Apontado como pivô da demissão do gerente de futebol, Paulo Pelaipe, do Flamengo e da crise detonada nos bastidores do clube após a saída do dirigente, o vice-presidente de Relações Externas, Luiz Eduardo Baptista, o Bap, falou à Fox Sports sobre o caso. Ele garantiu que não teve nada a ver com a decisão e o que definiu a saída de Pelaipe foi “o que aconteceu em Doha” – uma referência à discussão sobre a divisão dos prêmios pelas conquistas do Brasileiro e da Libertadores, tornada pública no dia da final do Mundial contra o Liverpool.Leia os principais trechos da entrevista:
“Decisão foi do presidente Landim”
Não existiu uma influência minha na saída do Paulo Pelaipe do Flamengo. Eu sabia do problema que nós estávamos vivendo, da razão, mas a decisão final foi do presidente Rodolfo Landim. Ele tomou a decisão, ele chamou para si a responsabilidade, a ele que coube cuidar de todo o processo. Ele já tinha um desconforto de algum tempo em relação à estrutura do futebol do Flamengo, ele achava que eventualmente ela estaria pesada e carregada com a chegada do Jorge e das pessoas que trabalhavam com ele. Ele achava que poderia estar havendo uma duplicidade de papéis durante um determinado momento. Isso foi uma coisa que foi sendo contornada com o tempo, mas no final do ano agora, ele entendeu que por uma ocorrência específica que aconteceu não fazia sentido a renovação do contrato do Paulo Pelaipe. Então voltando na sua pergunta, ainda que eu tenha concordado com o presidente, eu não tive nada a ver com a saída do Paulo Pelaipe.
“Quem trouxe o Pelaipe de volta fui eu”
Eu concordei, porque era irrefutável o argumento dele, era inquestionável. Eu acho importante que se diga que eu trouxe o Pelaipe pro Flamengo em 2012, e trouxe de volta em 2019. Foi um processo de convencimento do presidente Rodolfo Landim de que o Pelaipe deveria voltar ainda que num papel um pouco diferente do que ele tinha em 2013. Em que pese nós termos assuntos que a gente precisa discutir no dia a dia e que a gente pode discordar no Flamengo, eu não tive influência na decisão da demissão do Paulo Pelaipe. Isso posto, eu concordo com a decisão do presidente Landim pelas razões que ele colocou e que eu entendo que ele tinha razão. Então, eu não tive nada a ver com a saída do Paulo Pelaipe.
“O que decidiu essa situação foi o que aconteceu em Doha”
O que eu sei, de dentro do Flamengo, e do que eu pude acompanhar, o que decidiu essa situação foi o que aconteceu em Doha. O que aconteceu em Doha foi fartamente discutido pela imprensa e não me cabe discutir assuntos internos do Flamengo. Eu vou ter que me desculpar com vocês, mas a gente não pode discutir isso abertamente. O que se caracterizou foi em Doha. Eu não vou entrar no mérito do detalhe, isso é um trabalho de vocês aí. O que aconteceu foi um entendimento de que no papel que ele tinha ele não podia ter conduzido uma determinada situação como ele conduziu. É uma decisão do presidente. O presidente entendeu que ali tinha um problema e tomou a decisão que tomou.
Surpresa que Braz não soubesse de demissão
O que aconteceu em Doha internamente foi razoavelmente intenso e importante. Então talvez o que o Marcos esteja querendo dizer é que ele não sabia especificamente que isso aconteceria naquele momento. Mas que tinha havido um grandessíssimo desconforto ficou muito claro e eu não tenho a menor dúvida. Inclusive, o Marcos participou de uma reunião que eu não participei. Estavam numa reunião algumas pessoas do núcleo do futebol, o presidente Landim. Eu não participei dessa reunião, fiquei sabendo o resultado duas ou três horas depois. Surpreende que quem tivesse naquela reunião não tivesse percebido o desconforto que a situação tinha causado. Eu acho muito improvável que quem estivesse lá, o alto comando do Flamengo e do futebol, não tivesse percebido o desconforto que foi gerado. Agora, eu não posso falar pelos outros.
Jantar de Pelaipe com Jesus
Eu não sei se alguém do Flamengo tinha [conhecimento de que Pelaipe ia a Portugal jantar com Jorge Jesus], mas eu acho que esse é um detalhe nas férias dos profissionais do futebol que como você tem essas peladas que jogadores se encontram, eventualmente profissionais que trabalham no meio possam se encontrar. Talvez alguém no Flamengo soubesse. Eu não tinha conhecimento disso, como não tenho conhecimento do dia a dia, dos detalhes, da vida de A ou de B no departamento do futebol. Eu não sabia disso, estou ouvindo isso agora.
