É a questão de saúde pública que pode se desencadear caso um foco identificado de COVID-19 não seja contido de maneira adequada
Blog Molambo Racional | Paulo Silvestre – Twitter: @silvestre_diniz
Olá, senhores! Por aqui ninguém ainda me conhece. A primeira informação relevante sobre mim por ora é ser rubro-negro. Portanto, tudo o que quero é o bem do Flamengo.
A segunda é a de não querer parar por aqui. A oportunidade de seguir contribuindo o mínimo para um mundo mais Flamengo é motivadora, ao mesmo tempo desafiadora. Portanto, espero que esse seja o primeiro de muitos contatos através desse veículo.
E é importante frisar que estamos em um momento modificador da história do nosso time e certamente também do futebol brasileiro. Escrevo em 26 de setembro de 2020, sábado, às 17h. Por que dato? Porque até o presente momento ainda não temos certeza se ocorrerá o jogo entre os Porcos Fregueses e o Fraldinha do Mengão. De posse desse contexto, aquela terceira informação guardada para fazer mistério: como médico, trabalho desde março quase que diariamente em unidades COVID no Rio de Janeiro.
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A carteirada é necessária pois vivemos em um momento muito peculiar: onde as pessoas acreditam que opiniões são mais relevantes do que fatos. A insanidade em que foi transformada a discussão sobre o Flamengo jogar ou não atingiu níveis de estupidez míticos.
Vamos lá… Como em tudo nessa vida ninguém é obrigado a concordar nem discordar de mim… Mas me sinto na obrigação de ser bastante reto na minha posição: esse jogo não pode acontecer! E essa, que deveria ser uma decisão da CBF; um desejo do Palmeiras, do Flamengo e de qualquer um que queira conter a disseminação da COVID-19, transformou-se no protocolo da insensatez.
Por mais rubro-negros que sejamos, e por mais que sonhemos em ver os Garotos do Ninho com alguns reforços do profissional ganhando no carpete da Allianz Arena, é fundamental que pensemos antes na questão sanitária. Eu quero mais é que o Palmeiras se exploda. Que perca, seja goleado, eliminado, esculachado, que caia novamente para a série B e sofra muito. Mas que se restrinja ao campo esportivo. Não quero que nenhum jogador adversário esteja exposto a esse vírus. Vou além: comissão técnica, funcionários, árbitros e todos os familiares que convivem com eles. E quando um foco da doença é identificado, o melhor a se fazer (fato, não opinião) é isolar o foco e seu entorno.
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Então, caros amigos, os jogadores, mesmo com teste negativo, ainda estão em janela onde a doença pode se manifestar ou se identificar como portadores assintomáticos com possibilidade de transmitirem aos outros.
Imaginem que Gerson, Thiago Maia e De Arrascaeta joguem. Eles viajaram para o Equador no mesmo voo fretado, dormiram no mesmo hotel, fizeram as refeições no mesmo local fechado (ninguém come de máscara até onde eu saiba), treinaram, aqueceram e jogaram com uma série de outras pessoas (hoje) sabidamente positivas. Agora se eles ficam positivos na segunda-feira? E se mesmo sem sintomas eles transmitam a doença a algum jogador ou mesmo funcionário do Palmeiras?
Portanto, senhores, danem-se (preferia um palavrão, mas vou me conter) os três pontos. Se a CBF não assume sua responsabilidade, se o Palmeiras não colabora, se a Globo pressiona para ter o jogo, o Flamengo precisa assumir sua posição de vanguarda no futebol brasileiro: banca o W.O. se assim for necessário. Depois briga na justiça. Muito mais importante do que o jogo é a questão de saúde pública que pode se desencadear caso um foco identificado de COVID-19 não seja contido de maneira adequada.
O Flamengo conseguirá conviver com a honra de um W.O. por uma causa justa (vide a “final” do Brasileiro de 1987). Mas poderá ter sua imagem mais manchada caso uma tragédia seja identificada em decorrência dessa partida.
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