Até setembro de 1978 a Federação de Futebol do Rio de Janeiro não existia. Ela foi o fruto de uma fusão entre a Federação Carioca de Futebol e da Federação Fluminense de Desportos, consequência de outra fusão, esta entre o estado da Guanabara e o Rio de Janeiro.
Natural que a forte Federação Carioca de Futebol herdasse a presidência. Octávio Pinto de Guimarães foi o primeiro dos três. Em 1985 assume Eduardo Vianna, o famoso Caixa D’água. 21 anos depois assume seu pupilo Rubens Lopes, que já perdura por longuíssimos quase dez anos.
O primeiro senhor da Casa-grande teve sua gestão marcada por campeonatos confusos, porém Estaduais eram ainda grandes campeonatos e não sofriam o esvaziamento de hoje, com pequenos clubes que mal conseguem se manter como clubes sociais, sem categorias de base fortes. O Flamengo vivia sua era de ouro, Fluminense e Vasco tiveram bons esquadrões e o futebol do Rio era forte, com o Maracanã sendo o principal fator de arrecadação, um estádio gigantesco e barato. Otavinho Piteira, como foi apelidado, era torcedor do Botafogo e talvez por isso desse o valor necessário aos grandes clubes do Rio, que em sua visão, precisavam continuar sendo grandes.
Octávio virou presidente da CBF após o golpe de Nabi Abi Chedid no início de 86, e passou para a história como a marionete dos interesses paulistas. De fato quem reinava era seu vice golpista. Em 86 decretou que a CBF não teria condições de organizar o Brasileiro de 87. Os clubes se uniram. Precisavam do campeonato, porque, afinal, quem precisa pagar todas as contas são eles. Nascia a Copa União de 87. Um sucesso que a CBF, do ex-presidente da FERJ e seus aliados — leia-se clubes pequenos que ficaram de fora da competição — não poderiam deixar na mão do Clube dos 13, uma Liga de clubes. Se meteu na história – filho bonito todos querem -, e bagunçou tudo.
Enquanto isso, na FERJ, Eduardo Vianna, torcedor do Americano, começa a dar suas cartas. Sempre tutelado por mais de 36 ligas suspeitas de nem existirem na prática. Durante seus vinte anos de poder, protagonizou episódios que apenas jogavam o nome do futebol carioca cada vez mais na lama. Em 2004, foi afastado da federação sob acusação de evasão de renda da bilheteria do Maracanã. Voltou. Afastado novamente no ano seguinte, dessa vez por não cumprimento do Estatuto do Torcedor, e de novo retornou ao poder.
Acusado de estelionato, formação de quadrilha, fraude processual, falsidade ideológica e desvio de quase um milhão de reais da venda de ingressos em 2003, com emissão de notas fiscais fraudulentas. As acusações formaram a ação da 7ª Vara Empresarial, processo de número 2004.001.057730-7 por infrações ao Estatuto do Torcedor. Em 2012 o ex-árbitro José Roberto Wright revela que Eurico Miranda e Caixa D’água manipulavam sorteios de árbitros.
Em 2006, ainda presidente em exercício, apesar das dezenas de acusações e afastamentos, sente-se mal durante um arbitral. Morre no hospital depois de quatro paradas cardíacas o segundo Senhor da Casa-grande, aos 67 anos.
Rubens Lopes sentira o gostinho do Poder durante as diversas licenças forçadas de Eduardo Vianna ao longo da turbulenta década de 2000 . Vice-geral da entidade, foi assumindo aos poucos, picotando o último mandato de Vianna. Declarava-se opositor do presidente, estratégia inteligente para desassociar seu nome da dúzia de inquéritos e acusações sofridas pela entidade. Cada vez mais fortalecido com novas alianças, que viam o futuro da FERJ nas mãos de outro mandatário, com mais saúde e menos desgaste na mídia. Rubinho, ex-presidente do Bangu, virou o homem forte do futebol carioca pelo enfraquecimento de Vianna.
Assim, tamanha era a vergonha do povo carioca com a figura nefasta de Caixa D’água, que muitos dos jornais noticiavam uma nova era no futebol do Rio, com a chegada de alguém que aparentemente não era da laia do antigo gestor.
Oposição que não foi transportada como antagonismo de atos e condução do poder no futebol do Rio. Ao longo dos anos, ficou muito perceptível que a velha fórmula de manutenção de poder se mantinha intacta e ainda por cima aditivada.
As intenções de Rubens Lopes já tinham se mostrado contra o Flamengo no início do Carioca de 2005, quando exercia como presidente interino.
Em 23 de janeiro daquele ano, Flávio Pereira, responsável pela fiscalização de arrecadação de bilheteria do Flamengo, revelou que três outros funcionários do clube foram impedidos por Rubens Lopes de fiscalizar, conferirem os ingressos e a distribuição feita aos bilheteiros, assim como de acompanharem o trabalho na sala de arrecadação. Esse é um trabalho cujo direito é conferido pelo Estatuto do Torcedor.
Flávio Pereira prestou depoimento à Delegacia de Repressão às Ações Criminosas e de Inquéritos Especiais (Draco/IE).
“Ciente dos fatos, determinei que eles se retirassem do local e aguardassem a minha chegada. Quando cheguei ao Maracanã, dirigi-me ao presidente da Ferj em companhia do secretário de Estado Francisco de Carvalho.
Somente aí Rubens Lopes decidiu voltar atrás, autorizando todos os membros de minha equipe a procederem seu trabalho na sala de arrecadação.
Isso ocorreu por volta das 13h30min, quando os ingressos já haviam sido distribuídos sem a presença da fiscalização do Flamengo. O Flamengo foi impedido de acompanhar a prestação de contas feitas por seus próprios bilheteiros, uma vez que eles foram obrigados a apresentar suas contas diretamente à FERJ, sem a presença da fiscalização do clube. Sobre a disponibilização dos ingressos ao público, na chamada venda antecipada, desejo consignar que a FERJ violou o Estatuto do Torcedor, uma vez que os ingressos só chegaram às bilheterias algumas horas antes do jogo. (…) O Flamengo contratou a BWA para confecção dos ingressos de seu jogo com o Olaria. Só que a Federação impediu que fizéssemos a comercialização dos bilhetes, fato comprovado por documento assinado pelo próprio presidente da FERJ, cuja cópia foi juntada no presente feito. A Federação descumpriu decisão judicial da 13ª Vara Cível, que determinava que os equipamentos da empresa BWA não deveriam ser retirados do Maracanã. A Federação desobedeceu a referida decisão judicial, alterando os mecanismos internos das catracas de acesso ao estádio. Tal fato resultou em uma fraude na qual o Flamengo se sente profundamente lesado, uma vez que ingressos do jogo de ontem, Botafogo x América, foram utilizados para acessar o jogo de hoje (Flamengo x Olaria).”
Assim começa a Era Rubinho na FERJ e a relação do terceiro presidente da entidade com o Flamengo. Com o maior clube do Brasil.