Relação com Marcos Braz
Eu tenho uma ótima relação com o Marcos Braz. Ela não é uma relação de concordar em absolutamente todas as coisas, mas eu acho importante que se diga uma coisa. Ao longo do processo de conhecimento de Flamengo que eu me coloquei nos últimos 7, 8 anos é que o Flamengo é muito grande pra que ele seja exclusivo, você tem que ser inclusivo em algumas coisas. E eu advoguei a aproximação junto ao Marcos Braz e tive um papel importante para que o Marcos estivesse na posição em que ele está hoje. Quem está dentro da política do Flamengo sabe disso. Eu fui muito criticado à época por velhas raposas rubro-negras que diziam: “olha, não apoie o Marcos Braz”. E eu entendia que o Marcos Braz era uma possibilidade de se juntar com o nosso conhecimento na matemática da boa gestão, no popular, pra fazer 1+1 dar 3. Nós temos qualidades que o Marcos talvez não tivesse de forma tão pronunciada e vice-versa. Se nós pudéssemos arranjar uma forma de operar conjuntamente, 1+1 podia dar 3. E eu entendo que o conceito estava correto. Em que pese você não necessariamente concordar com tudo, o Flamengo teve um ano histórico, o seu melhor ano em 38 anos. Então em que pese uma aresta aqui ou acolá, uma outra discordância… Dentro da sua casa, você não precisa concordar com a sua mulher, com os seus filhos o tempo inteiro. É natural discordar. O que não pode ter é discórdia. E eu acho que discórdia não tem no Flamengo.
“O Flamengo tem que estar acima de todos”
Eu entendo que não [houve abalo nas relações]. Nós temos desenvolvido no Flamengo a capacidade de concordar em discordar. O Flamengo está muito mais baseado em processos, papéis e perfis do que em pessoas. Todos nós temos opiniões. Por isso que nós tentamos implementar ali processos que façam que o Flamengo seja consistente independentemente de que se quem está comandando o Flamengo é João, Pedro ou Maria. Esse processo é um processo de aprendizagem constante que a gente tem no Flamengo. Faz parte da vida, é natural, e o Flamengo vai continuar sendo grande. Nós tivemos um ano sensacional e nós não temos nenhum motivo para mexer na fórmula que está sendo vencedora. Você pode ter um ajuste aqui ou acolá, pode ter uma decisão extemporânea como essa que a gente acabou experimentando agora. Não precisamos todos concordar, mas o Flamengo tem que estar acima de tudo ou de todos, o Flamengo está acima de tudo isso.
Reação à campanha #ForaBap
Vou repetir o que eu disse ontem para o meu filho, que é um pouco mais novo, ficou incomodado com isso. Eu disse: Filho, isso é Flamengo. Quem está na chuva é para se molhar. É natural, é natural, a temperatura sobe muito rapidamente com qualquer coisa. De alfinete a foguete, as coisas vão de 0 a mil graus no Flamengo muito rapidamente. As pessoas interpretaram esse desligamento do Paulo Pelaipe, que era gerente de futebol e era peça de uma engrenagem maior, como uma interferência indevida no futebol. Não é uma interferência indevida no futebol. O presidente tem o direito de mexer em qualquer peça que ele entenda na estrutura. A hora que o presidente entender que uma peça não está correspondendo com aquilo que se deseja para o Flamengo, as mudanças vão acontecer porque o Flamengo é maior do que todos nós. Para isso nós temos um presidente lá para tomar as decisões e decidir o que é melhor para o clube. Eu lido com isso com muita tranquilidade, e queria reiterar o orgulho com aquilo que a gente construiu esse ano.
Contratação de Abel
Nenhuma decisão no futebol do Flamengo esse ano foi tomada por uma pessoa só. Não se iludam. A do Abel não foi, a do Jorge Jesus não foi, a do Pelaipe não foi, a dos nove jogadores contratados não foi uma decisão isolada de ninguém. Isso foi um trabalho de votação, de conversa, de consenso entre as pessoas que fazem esses processos acontecerem como nós idealizamos. E graças a Deus 2019 foi um ano de muito sucesso, e a gente espera em 2020 ter ainda mais sucesso do que tivemos em 2019. O Flamengo, a nossa gestão, ela se caracteriza por você ter processos, papéis e perfis, depois disso é que você tem pessoas. Nós discutimos qual seria o perfil ideal dos técnicos do Clube de Regatas do Flamengo, na ocasião que nós ganhamos as eleições, e nós tínhamos três nomes, três possibilidades. Nada no Flamengo precisa ter unanimidade para ser aprovado. Então nós tínhamos um conselho estabelecido, o conselho estabelecido avaliou as possibilidades, e o conselho chegou à conclusão, conjuntamente e coletivamente, de que a opção que nós tínhamos à época era o Abel Braga, e assim foi feito. Então, dizer que o Marcos [Braz] era contra a escolha do Abel na ocasião, isso não corresponde à verdade.
