Todo rubro-negro que estava vivo e assistindo futebol no ano de 2019 é, em algum nível, viúva de Jorge Jesus. Você pode não querer que o velho volte, pode compreender perfeitamente que a fase dele passou. Pode acreditar de verdade que um raio não vai cair duas vezes no mesmo lugar e que um grito de “TÁ MAL, CEBOLINHA” não iria resolver os nossos problemas.
Ainda assim, mesmo se você não sentir falta de Jorge Jesus, pessoa física, com certeza sente falta do que o Flamengo dele te fazia sentir. A confiança que só um time endiabrado pode causar, a alegria que só ver o fino da bola sendo praticado proporciona. A tranquilidade quase sobrenatural de saber que o Flamengo vai vencer no final, se não está vencendo, é porque não chegamos no final ainda.
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E tal qual um dependente químico de filme, nós passamos os últimos dois ou três anos tentando ter de novo esse “barato”. Tentando viver de novo a onda de um Flamengo campeão e dominante. Tentando experimentar novamente a brisa de torcer para um time que quando faz um quer fazer dois. Quando faz dois quer fazer três, quando faz três busca o quarto e quando já fez quatro está a procura do “cincum”.
Obviamente não encontramos. Por uma soma de fatores que vão desde incompetência da diretoria até deficiências do elenco, passando por treinadores absolutamente equivocados, o Flamengo dos últimos anos passou longe de encantar como o Flamengo de Jorge Jesus e, quando parecia talvez chegar mais ou menos perto, a diretoria decidiu trocar de técnico, para nem deixar ninguém sonhar.
Titismo, a antítese de Jorge Jesus
Eis que após todas essas tentativas de encontrar um novo Jorge Jesus, surge na Gávea um homem que não poderia ser mais diferente do lusitano. Se JJ era direto e fanfarrão, o gaúcho é sério e especialista na retórica circular, sendo capaz de falar por dez minutos sem dizer nada. Se o português surgiu no Brasil como um ilustre desconhecido, Tite chega como oito anos de Seleção Brasileira nas costas.
E na vitória deste domingo (22), por 1×0 sobre o Vasco, recebemos mais uma lição prática de como opera o titismo. Primeiro pela solidez defensiva, com mais uma partida sem tomar gols e mais uma grande atuação do goleiro Agustín Rossi, que dessa vez ofereceu toda a segurança sem nada das batidas de roupa. Cada vez mais titular em uma defesa que cada vez parece mais organizada, com uma dupla de zaga recuperando a boa fase e até mesmo Thiago Maia fazendo boa partida.
Depois pela utilização do famigerado conceito de “saber sofrer”, que nunca foi tão presente no léxico rubro-negro. O Flamengo em diversos momentos do jogo foi sim muito pressionado pelo adversário, e correu, sim, riscos. Mas não cedeu ao desespero, tentou continuar buscando seu jogo, e foi conseguindo o que era necessário para vencer.
Sem exuberância, mas com eficiência
E talvez esse seja o principal traço do titismo, da adenoração esportiva: o time não está em busca do show, não vai praticar um futebol exuberante, mas como já mostrou em trabalhos anteriores, e vem acontecendo até agora, ele vence.
Então talvez seja finalmente ele, Tite, o homem que vai conseguir nos fazer pensar um pouco menos no Flamengo de Jorge Jesus. Não por praticar o mesmo tipo de futebol, não por causar as mesmas sensações que aquele time causava, mas por um motivo muito mais simples: ninguém pensa muito no passado quando, no presente, está conseguindo vencer.
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