“Se a Chapa Azul ganhar, será como um partido que recentemente venceu uma eleição em um país bem distante do nosso”
Foto: Flamengo/Divulgação
A história todo rubro-negro antenado na política do clube conhece. Em 2012, Tostes era um daqueles figurões que integravam a Chapa Azul. Vencidas as eleições, o atual diretor de operações do Comitê Rio 2016, assumiu a pasta de finanças do clube e tornou-se figura importante na reestruturação financeira ocorrida na Gestão Eduardo Bandeira de Mello.
Em agosto deste ano decidiu-se por apoiar Wallim Vasconcellos na Chapa Verde. Acompanhe a seguir a entrevista de Rodrigo Tostes ao mundorubronegro.com.
Você terá disponibilidade de tempo para exercer a VP de Finanças no próximo triênio, caso a Chapa Verde seja eleita? Se sim, a Olimpíada não atrapalharia?
Óbvio que sim. Se não tivesse, não me comprometeria. O Flamengo é uma paixão e todo o esforço para fazer o melhor pelo nosso clube do coração é muito gratificante. Trabalhar na operação dos Jogos Olímpicos me qualifica ainda mais para o desafio de voltar à vice-presidência do clube.
Por que resolveu não continuar na Gestão atual? Apenas por projeto político?
Projeto político? Não entendi esta pergunta. Certamente você não me conhece. Se eu tivesse algum interesse em projeto político, poderia ficar tranquilamente na gestão atual. É engraçado ver que, assim que tomei a decisão de me desligar desta atual administração, o grupo de apoio ao Eduardo passou a desvalorizar o trabalho da área financeira. Vida que segue. Quanto a não continuar na gestão atual, a resposta é simples: acho o grupo da Chapa Verde muito mais capacitado para administrar o Flamengo e as recentes decisoes tomadas no futebol mostram exatamente isso.
Quais foram os impeditivos encontrados na gestão atual que possam ter inviabilizado resultados ainda melhores nas finanças?
Os trabalho feitos pelo BAP no sócio-torcedor e na área de patrocínios foram espetaculares. Aumentamos em 87% nossa receita. Não vejo nada de novo sendo feito hoje. Minha crítica ao marketing por não trazer nada novo depois da saída do BAP sempre foi muito forte. O Flamengo se acomodou em termos de receita depois que ele saiu. Agora o que mais me preocupa são as projeções amadoras feitas pela Chapa Azul para os próximos anos. O otimismo exagerado foi exatamente o que levou o Flamengo à divida de R$ 750 milhões. A área financeira precisa ser conservadora e não e isso que a Chapa Azul tem demonstrado em seu discurso.
Caso a Chapa Verde seja eleita irá manter os atuais diretores executivos ou pretende substituí-los?
Profissionalizar o clube não significa colocar alguém remunerado, mas sim ter profissionais capacitados. Vamos estudar caso a caso. Certamente alguns dos atuais diretores serão mantidos. Afinal, foram escolhidos por mim pessoalmente no caso dos executivos da área financeira. De qualquer maneira, a ideia é fazer uma análise apurada do trabalho e melhorar o que pode ser melhorado.
Certas pessoas afirmam que se Bap não tivesse esta rixa pessoal com Eduardo Bandeira os demais VP´s que foram para a Chapa Verde não sairiam da gestão e sequer existiria Chapa Verde. É correta esta afirmação?
Isto é uma grande besteira. A separação não se deu por rixa pessoal de quem quer que seja, até porque eu não sou o Bap, nem seguiria ninguém apenas por desavenças das quais não participei. Posso garantir que eu decidi sair e ajudar a montar a Chapa Verde porque tenho a convicção de que este grupo vai ser muito melhor para o Flamengo.
Membros da chapa verde falam de um suposto acordo não cumprido do Eduardo bandeira a respeito de candidatura, o que é negado pelos membros da Chapa Azul, inclusive o Eduardo Bandeira, qual o seu posicionamento em relação a isto?
Eu não participei deste acordo, já que entrei na antiga Chapa Flamengo Campeão do Mundo num segundo momento, a convite do Wallim. Agora, sei que existia a crença pela não reeleição e pelo possível rodízio de nomes. Além disto, entre nós, acho que o Eduardo não foi correto, nem grato com o Wallim e o Landim. Afinal, ele era um desconhecido e foi colocado no cargo de presidente faltando 23 dias para a eleição.
A Chapa Verde já tem projeto idealizado para aproveitamento das verbas do ProFut?
Não existem verbas do Profut. Isto é uma besteira que está sendo divulgada erroneamente. O que existe é um desconto sobre o principal e um alongamento da dívida restante. Ou seja, o Flamengo vai ser beneficiado com a redução do que deve. O problema é que continuaremos a dever uma montante enorme de dinheiro. Quem tem um mínimo de conhecimento no mercado sabe que os juros no ano que vem continuarão muito altos, o crédito será limitado e a obtenção de patrocínios, muito difícil. Ou seja, vender que o Profut vai ser a redenção para o Flamengo fazer vários investimentos é promessa de eleição ou total desconhecimento. Dito isto, é claro que ele será positivo e ajudará no nosso fluxo de caixa. Foi para isto que trabalhamos tanto pela aprovação. Iremos trabalhar muito para poder fazer todos os investimentos necessários e planejados para 2016, só que mantendo a transparência e a responsabilidade orçamentária. Aqui na Chapa Verde ninguém vende sonhos… Administramos a realidade e estamos preparados para tomar decisões porque fazemos isso no dia a dia.
Com a elevação das receitas o Flamengo, enfim, sairá da contingência de ter “orçamento zero” em vários setores, podendo investir mais em marketing, TI, Secretaria etc, cada qual com orçamento apropriado?
