Flamengo parece ser o escolhido para carregar alcunhas que, sem comprovação a priori e posteriori, alimentam e retroalimentam pautas por décadas
Relutei, com todas as minhas forças e orando a São Judas Tadeu, – mesmo que reza de meio ateu (?) não dê nada, como diria Siba – escrever qualquer linha que fosse sobre perseguição da mídia ao Flamengo. E creio que este texto nem será sobre isso. De cara, não acredito numa perseguição implacável alardeada por setores da nação: Flamengo é pauta quente. Sempre foi. E isso fala muito da proporção que qualquer informação toma, quando o rubro-negro tá no jogo.
Além disso, não é difícil relembrar as patinadas e erros grotescos que o clube tem cometido em algumas situações nos últimos tempos, o que gera um resultado óbvio: pancadas, em diversas medidas e tons, para o bem ou para o mal, testando o limite da torcida, que já fora pro espaço; ora com razão, ora inominável. (O clube também acerta. Muitas ações sociais, sobretudo no contexto da pandemia, têm recebido menos “ibope” em relação aos assuntos mais barulhentos da Gávea).
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De certo que, aparentemente, toda semana tem um capítulo novo, que muitas vezes é a fina flor do requentar. A última rodada do Brasileiro nos ‘proporcionou’, especificamente o jogo do Mengão, sobretudo a atuação do VAR, regozijos em alto-falantes pela moralidade do futebol, virtude essa que parece impossível para alguns, se há a presença do Flamengo. Calma, isso foi só um lapso da minha subjetividade. Vamos lá.
Dois gols do Santos CORRETAMENTE anulados foram o estopim do microondas: “Mais uma vez o modo malvado está on!” “Salvem-se quem puder!” “O Flamengo tá na mira!!”. Muito foi debatido nas mesas de futebol dos programas esportivos. De citações burlescas de Direito a projeção de imagem na tela pra quem quiser ver, com o dizer: “Varmengo”.
Flamengo parece ser o escolhido para carregar alcunhas que, sem comprovação a priori e posteriori, alimentam e retroalimentam pautas por décadas. O espaço jornalístico não é imparcial, saibamos disso. E isso não é um equívoco em si. Somos atravessados, criamos e destruímos a partir e com a política, com o econômico e o social. Mas, veja bem, não querendo ser também o moralizador: há responsabilidades no sentido do fazer jornalístico esportivo, especialmente para se fugir ao máximo possível do clubismo.
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No rol da história, sentenciado e julgado por alguns, ganhamos Libertadores com roubo, cariocas com roubo, brasileirão com roubo, permanência na série A com roubo, ajuda de arbitragem antes do Var e agora, ajuda do Var. E, parte disso sendo pautada de maneira pueril em grandes debates do jornalismo esportivo. Calma, não é generalização.
O ponto é que há uma miríade de debates possíveis para se alavancar e aprofundar em relação a utilização da ferramenta VAR no futebol brasileiro. Há de se problematizar e propor parâmetros mais objetivos, diminuir o tempo de análise, reformular e buscar homogeneizar entendimentos, intervir menos, cobrar mais treinamento, revolucionar, quem sabe, o impedimento: 01 centímetro? Valida o gol! (sic) e mais e mais brainstorm desvairado nas parlações tv a dentro. Enfim, um direcionamento que observe e proponha o crescimento do futebol.
Mas a sina da quentura vintém atiça. A narrativa não pode deixar passar que o problema, com o Flamengo envolvido, precisa tomar o gigantismo. Isso não é errado, o clube é gigante mesmo. Mas ele não precisa assumir aquilo que não é de sua responsabilidade, o que evitaria a construção da imagem de time favorecido, pois o debate não é sobre favorecimento e prejuízo. É sobre a intervenção em ERROS de arbitragem, pela tecnologia. Daí voltamos ao parágrafo anterior.
Ainda que se levantasse o ponto da subjetividade de um árbitro em lances capitais, como quantificar e qualificar isso dizendo “se fosse eu, não marcaria”. Possivelmente, o jornalista não é árbitro. Ou pode ter um analista de arbitragem, mas que não pensa como quem está arbitrando ou no VAR, com todas as câmeras à disposição. Minha intenção não é provar o infalível. É só que a ótica da crítica tá apontando para os aspectos errados.
Óbvio, no bar, naquela resenha, entre torcidas adversárias, a tiração e o disse me disse é parte essencial e pulsa forte. Sofrem os árbitros, sofrem torcedores diversos. Porém, sem necessidade de parte da mídia assumir posturas de torcida e nem ser óleo diesel pra inflamar discussões sobre vieses distorcidos. Isso não quer dizer que ao longo da história, erros de arbitragem acabaram por ser cruciais em resultados positivos para o Flamengo. Mas não só para ele. E o debate, ao meu ver, não deveria buscar a todo momento um espantalho de 20, 30, 40 anos para justificar as disritmias de um processo de transformação. Particularmente, tenho ressalvas ao VAR. Não sou contra, mas há perigos em se criar um “nanofutebol” – pegando a ideia de Luiz Antônio Simas, grande referência para muitas dimensões da vida – onde milímetros definidos por um frame dão a dinâmica picotada de uma partida, lesando em parte nossa alegria. Também acredito que há intervenções exageradas, virando às avessas quem que comanda o jogo. Enfim, muitos pontos que devem ser colocados na roda, contra o estanque, a favor da felicidade futebolística.