definida uma nova licitação, com toda certeza não vai haver mais aquela restrição para que os clubes não possam participar. E aí o Flamengo vai participar com seus parceiros.
O senhor acha mesmo que, havendo publicação de um novo processo de ato concessório, os clubes não ficarão alijados novamente?
Acho que essa é a única alternativa possível. Não acredito que a nova licitação vai vetar a presença dos clubes porque isso, a não presença dos clubes, era uma coisa até compreensível em 2012 quando os clubes, principalmente o Flamengo, não estavam em uma situação que desse ao poder concedente uma segurança para que o clube viesse a gerir um patrimônio da dimensão e importância do Maracanã. Hoje o Flamengo é um clube que é reconhecido pelo exemplo de gestão financeira, administrativa e desportiva no mundo inteiro. O Flamengo, associado a empresas especialistas, pode perfeitamente gerir o Maracanã.
Tenho certeza que o Governo do Estado reconhece isso. Então vamos aguardar. Se ocorrer essa nova licitação para que o Flamengo possa se habilitar, até porque todo mundo entende que o Maracanã jamais será um bom negócio sem o Flamengo, seja do ponto de vista esportivo, seja do ponto de vista financeiro.
Quais são as empresas que estão ao lado do Flamengo na formação desse consórcio? O Clube pensa em um modelo com uma empresa investidora e outra com experiência comprovada em administração de arenas?
Isso aí eu vou ficar te devendo porque faz parte dos segredos do negócio.
O senhor poderia adiantar com quantas empresas o Flamengo está trabalhando?
Com pelo menos mais uma, a princípio.
Nessas conversas com o poder público, o governo já deu alguma data limite para resolver todo esse imbróglio? Já foi noticiado que teremos definições ali pela época em que a paralimpíada ainda estivesse em curso.
É possível. Por enquanto não existe nada de definitivo. Não sabemos nem se vai ter outra licitação. Talvez o Governo do Estado opte pela continuidade da administração que surgiu da última licitação, com a troca de controle simplesmente.
Teríamos pelo menos uma mudança nas regras. Haver uma adaptação evidentemente. Tudo isso requer adaptações mas não adianta a gente especular aqui. Importante é a torcida saber que o Flamengo está em cima desse assunto, que é um assunto considerado altamente prioritário pra nós e que se houver a mínima possibilidade nós não vamos perder.
Temos contrato com o Maracanã até o fim deste ano. Com o fim desse período de eventos, o Maracanã ainda teria seis datas para o Flamengo, acredito que a partir do jogo contra o Cruzeiro. A gente tem um contrato em vigor. Estamos sendo muito prejudicados este ano. Todo o planejamento contava com o Maracanã até abril. Muita gente acredita que o Flamengo não se planejou adequadamente, contudo, a diretoria trabalhava com a ideia de que contaria com o estádio até…
Planejamento é o que não falta ao Flamengo. É claro que tem gente que é até mal intencionado, que diz que já se sabia que haveria olimpíadas desde 2007, essa diretoria assumiu em 2013 e não fez nada.
Iríamos fazer o quê? Construir um estádio? Do jeito que o Flamengo estava financeiramente, destroçado? Nós estávamos preocupados em pagar os nossos impostos, a folha de pagamento no final do mês. E a recuperação do Flamengo está sendo muito custosa. Não se tinha a menor condição em investir em algo que em 120 anos de clube nunca ninguém investiu. Então nós trabalhamos com as possibilidades alternativas e tínhamos, é claro, essa promessa que teríamos o Maracanã até o final de abril e encontraríamos alternativas, é claro, para esse período entre maio e setembro.
A partir do dia 25 de setembro, que é a data marcada para Flamengo e Cruzeiro, dado que o encerramento dos Jogos Paralímpicos ocorre no dia 18, a gente entende que é possível. Não é muito fácil em uma semana se resolver tudo para que o campo esteja em plenas condições. Mas acredito que, com boa vontade — o Flamengo pode até participar num esforço nesse sentido –, a gente possa jogar sim contra o Cruzeiro no Maracanã.
Como você bem falou, nós temos um contrato até o final do ano. Se até lá a situação regulatória tiver resolvida, ótimo. Se não, pelo menos até o final do ano a gente tem esse contrato garantindo.
