Quando Leandro se despediu do futebol, foi sem alarde. Corria o ano de 1990 e seus joelhos haviam dado o recado: acabou. Leandro saiu de cena em silêncio. Não quis festa de despedida. O Flamengo vivia uma temporada difícil, ruminando o adeus de Zico. É poético: Zico parou, e o Zico da lateral-direita parou junto.
O repórter Danilo Bahia perguntou se ele ia sentir falta do futebol: “Vou, mas tudo bem. Às vezes parece que foi um sonho, então é hora de acordar. Mas vou sobreviver sem a bola. Eu só não aguentaria se me obrigassem a deixar de ser Flamengo”.
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Se Leandro sobreviveu sem a bola, o mesmo não se pode dizer da bola sem Leandro. Naquela faixa de campo, nunca mais foi tão bem cuidada. Sucederam-se operários que a trataram com objetividade, mas nunca mais com doçura. Leandro e a bola eram apaixonados um pelo outro. Um caso de amor desses que não existe mais.
No seu clube de coração, ganhou tudo. Fosse em qualquer outro time, ganharia a camisa 10, lavada com amaciante, bem passada, perfumada. Mas era melhor ser 2, ou 3, no seu Flamengo. Porque só ali ele se
sentia em casa. E se o Flamengo tem um Rei, um Deus da Raça, um Maestro, um Imperador, quem foi Leandro?
Leandro foi o Hino transformado em gente. Os versos encarnados em uma só pessoa: uma vez Flamengo, sempre Flamengo, Flamengo sempre eu hei de ser, vencer, vencer, vencer, Flamengo até morrer eu sou.
Obrigado, Leandro. Feliz aniversário. Foi o nosso maior prazer te ver brilhar.
Mauricio Neves de Jesus é jornalista, roteirista e além disso é autor de diversos livros sobre o futebol brasileiro, como Epopeias rubro-negras, 1981: o primeiro ano do resto das nossas vidas, 1962: o ano Mané, Maestro, Penta: no traço, no rádio e na bola. No Twitter e Instagram: @flapravaler.
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