Contratação de Jesus
Eu nunca fui contra técnico estrangeiro, tanto é que em 2015 eu e Wallim fomos ao Chile tentar contratar o Sampaoli para ser técnico do Flamengo caso nós ganhássemos as eleições, o que acabou não acontecendo. Então, nós sempre fomos entusiastas, em que pesem os desafios dos técnicos estrangeiros no Brasil. Se nós fomos olhar o track record dos últimos 20 técnicos estrangeiros que passaram no Brasil, a maioria esmagadora deles deu errado. Os dois que deram certo recentemente foram justamente Jesus e Sampaoli. Então nós éramos absolutamente favoráveis. Agora, você tem que achar o técnico certo, perfil certo, que não tenha o desafio do idioma, que é o caso do Sampaoli e é o caso do Jesus. Nós fomos absolutamente entusiastas da possibilidade de ter um técnico como o Jesus no Flamengo. Não corresponde à realidade que de alguma forma eu fui contra um técnico estrangeiro.
Negociação por Michael
Quem negocia pelo Flamengo chama-se Bruno Spindel. O que eu posso dizer para vocês é que existe no Flamengo a vontade de ter um jogador com o Michael. Qual é o clube do Brasil, independente de dinheiro que não gostaria de contar com o Michael? Qualquer clube gostaria. Agora, entre você querer e você conseguir, tem uma distância. Eu espero que tenha um final feliz. Mas isso posto, o Flamengo tem processos, perfis, papéis e o Flamengo tem limites. O Flamengo não vai fazer nenhuma maluquice, nem pelo Michael nem por ninguém. Mas o Flamengo também não vai deixar de contratar um jogador como o Michael por causa de uma diferença ridícula. A discussão conceitual já foi feita no Flamengo, a financeira já foi feita, o Bruno sabe exatamente quais são os limites e as condições que ele pode alcançar pra contar com o concurso do Michael e eu, como 42 milhões de torcedores, cruzo os dedos para que dê certo e que o Michael esteja em breve vestindo a camisa do Flamengo, porque 2020 vai ser o ano mais difícil do calendário do futebol brasileiro para aqueles 5, 6 times que pretendem disputar tudo. Durante 20 ou 21 partidas quem tiver jogadores convocado para seleções vai ter muitos problemas no campeonato local. Nós temos que ter um elenco qualificado. O Michael cairia como uma luva nesse contexto.
Papel de Braz nas negociações
O Marcos Braz trabalha com ele, tem um papel fundamental na conversa com atletas, explicar como funciona o futebol do Flamengo, os princípios do clube. Uma negociação desse tipo engloba uma série de aspectos, profissionais, pessoais, psicológicos, financeiros. Do lado dos atletas também não é uma pessoa só que participa disso. Do lado do Flamengo você também tem mais de uma pessoa trabalhando. Quando eu falo que quem negocia é o Bruno é porque a pergunta que me foi feita foi do ponto de vista financeiro. Quem negocia números, condições de pagamento, salários, luvas, se você paga pra agente, se você paga diretamente pro clube, como você vai fazer essas operações, quem negocia isso é o Bruno Spindel. Mas o Marcos é uma parte importante para conversar com o atleta. Na hora da gente perguntar: o cara quer jogar no Flamengo? Ele tem espírito vencedor? Ele tem a faca nos dentes? Ele vai vir pra cá e entende que tá no hino da gente ” vencer, vencer, vencer”? Ou ele vem para cá botar o burro na sombra no Clube de Regatas do Flamengo? O Marcos tem um papel importante, tem uma rodagem nisso, a gente espera que ele diga para a gente depois: eu senti firmeza nesse atleta ou eu não senti firmeza nesse atleta. E já houve caso que ele conversou com o atleta e disse: “Olha, não vai funcionar pro que a gente espera aqui”. Então, é uma moeda que tem dois lados.
Qualificação do elenco
Nós montamos um time muito forte como time principal do Flamengo no primeiro ano de gestão. Neste segundo ano nós vamos qualificar melhor o banco da gente. O que nós pensamos o time do Flamengo é como um time de vôlei ou de basquete, um número maior de jogadores que você pode utilizar sem que o time caia de rendimento. O torcedor do Flamengo pode ter certeza que a gente trabalha todos os dias para fazer o Flamengo cada vez melhor.
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