O ideal seria estar aqui falando sobre futebol. Discutindo a partida de hoje, uma derrota até injusta de um Flamengo que, apesar do time pra lá de misto, se apresentou de maneira muito digna contra o Corinthians. Elogiar o golaço de Matheus França, falar da torcida que, mesmo na chuva foi até o Maracanã fazer uma festa e abraçar a equipe que acabou de conquistar sua terceira Libertadores e cravar ainda mais o seu nome na história rubro-negra.
Mas se no sábado, o Flamengo conquistou a América, já no domingo, a diretora de Responsabilidade Social do clube, que curiosamente acumula também o cargo de esposa do presidente Rodolfo Landim, decidiu usar seu perfil pessoal numa rede social para reclamar do resultado da eleição presidencial, atacando a população nordestina, afirmando que o sudeste é onde “se trabalha” e o nordeste “onde se passa férias”, e que o resto do brasil seria “o gado” e o nordeste “o carrapato”.
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O que já seria absurdo pelo simples preconceito apresentado na fala, que ignora a importância histórica, econômica da região onde não apenas foi fundada a primeira capital do Brasil como é gerado 15% do seu PIB, e se mostra cada dia mais uma referência em educação, com o Ceará tendo 87 escolas públicas entre as 100 melhores do país e a região nordeste como um todo tendo 10 dos 22 estudantes que tiraram nota máxima no último Enem. Isso sem nem entrar em aspectos culturais como música, literatura, pintura, culinária etc.
Mas não bastando apenas a estupidez inerente ao preconceito contra uma região tão importante do país, esse tipo de atitude mostra também um absurdo desconhecimento da importância e do valor do nordeste na história rubro-negra. Uma região onde 1 em cada 4 torcedores é flamenguista, que já nos deu nomes como Junior, Ricardo Rocha, Obina, Dida, Nunes, Ronaldo Angelim, Aldair e Hernane Brocador. Ou seja, o nordeste não apenas ajudou o Flamengo a construir sua história dentro de campo como também é essencial para que sejamos a maior torcida do mundo fora dele.
E como se isso fosse pouco, ainda temos o absurdo dessa postagem ter sido feita exatamente pela pessoa responsável pela área que envolve as relações do Flamengo enquanto clube com a sociedade ao seu redor, e ter um profissional de responsabilidade social preconceituoso equivale, a grosso modo, a ter um goleiro que se recusa a usar as mãos ou ter um zagueiro que tem paixão por fazer gol contra. É uma postura que desafia a própria premissa da atividade.
“Ah, mas é a opinião pessoal dela, no perfil pessoal dela”. Em primeiro lugar, é preciso que se entenda, de uma vez por todas, que preconceito não é opinião. Achar um tipo de salgadinho melhor do que outro é uma opinião, ter um sabor de pizza preferido é uma opinião.
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Achar que alguém é inferior por cor, religião, gênero, orientação sexual ou local onde nasceu, não é uma opinião, é um crime. E o Flamengo, mais do que qualquer outro clube, por ter uma torcida gigantesca e composta por pessoas dos mais variados grupos e origens, deveria levar isso a sério.
Então é preciso que ações sejam tomadas. Primeiro para afastar de uma função importante como essa uma pessoa com esse tipo de pensamento, depois para investigar em que pé anda o nepotismo num clube em que o presidente apenas nomeia a própria esposa para um cargo, mas principalmente para um pedido de desculpas oficial do clube para essa nação nordestina que existe dentro da nação rubro-negra.
O nordeste é parte do DNA rubro-negro e qualquer pessoa que entende um pouco da história do Brasil e da história do Flamengo deveria saber que isso é, acima de tudo, motivo de orgulho.
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