Espero muito que haja esta elevação de receitas a que você se refere. Espero também que não haja uma elevação de despesas inconsequente. De qualquer maneira, vale reforçar que o esquema que implantamos no Flamengo é de orçamento centralizado, com cada área apresentando seus orçamentos para uma análise mais global e a definição de investimentos para todo o clube. Já temos nossas prioridades para 2016, sendo a maior delas o investimento no CT.
Você ainda acredita numa possível reunificação das chapas? Se sim, como seria esta composição?
Não acredito. O Eduardo deixou claro que qualquer união só seria possível com ele na presidência. Este tipo de postura não permitiu nenhum acordo. Além disto, a atual administração já fez várias composições políticas que não condizem com o nosso modo de pensar o Flamengo. Se a Chapa Azul ganhar, será como um partido que recentemente venceu uma eleição em um país bem distante do nosso, que, apesar de ter ganhado a eleição, não consegue fazer o que prometeu, porque não conseguiu encarar a realidade e fez alianças, que mesmo que a situação fosse melhor, não conseguiria executar, porque se comprometeu com o diabo.
Caso a Chapa Verde seja eleita, quais mudanças em relação ao Financeiro pretende implementar que tenha sido impedido ou inibido pela Gestão EBM?
Temos que melhorar muito em termos de tecnologia. Vamos aumentar o investimento nessa área para melhorar os controles. Nosso sistema é bom, mas é frágil. Além disso, em três anos, espero estar pronto para ser auditado por uma big 4.
Você chegou a ser VP de Futebol interino. O que achou da experiência? Seria possível repeti-la caso a Chapa Verde fosse eleita?
Nunca fui vice-presidente de futebol. O Wrobel me ligou dizendo que não conseguia mais ficar como VP de futebol. Disse para ele que poderíamos tocar a pasta via o comitê de futebol e que eu faria a ponte entre o comitê e o futebol. Alinhei isso com o Fred e tocamos assim. Este tempo foi suficiente para ver que, quanto menos gente opinar no dia a dia, melhor. Infelizmente, vemos que não é isto que está ocorrendo hoje. Talvez por isso, o Flamengo esteja indo tão mal em campo. Os vazamentos atrapalham muito o dia a dia do clube e estamos vendo informação por troca de apoio de jornalistas. Essa prática antiga tão criticada no passado voltou à tona, mas não me surpreende em nada pelas pessoas que estão envolvidas na atual gestão do futebol. Meu cargo na administração da Chapa Wallim/Landim será na área de Finanças para poder continuar o trabalho que fizemos nos dois anos e meio em que administramos o clube.
Como vislumbra o futuro a médio e longo prazo do Flamengo em termos financeiros, continuando com a política de sustentabilidade?
Tudo vai depender do tipo de administração que vai assumir o clube. Se for com o Cacau Cotta, certamente teremos uma linha de ação. As linhas do Wallim e do Eduardo, teoricamente, são mais próximas. O que me preocupa é o nível de compromissos que o Eduardo está tomando. Pelo histórico dos presentes, temo pela manutenção da política que implantamos na nossa gestão.
A Chapa Verde está trabalhando na composição de um plano de governo?
Já temos o nosso plano de governo bem definido. Uma coisa é certa: mais do que apresentações bonitas ou discursos de power point (que nunca funcionaram bem), o importante é você ter um grupo com comprovada eficiência, conhecimento, que saiba fazer e colocar de pé as ações. Isto a Chapa Verde tem de sobra. Infelizmente, não vejo isto nas demais chapas.
A reeleição de Eduardo Bandeira significa, de fato, o fim dos ideais originais da Chapa Azul de 2012 ou a Chapa Verde entende que os ideais estavam errados e que um novo modelo de governança deve ser colocado em prática?
Me parece que existe uma confusão nesta pergunta. São coisas completamente distintas. Uma reeleição do Eduardo – a qual não acredito – vai trazer de volta ao clube algumas práticas políticas que não concordamos e são contra ao que pregávamos em 2012. Se estes acordos vão prejudicar a governança, não posso afirmar. Mas certamente me preocupa. Quanto aos ideais da Chapa Flamengo Campeão do Mundo de 2012 (hoje Chapa Verde), creio que cada vez mais se mostram adequados. Estes ideais se manterão e serão defendidos pelos componentes da nossa Chapa – afinal fomos nós que os implementamos no clube.
E por falar em modelo de governança, a configuração atual, com diretores-executivos profissionais, pinçados do mercado e com bons salários tendo os VP’s apenas como proponentes de metas e fiscalização dos processos será mantida a despeito da manutenção ou não de algum executivo?
O conceito de diretores executivos será mantido, sem dúvida nenhuma. Os salários serão os de mercado. O ponto é que, pela nossa experiência nestes dois anos e meio que tocamos o clube, acabamos vendo que a presença dos vice-presidentes no dia a dia continuará sendo de extrema importância, seja pela experiência profissional do time, seja pelo alto networking do grupo. Isto fez e fará toda a diferença no trabalho difícil que teremos a partir de 2016. O Flamengo não pode abrir mão do conhecimento de um Bap, de um Landim, de um Walim, de um Ruben Osta, de um Gustavo Oliveira e de vários outros apoiadores da Chapa Verde.
Por que se deve votar na Chapa Verde? Quais características ela reúne melhores que outras chapas?
Porque, sem falsa modéstia, tem o grupo mais capacitado para colocar o Flamengo de volta aos trilhos das grandes vitórias. Porque este grupo não precisa usar o nome do Flamengo para se autopromover ou por interesses políticos. Porque o pensamento do grupo é realmente “Tudo pelo Flamengo, nada do Flamengo”. Me parece que isto é suficiente para os sócios votarem na Chapa Verde.