Perdemos receita de janeiro até abril com o fechamento unilateral do Maracanã. O departamento jurídico do clube trabalha com a possibilidade de busca de ressarcimento, pelo prejuízo do início do ano, assim como se ocorrer essa impossibilidade na reta final do Brasileiro, no que pesa o fato do time estar em plena corrida pelo hepta?
O Flamengo tem um contrato assinado e esse contrato tem que ser cumprido. Ele tem cláusulas para eventuais descumprimentos. Isso tudo é claro que está sendo analisado pelo nosso jurídico. A história do nosso departamento jurídico fala por si. Acho que dificilmente há um clube no Brasil que tem um jurídico tão competente quanto o nosso.
Vamos falar agora do Estádio da Gávea. Sonho antigo, um histórico diverso de possibilidades e um saldo de fracassos. E agora? O MRN entrevistou o Wrobel e ele falou do grupo de estudos, do projeto de estádio protocolado na Prefeitura do Rio. Possivelmente um estádio para 18 mil pessoas. Esta semana também publicamos uma matéria sobre a possibilidade de começarmos com um estádio provisório. Gostaria que o Presidente explanasse de uma forma ampla e ao mesmo tempo aprofundada sobre tudo o que o Flamengo pode fazer.
Olha, o Wrobel já deve ter colocado pra vocês. Existe este sonho antigo da nossa torcida de ter um estádio pequeno aqui na Gávea para abrigar jogos que não caibam no Maracanã. Jogos da categorias de Base também. Dependendo da concepção arquitetônica, até para outras finalidades. A gente entende que um estádio aqui, principalmente agora, com estas novas estações do metrô, uma delas já em funcionamento nas proximidades, aquela questão do acesso fica totalmente equacionada.
Nós temos manifestações de associações de moradores do entorno aqui da sede do Flamengo que são favoráveis ao estádio. O que eles não querem é shopping center. Um estádio pequeno vai valorizar a região, inclusive evita um processo de degradamento que existe ali atrás da nossa arquibancada. Aquela região ali, apesar de estar entre o Leblon e a Gávea, é degradada do ponto de vista urbanístico. Eu acredito que um estádio pequeno, bonito, o mais bonito do mundo talvez, com o Cristo Redentor ali em cima abençoando e as montanhas todas… E é um estádio que vai ter os equipamentos naturais que podem ser aproveitados pelo entorno da vizinhança.
E um estádio grande próprio. Tivemos um certo afã pelo projeto de Guaratiba, temos até reclamações de que a gestão não está devidamente colocando essa opção em pauta, que poderia ser discutido de uma maneira mais aberta para os sócios. Temos outros projetos? Há muito se fala em estádio na Baixada também.
Desde 2013 a gente avalia estas alternativas. Se não conseguirmos o Maracanã vamos ter que partir para uma solução própria. Nossa prioridade é o Maracanã, isso ficou bem claro para todos os empresários que surgiram aqui apresentando projetos para construção de estádio.
O projeto de Guaratiba, inclusive, deste grupo, já nos apresentou outras localizações desde que nos procurou pela primeira vez, há mais de 3 anos. E não é o único grupo. Há outros grupos desenvolvendo projetos, em diversas áreas. Se o Maracanã se tornar inviável nós vamos partir para uma solução alternativa, que não necessariamente é esta também. Agora, eu considero uma insanidade levar para o Conselho Deliberativo do Flamengo uma solução que não está nem sendo considerada prioritária no momento. Qualquer solução que vier a ser esposada pela direção do Flamengo vai ter que ser levada aos Conselhos. Seja um estádio em Guaratiba, Vargem Grande, na Baixada ou na avenida Brasil, onde for. Logo que nós tivermos a solução escolhido é claro que vamos levar aos Poderes do Flamengo.
Sabemos bem como é a relação Flamengo e FFERJ. Agora ela se propõe a ser também um ator nas negociações para a administração do Maracanã. Como os caminhos entre FFERJ e Flamengo se cruzarão daqui pra frente, enquanto o senhor for o Presidente e sua gestão totalmente desalinhada com a política da federação de futebol do Rio?
Exatamente. Porque o Flamengo tem princípios e valores totalmente distintos daqueles da FFERJ. Então eu acho muito difícil qualquer tipo de entendimento e participações em projetos comuns nem pensar. Se a FFERJ quer ser um ator importante aí no assunto do Maracanã, dessa peça o Flamengo não participa. Nós não vamos contracenar com a FFERJ no Maracanã nem em nenhum outro projeto. Nós somos filiados a FFERJ porque somos obrigados. Não existe nenhum interlocução saudável. Nós temos que seguir o estatuto e somos obrigados a tudo aquilo que o estatuto draconiano deles nos impõe. Agora, ação voluntária chance zero.
