“I was around
When Jesus Christ
Had his moment
Of doubt and Faith”
(Jagger & Richards in Simpathy for the Devil)
Confrades rubro-negros,
No domingo passado, no nosso encontro de toda semana, defendi aqui a aposta de que o Flamengo venceria o Emelec fora de casa por 2 a 1. Nos dias de domingo até a hora do jogo, mantive o palpite (com algumas pessoas eu até arriscava um 3 a 1), inclusive em alguns grupos de que participo no WhatsApp. É claro que houve dentre os confrades flamengos aqueles que duvidaram do meu prognóstico, e eles tinham razão.
Como?, você está se perguntando agora. Como os que duvidaram do prognóstico que acabou se revelando correto pelos pés de Vinícius Malvadeza Jr podem ter razão??
É claro que têm Razão, no sentido kantiano da palavra, quando pensamos na objetividade de uma razão especulativa, aquela que se refere ao conhecimento científico, prático, empírico. É como alguém que, diante do Cristo, diz, “Senhor, cá este homem não enxerga”. E com efeito, o cego não enxerga, isso é do conhecimento de todos, e é também parte da razão prática, onde há cognição, sentido e realidade sustentando a existência moral do ser humano. O cego, não, ele não enxerga.
No blog: Ser Flamengo, nossa única opção
Mas um gesto do Cristo descrito nas Escrituras Gregas Cristãs e eis que o cego passa a enxergar. A bênção foi concedida. Não há, no entanto, nenhum conhecimento humano que explique a visão deste novo homem. Nós simplesmente aceitamos que assim aconteceu – porque se trata da fé, “o firme fundamento das coisas que se esperam e a prova das coisas que não se vêem”, tal como no livro dos Hebreus.
Vamos transferir este raciocínio para o Flamengo: a razão prática ou mesmo a especulativa não dão sustentação para a vitória de um time que foi péssimo na estreia em casa. Também não se sustenta acreditar em vitória fora de casa deste Flamengo dirigido de forma tão confusa no futebol (basta ver a quantidade de casos mal resolvidos, como o do Viseu e essa polêmica – boba – dos dirigentes que sairão – com todo direito deles – candidatos a deputado). Como aceitar que vamos conseguir vitória com Jonas, Rodinei, René, Juan, tantos, tantos em que fica cada vez mais difícil confiar? Como esperar vitória de 2 a 1 com Everton Ribeiro no nosso time, enrolando e adiando a estréia desde ano passado?
Sim: sabemos que o cego não enxerga.
Mas, como? Como aconteceu?
Não estou aqui para fazer fanfarronices porque sabemos como são os profetas do futebol (estou em um grupo de WhatsApp que tem um deles, ao lado de vários proprietários de aquários): se acontecesse um desastre, eu disfarçaria e só tocaria no assunto caso alguém me cobrasse. É claro que seria assim.
Por isso, não estou aqui brandindo a minha previsão para jogar na cara de ninguém e nem invocando o papel de João Bidu Rubro-Negro. Muito longe disso.
Aqui eu penso em fazer uma defesa da Fé Flamenga. Definimos fé, universalmente, como sendo a aderência total, incondicional, irrefreável a uma hipótese não provada. Não há necessidade de provas, não preciso de exames de laudos médicos para comprovar que o cego curado pelo Cristo voltou a enxergar. Eu simplesmente nisso deposito a minha fé, porque tenho Confiança, o mais importante dos valores intangíveis no dia de hoje. E mais: há um paradoxo, uma caixa contida de uma outra caixa que a contém: a fé necessita de total ausência de dúvida, sendo impossível que esta aconteça caso haja qualquer resquício de interrogação. Neste conceito, inclusive, reside o Metafísico, a nossa vida além da vida, o nosso sentir e perceber o universo em nossa volta.
E à nossa volta está o Flamengo, desde sempre – e sempre estará.
Portanto, concluindo, e aliviado por ter feito um artigo razoavelmente breve, temos uma necessidade atávica de não duvidar. Mas este não duvidar não significa exatamente que o querido confrade flamengo precise achar o Bandeira de Mello o novo Churchill, o Diego o novo Zico, o Juan o novo Martin Luther King e o Éverton Ribeiro o novo Nerso da Capitinga. De forma alguma. Não se trata de criticar ou elogiar pessoas. Trata-se de Fé Flamenga, um fenômeno que acontece o tempo todo, está no ar, impregna e mobiliza multidões (volta e meia inclusive multidões que nos trazem punições de jogar com portões fechados).
Este não duvidar significa mais do que ter fé, é entender que o Flamengo é uma força brutal da natureza, que ele nos pune, nos destrói fins de semana inteiros, nos traz segundas-feiras que parecem manhãs de sábado e quintas-feiras que parecem noites de domingo. O Flamengo não tem começo e nem fim – o marco de fundação da sede física data de 15 de novembro de 1895, mas remontam aos homens das cavernas os primeiros sinais de que o Flamengo estaria entre nós, por nós, para nós.
E se alguém me disser que no primeiro gol do Vinícius Jr. não viu o Flamengo em toda sua glória, magnitude e esplendor, eu direi a este, “tu és um homem sem fé, segue teu caminho”. A falta de fé nos maltrata o espírito – afasta, Pai, de mim este cálice de vinho tinto de sangue rubro-negro.
Sou Flamengo – não me pergunte como. Se eu precisasse explicar, teria dúvidas não permitidas.
Imagem destacada no post e redes sociais: Gilvan de Souza / Flamengo
Gustavo de Almeida é jornalista desde 1993, com atuação nas áreas de Política, Cidades, Segurança Pública e Esportes. É formado em jornalismo pela Universidade Federal Fluminense. Foi editor de Cidade do Jornal do Brasil, onde ganhou os prêmios Ibero-Americano de Imprensa Unicef/Agência EFE (2005) e Prêmio IGE da Fundação Lehmann (2006). Passou pela revista ISTOÉ, pelo jornal esportivo LANCE! e também pelos diários populares O DIA, A Notícia e EXTRA. Trabalhou como assessor de imprensa em campanhas de à Prefeitura do Rio e em duas campanhas para presidente de clubes de futebol. É pós-graduado (MBA) em Marketing e Comunicação Empresarial pela Universidade Veiga de Almeida. Atualmente, escreve livros como ghost-writer e faz consultorias da área de política, além de estar trabalhando em um roteiro de cinema.
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