Todos estamos cientes da briga entre Eduardo Bandeira de Mello, presidente reeleito do Flamengo, e a Federação de Futebol do Estado do Rio de Janeiro desde o início de 2015 culminando na criação de uma liga de clubes, a Primeira Liga, que criou um campeonato a ser disputado concorrentemente aos campeonatos estaduais.
A fala reiterada publicamente de que o Flamengo disputaria o Campeonato Carioca com um time B recheado de jovens da base e jogadores pouco usados na temporada anterior, reservando o time titular para a competição da Primeira Liga, provocou imensa insatisfação da federação que usou de sua autoridade para criar regras que deixem o Flamengo na popular “sinuca de bico”.
Primeiramente, a FFERJ continuará definindo os preços mínimos e máximos de ingressos, um dos fatos que causou os atritos que levaram a diretoria do Flamengo a iniciar a briga contra a federação.
Imagem retirada do RGC publicado pela FFERJ
Contudo os pontos mais polêmicos são as partes que previnem a FFERJ da tentativa de sabotagem do Flamengo e que “controlam” o clube em 2 frentes diferentes.
Imagem retirada do RGC publicado pela FFERJ
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A primeira medida se baseia no não reconhecimento do campeonato da Primeira Liga pela CBF, ou seja, o torneio seria amistoso e não teria caráter oficial, portanto se o Flamengo o disputar sem permissão da FFERJ estará infringindo o artigo acima. O dinheiro da multa será dividido conforme o destaque abaixo.
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A segunda medida é uma precaução caso a CBF por ventura oficialize o torneio da Primeira Liga e atua na limitação e condicionamento da inscrição de jogadores. Lembrando que segundo capítulo IV, artigo 34, parágrafo 5° são 28 atletas excluídos até 3 goleiros.
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O Regulamento Geral das Competições foi aprovado em Assembleia Geral no dia 04 de dezembro de 2015, na qual Flamengo e Fluminense não enviaram representação. Ou seja, o Flamengo abdicou do direito de opinar, negociar, protestar e etc.
A primeira consequência que percebo é a de que mesmo que a CBF dê o devido reconhecimento a Primeira Liga tornando-a competição oficial, o Flamengo não poderá usar como base o time de juniores já que só podem ser inscritos até 5 jogadores com menos de 21 anos, além disso, se o Flamengo estivesse disputando a Libertadores, teria que inscrever os mesmos jogadores sob pena de multa pesada por jogador que estivesse inscrito em uma competição e não na outra.
Contudo o cenário não é otimista, nada indica que a CBF reconhecerá o torneio da Primeira Liga e isso significa que o 7° artigo deverá ser a referência. O primeiro impacto é que além de perder tudo que teria a receber em forma de cota de TV, ainda repassaria isto aos outros times e, se usado como referência a colocação do campeonato, significa dar uma bela quantia a Vasco e Botafogo.
Porém a pior consequência é a proibição de ter as divisões de base disputando competições durante o ano, o que inclusive resulta em rebaixamento automático na categoria. Se o Flamengo está comprometido com a formação de seus jogadores, não pode em hipótese alguma permitir que fiquem fora de competições da FERJ e, pior, ocasionando o rebaixamento para o ano seguinte, principalmente pelo calendário nacional de competições ser bem restrito.
E para aqueles que acham que o sacrifício da base valerá a pena e que a cota de TV da Primeira Liga pode compensar, vale a pena refletir mais um pouquinho. Ter um time alternativo com somente 5 jovens significa ter pelo menos 12 jogadores a mais do que os 30 ideais de um elenco na folha de pagamento por no mínimo um semestre, sabendo que o Campeonato Carioca sem cota de TV e com jogos de público pequeno (e tende a agravar com time alternativo em campo) fechará no vermelho e que a cota de TV da Primeira Liga não será vultuosa, qual seria o impacto nas finanças do clube?
Lembrando que a proposta inicial da Primeira Liga é de que 44% do dinheiro das cotas de TV sejam divididas igualmente entre os clubes, 44% segundo pay-per-view e 12% ficariam para a premiação. E, até agora, não há direitos negociados com qualquer emissora.
A consequência do impacto nas finanças é o clube não conseguir montar um time mais forte, podendo até montar um time mais fraco que o de 2015, principalmente se não conseguir negociar os jogadores excedentes após o término do Carioca. Seria por isso que vemos nomes como Marcelo Díaz e Romero sendo considerados caros? Vamos viver de jogadores que os clubes já não querem e nem são tão baratos assim como Juan?
Será que Bandeira de Mello recuaria em sua decisão e não jogaria o torneio da Primeira Liga ou assinaria um termo de compromisso com a FFERJ se comprometendo a escalar em ambas as competições o mesmo time para evitar as punições previstas no RGC?
Em minha opinião o melhor seria um recuo estratégico, estabelecer uma retomada de diálogo com a federação enquanto se aproxima dos clubes que compõem a primeira divisão do Campeonato Carioca para costurar uma aliança que poderia ser oposição a Eurico Miranda e sua turma para ter peso para efetuar mudanças no campeonato estadual e futuramente influenciar no resultado da eleição da federação.
Regulamento Geral de Competições da FFERJ 2016
Saudações Rubro-Negras
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Nayra M. Vieira escreve no blog Flamengo em Foco, da plataforma MRN Blogs.