Com relação ao Campeonato Carioca? Temos aí a negociação de direitos de arena.
Efetivamente esse contrato atual, negociado pela federação, não estará em vigor ano que vem. Para 2017 não vamos assinar nenhum contrato que seja lesivo aos interesses do Flamengo. Sejam estes econômicos e financeiros, sejam os nossos princípios e valores. Eu acho que essa é uma oportunidade que nós temos para contornar uma série de situações relativas à transparência das contas da federação; os trânsitos dos recursos e uma série de situações que foram publicamente explicitadas no site do Flamengo por ocasião da eleição dessa diretoria da FFERJ, por ocasião daquele conselho arbitral que o Flamengo foi agredido e ofendido e mais recentemente também quando se iniciou um processo de discussão da renovação dos direitos de transmissão. O Flamengo até assinou uma carta dizendo que se interessava pela renovação desde que atendidas todas aquelas ressalvas e contrapartidas. Estamos nesse impasse. Se outros clubes quiserem assinar nós não podemos impedir.
Existe já um entendimento do Flamengo com a Globo? Até em termos de valores mesmo. Já existe uma cifra acertada entre as partes?
A Globo é uma parceira histórica do Flamengo. Talvez seja nossa principal parceira comercial. A gente tem uma relação muito boa com a Globo que é uma empresa que tem e defende princípios e valores éticos compatíveis com a importância que ela dentro da sociedade brasileira. Por isso nós entendemos que dificilmente ela vai se curvar a qualquer tipo de interesse subalterno.
Com relação ao contrato do ano que vem eu diria que não está adiantado. Nós vamos aguardar para que as condições para que a gente tenha uma justa recompensa pela importância do Flamengo e também pela adesão a um conjunto de princípios e valores que para nós são absolutamente e fundamentalmente indispensáveis e inegociáveis. Eu tenho certeza que a Globo vai entender.
Flamengo entende que precisa aumentar sua cota no Estadual? Existe algum estudo que demonstre que o Clube mereça um aumento de certa porcentagem, por exemplo, e em relação ao valor recebido em 2016? Valor este que a FFERJ não repassou em totalidade, aumentando a premiação da competição com uma diminuição arbitrária da nossa cota?
Pois é. Essa é uma das questões. A partir do momento em que se assina um contrato temos que ter assegurado aquele fluxo de recurso durante um prazo de validade do contrato. Não pode de repente um conselho arbitral chegar e decidir que vai tirar a cota do Flamengo e dar aí pro Piscinão de Ramos. Nós não podemos aceitar isso.
Eu não vou adiantar aqui os valores postulando porque não cabe num processo de negociação. A torcida claro que entende que isso deve ser mantido em reserva. Entretanto, ela pode ficar tranquila de que os seus interesses mais elevados estarão sempre sendo defendidos com raça, amor e paixão.
Caiu muito mal a sua chefia à delegação brasileira na Copa América Centenário. Esse aceite não foi bem visto em setores da torcida, no próprio ambiente interno do Clube, associados e grupos políticos aliados que, de certa forma se viram traídos. Eu digo isso de conversar com vários sócios. O problema foi que o discurso era totalmente contrário à CBF e de uma hora pra outra o senhor aceita ser um representante da entidade.
Eu não vejo problema nenhum nisso. Já expliquei isso por escrito, tá no nosso site.
Pra começar: não existe a menor possibilidade de se fazer comparação entra FFERJ e CBF. E eu também não posso me pautar pelo meu prestígio pessoal de curto prazo. Eu tenho que agir pelos interesses do Flamengo. Eu entendo que existe um processo de mudança na CBF. É um processo sério que está levando aí à mudanças nas normas de licenciamento dos clubes, que está levando a um aumento na transparência. Está sendo implantado um sistema de governança corporativa pela Ernst & Young, que é uma das maiores empresas de consultoria do mundo, que tem credibilidade.
Existe um lado modernizante na CBF que de certa maneira conflita com um lado retrógrado, aquele vinculado às federações. Então, você tem, digamos assim, a CBF do bem e a CBF atrasada. Eu acho que tudo que o Flamengo puder fazer para dar força a esse processo de modernização dentro da entidade, seja através da minha presença lá com a delegação da Seleção, seja através da participação nos grupos de trabalho da agenda de mudança da CBF. Isso não é noticiado, mas o Flamengo participa de todos os grupos. Está dando opinião e participando de todos os grupos de trabalho.
