Atual gestão parece o Olimpo. E assim como a morada dos deuses gregos, há uma disputa interna para saber quem é mais adorado
Blog Ninho do Urubu | Bruno Guedes – Twitter: @eubrguedes
Era dia 17 de setembro. O que estava combinado para ser um jantar no hotel da concentração, na véspera do confronto contra o Independiente del Valle, virou símbolo de como a política segue sendo o maior adversário rubro-negro. A delegação foi ao Equador para encarar o duríssimo rival do Grupo A da Libertadores, mas acabou inflado por dirigentes e mais dirigentes sem nenhuma função específica para o jogo. Apenas para a política. Agora, com os envolvidos sendo epicentro da Covid-19, a foto dos dirigentes todos unidos nos remete aos tempos em que o Flamengo era uma bagunça.
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A eleição de 2018 não foi uma qualquer. Após pouco sucesso em campo da Era Bandeira de Mello, uma chapa de coalização foi formada para reconduzir o clube às trilhas dos troféus, mas sem sair do rumo financeiro. Com diferentes grupos políticos unidos, era evidente que nem todos falavam a mesma língua. Quase dois anos depois e muitos ruídos, como contratação e demissão de Abel Braga, além das chegadas de Jorge Jesus e Domènec, o voo se torna episódio de um Flamengo que parece disposto a repetir os erros das últimas décadas.
No meio dessa tentativa de satisfazer diversos dirigentes, veio a fatídica viagem ao Equador. A foto, que já se tornou famosa pelo simbolismo que carrega, é uma demonstração clara de como o maior rival do Flamengo continua sendo a briga pelo ego. Desde a “Lei do Mandante” até a volta forçada do Campeonato Carioca, a atual direção parece sempre disposta a parecer o Olimpo. Porém, assim como a morada dos deuses gregos, há uma disputa interna para saber quem será mais adorado pelos mortais. No caso, os torcedores.
O vice-presidente de futebol não tem paz para trabalhar e precisa ser questionado a todo momento nas coletivas sobre outros poderes que insistem em intervir no seu, os grupos se manifestando de maneiras deselegantes nas redes sociais, eleições internas chegando e clima fervendo. Ah… e claro, no meio disso tudo, os jogadores e sua comissão técnica, pressionados por resultados. É tanta gente querendo aparecer que daqui a pouco vão vestir os uniformes e pedir vaga ao Dome!
O voo que foi ao Equador, agora volta desgovernado. E pior, com diversas imagens que provam isso. Primeiro o “protocolo seguro” caiu por terra com o avião repleto de gente alheia ao futebol. Depois, jogadores sem máscara e expostos. Por fim, com o surto da Covid, desastrosas declarações do Landim e seus pares, mas com ninguém assumindo a culpa. Ninguém. Preferiram tirar o sofá da sala com a demissão patética do Matheus Grangeiro, responsável pelas redes sociais do clube, a assumirem os erros. O Flamengo volta do país vizinho goleado em campo e fora dele.
À essa altura, a opinião pública, que já não era muito favorável ao Flamengo, se tornou totalmente negativa. Os dirigentes que tanto diziam que “o clube é o lugar mais seguro onde um jogador pode estar”, agora se vê com 31 dos 55 viajantes a Quito infectados pela Covid. O clube, que defendia jogar em meio à pandemia, agora pede adiamento de um jogo – que de fato não deveria acontecer por segurança do próprio Palmeiras e outras equipes – justamente causado por problemas que minimizaram.
A cada dia um novo teste positivo é divulgado, uma nova declaração choca a todos e envergonha a torcida e uma ação contraditória ganha as páginas da imprensa. O voo político decolou rumo ao Equador, mas agora está desgovernado. Sabe-se lá onde e quando ele vai aterrissar. E o maior temor é de que seja tarde demais.
*Créditos da imagem destacada no post e nas redes sociais: Divulgação / Flamengo
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