A gente entende que isso daí atende aos mais elevados interesses do Flamengo. É claro que existem órgãos de imprensa, setores que preferem retratar a questão de uma maneira maniqueísta e dizer que então a CBF não é aquilo que a gente imagina então não podemos ter nenhum tipo de contato. Eu discordo disso. Até entendo que para o meu prestígio pessoal seria melhor eu ter recusado o convite, ter negado a participação dos rubro-negros nos grupos de trabalho, mas eu não estou preocupado com meu prestígio pessoal de curto prazo. Eu tenho certeza que eu estou fazendo o melhor para o Flamengo e o tempo vai dizer. Se as pessoas vierem a compreender no futuro, ótimo. Pelo menos eu estou com a consciência tranquila de que estou agindo no interesse exclusivo do Flamengo.
Eu entendi que existe uma CBF que quer caminhar para frente e outra conservadora, que nos trouxe ao futebol 7 a 1. Porém, não é de certa forma contraditório buscar melhora via CBF? E aí eu volto pra antiga discussão sobre a formação de uma liga de clubes. Essa energia gasta tentando melhorar a CBF não é alimentar o vilão fragilizado ao invés de aproveitar o momento para organizar o futebol brasileiro sobre uma nova e revolucionária ótica?
Mas que Liga é essa? Não existe nenhuma Liga. Vamos pensar: poderia ter uma Liga Nacional de Clubes, que fosse bem administrada e tal… O problema é que não existem condições políticas hoje de se criar uma Liga para administrar o futebol brasileiro como um todo. E ainda que se criasse: você confia plenamente nos administradores dos clubes brasileiros? Tem alguns que são ótimos. Pessoas éticas e bem-intencionadas. Outros são piores que a FFERJ e de qualquer pessoa mais retrógrada que tenha na CBF! Eu não preciso nem citar nomes.
Se tivéssemos uma alternativa concreta que pudesse embarcar imediatamente, tudo bem. Não há. Então hoje o Flamengo está participando… O time joga quarta e domingo. Não podemos ser irresponsáveis ao ponto de romper com tudo, vamos nos desfiliar e vamos reconstruir o futebol brasileiro do zero. Esse processo não existe. O que nós temos hoje é a possibilidade de reunir os clubes bem intencionados e bem geridos como no caso dos clubes da Primeira Liga, que eu acho que é um embrião de alguma coisa muito bonita que pode ser feita pra frente, todavia um processo a longo prazo. E temos a possibilidade, eu diria até obrigação, de interferir para que a CBF melhore. Para que o processo de mudança da CBF se confirme e para que ele não seja obstado pelas forças retrógradas que existem lá dentro ainda. Acho que essa é uma responsabilidade do Flamengo e dos outros clubes que estão com a gente nessa história.
É muito fácil falar que a gente deve fazer a revolução, não é? E aí, quando chegar domingo contra o Coritiba a gente não entra em campo, faz um protesto? Eu acho isso muito bonito pra quem está com o microfone na mão e sem responsabilidade nenhuma. Eu entendo que a gente tem que perseguir os dois caminhos.
E como são esses grupos de trabalho na CBF? Quem está lá do Flamengo?
A CBF tem vários Grupos de Trabalho dentro daquilo que ela chama de Agenda de Mudanças. Tem grupo que estuda o estatuto da confederação, que depois será replicado para as federações. Há o grupo que estuda o código de ética da CBF. Tem um grupo que cuida só de transparência, outro é focado no regulamento do licenciamento dos clubes, mais um que se debruça sobre o calendário do futebol no Brasil. O Flamengo entende que é importante a nossa participação para que a gente possa tentar contribuir para que as coisas melhorem. Ano passado entregamos uma proposta de controle externo das arbitragens que é um ponto que precisa melhorar não só aqui no país. Entregamos uma proposta concreta e toda vez que eu vou lá reclamar de arbitragens — e não são poucas porque estamos sendo muito prejudicados — eu lembro da nossa proposta. Então o Flamengo pode dizer que não está reclamando da boca pra fora. Nós fizemos uma proposta que eu tenho certeza que se implantada vai mudar a qualidade da nossa arbitragem. Estamos contribuindo com propostas com princípio, meio e fim.
Temos representantes em todos os Grupos de Trabalho. Pessoas muito qualificadas, algumas bastante conhecidas. Uns fazem parte da administração do Flamengo e outros são de grupos de apoio político nosso. A CBF jamais vai poder reclamar que o Flamengo ataca determinado ponto sem estar contribuindo com uma postura propositiva e concreta.
Outros clubes também enxergam essa Agenda de Mudanças como o Flamengo?
Alguns clubes têm representantes. Mas nenhum atua tão amplamente como o Flamengo.
O senhor lutou muito pela aprovação do Profut. Com a indefinição do preenchimento de cargos na APFut (Autoridade Pública do Futebol), acredita que será mais uma lei burlada no Brasil?
Na realidade a lei existe e se ela existe deve ser cumprida. Se tem alguém que não está cumprindo, mais cedo ou mais tarde, será penalizado por isso. APFut efetivamente ainda não foi implantada como deveria por conta de todo esse problema de transição governamental mas pelo menos a gente sabe que os membros da APFut que foram indicados pela sociedade civil — clubes, jogadores etc — foram mantidos. Estamos aguardando a designação do Presidente, dos representantes dos ministérios e, principalmente, do corpo técnico que vai ter que botar a mão na massa e analisar as contas dos clubes. Quem não está pagando as prestações do Profut tá sendo, certamente, descoberto pela Receita Federal. Se vier a atrasar três prestações perde o direito ao parcelamento como um todo, a dívida vence e vai sofrer as punição de cair de divisão. A gente deve cobrar e não foi um trabalho perdido, muito pelo contrário.
Tem alguma coisa definida para a pré-temporada de 2017? Ir para redutos rubro-negros no Brasil ou internacionalizar a marca?
Está sendo avaliado pelo nosso Departamento de Futebol. A solução escolhida será adotada por questões técnicas, o que for melhor para o desenvolvimento técnico do time. A questão financeira também será levada em consideração. Por enquanto não tem nada de concreto.
Como vai ser a segunda edição da Primeira Liga? A pergunta tem relação direta com a forma que o Flamengo vai querer encarar o Estadual de 2017. Este ano foi anunciado que o Fla daria total foco à Primeira Liga e deixaria o Estadual para testes no elenco, rodar jogadores da Base. Foi até anunciado publicamente que o clube jogaria só com os reservas a maior parte do torneio organizado pela FFERJ em contraposição ao novo torneio, que seria privilegiado. Na prática o que aconteceu foi totalmente diferente. Muricy cansou os jogadores no Estadual e entrou com vários reservas na semifinal da Primeira Liga. Emendando nisso tudo queria saber se na próxima temporada o elenco será usado com mais elasticidade no Estadual dessa vez.
Vamos lá. Em 2016 o que aconteceu foi o seguinte: o Flamengo tinha anunciado que, por conta da briga com a FFERJ, iria disputar o Campeonato Carioca com um time alternativo. E isso tinha sido avisado à Globo, detentora dos direitos de transmissão. Houve uma mudança na direção da Globo e eles, que estavam até então concordando com a nossa pretensão, resolveram exigir que nós disputássemos com o time principal. Como o Flamengo respeita os contratos, ainda que isso tivesse sido avisado em cima da hora e que acabou trazendo prejuízos pois contratamos jogadores que acabaram não sendo utilizados, resolvemos respeitar. Afinal de contas, a Globo é uma grande parceira nossa e nós entendemos que não houve nenhum tipo de maldade e simplesmente uma mudança de orientação lá dentro. Por conta disso nós disputamos o Carioca com nosso time principal.
Com relação à Primeira Liga, nós não disputamos com reservas não…
Na semifinal entramos com seis reservas, Presidente.
Jogamos com o que a Comissão Técnica entendeu que era o melhor para jogar naquele dia. Inclusive, se você lembrar, jogamos o primeiro tempo com esses seis reservas e dominamos o time do Atlético-PR e fizemos um dos melhores tempos até então. No segundo tempo entraram três dos titulares e nós acabamos perdendo o jogo. Um elenco como o do Flamengo não tem 11 titulares e 11 reservas ou mais, nós temos um conjunto de jogadores que podem ser escolhidos para compôr o time titular a cada jogo. Naquela ocasião o Muricy entendeu que os 11 melhores eram aqueles que jogaram e efetivamente jogaram bem o primeiro tempo.
O que tem que ficar claro aqui é que aquela escalação não foi uma incoerência. E não teve nada a ver com qualquer tipo de orientação política ou peso de uma competição.
Existiam indicações de que alguns jogadores podiam estourar. Coincidentemente os exames, que são feitos como parte da preparação para qualquer jogo, acusaram muitos jogadores com um quadro que poderia levar a lesões musculares. Poderia acontecer em qualquer jogo e aí coube ao técnico não arriscar.
A grande questão que ficou, avaliando depois, é que não tinha necessidade do Flamengo anunciar para a Globo que ia jogar com os reservas. Era só entrar com o time que quisesse e pronto, não acha?
Nós anunciamos a utilização dos reservas como uma forma de protestar contra o campeonato organizado pela FFERJ. Para a imprensa e os torcedores ficarem conscientes que nós estávamos priorizando outras competições em relação ao Campeonato Carioca. Antes falamos com a Globo e ela compreendeu. Depois houve a mudança da diretoria da empresa, que entendeu diferente e nos pediu para disputar com os titulares, que todos sabiam quem eram. Em respeito aos nossos parceiros comerciais a atendemos.
Nesta sexta-feira (29/7) será publicado mais um balancete. Eu queria conversar sobre a austeridade financeira, a vinda do Diego. Em 2015 o Futebol consumiu apenas 41% das receitas totais, o Profut estipula um teto de 70%, ou seja, muito abaixo. Este ano o elenco é bem mais caro. No balanço financeiro de 2016 ainda ficaremos abaixo de 70%, dando margem para mais volume de investimento no time da próxima temporada?
Vamos ficar bem abaixo ainda. O balancete do Flamengo é publicado trimestralmente e é uma peça que todo rubro-negro pode analisar já que estão todos disponíveis no site oficial, da forma mais transparente possível. O que a gente quer é que essa transparência seja estendida também para as outras entidades. Eu gostaria muito de pegar o balancete da federação do Rio, abrir aquela conta-corrente deles e ver pra onde vai o dinheiro da FFERJ. Quem é que dá o dinheiro para a FFERJ todo mundo sabe que é o Flamengo, a nossa torcida. Quem é que usa e de que maneira usa é que eu gostaria de saber.
O nosso balancete estará amanhã (29/7) publicado. Qualquer um pode abrir, ler, analisar, tecer considerações, fazer comparações com outros clubes, como acontece com o mundo empresarial de uma maneira geral.
Quanto ao processo de responsabilidade, isso aí é imutável: nunca mais vai acabar. É uma política que veio pra ficar. É claro que à medida que nossas finanças vão melhorando — é isso é uma consequência da competência e da responsabilidade na administração — o clube vai se permitindo fazer investimentos que até então não poderia fazer. Sem nunca se afastar da política de responsabilidade.
Eu sei que isso gera ciúme em pessoas que se acostumaram em ver o Flamengo fragilizado financeiramente. De repente começam a ver que a situação está mudando e aí vão para a imprensa, pegam o microfone e dizem que acabou a política de responsabilidade. Isso é uma grande idiotice. A política de responsabilidade do Flamengo existe. Simplesmente nós estamos melhorando. Estamos colhendo os frutos daquilo que a gente plantou.
A torcida pode esperar um outro craque de nível elevado?
Neste ano agora é muito difícil. Se a comissão técnica achar necessário e encontrarmos uma oportunidade, pode até ser. Para os próximos anos a torcida pode sempre esperar que nós vamos trabalhar para ter o melhor elenco possível. Terminaram todas as dificuldades financeiras do Flamengo? Não. Elas vão continuar por algum tempo. Em comparação com outros clubes brasileiros nós estamos bem melhores. Nos próximos anos, dificilmente um outro clube terá nossa capacidade de investimentos.
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Leia as outras entrevistas da série Política Rubro-Negra:
Política Rubro-Negra #1
César Maia fala sobre o Maracanã e estádio próprio na Gávea
Política Rubro-Negra #2
Deputado Federal Otávio Leite fala sobre Profut, Maracanã e Flamengobit.ly/1SWwGTT
Política Rubro-Negra #3
Alexandre Wrobel – VP de Patrimônio fala sobre Estádio, CT, Arena Multiuso e muito mais
Política Rubro-Negra #5
Vice-presidente de Esportes Olímpicos Alexandre Póvoa
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