John Rockfeller, magnata norte-americano que chegou a ser considerado a pessoa mais rica da história moderna, disse certa vez que “o melhor negócio do mundo é uma companhia de petróleo bem administrada e o segundo melhor negócio do mundo é uma empresa de petróleo mal administrada”, dando a entender que existem certos empreendimentos tão propensos ao sucesso que, mesmo se mal geridos, mesmo se organizados de maneira temerária, ainda conseguem ser lucrativos para as pessoas envolvidas.
Por essa lógica, o Flamengo é, muito provavelmente, o mais próximo que temos no futebol brasileiro de uma petroleira. É a marca de maior valor do continente, considerada uma das 50 mais valiosas do mundo, com uma base de torcedores acima de 40 milhões de pessoas, espalhadas não apenas por todo o país como por todo o mundo, posicionando o Flamengo como o sonho de qualquer área de marketing: um produto que atinge pessoas de diversas etnias, classes sociais e gêneros, nos mais diversos pontos do planeta.
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Então nada mais natural do que termos muita gente interessada em comandar o Flamengo. Sejam pessoas bem intencionadas que querem ajudar o clube a se tornar maior ainda, sejam aproveitadores que querem ganhar dinheiro e prestígio às custas do time de maior torcida do país, não faltam na história do clube desde gestores que contribuíram em muito com as conquistas rubro-negras até oportunistas que encheram seus bolsos e deixaram para o clube dívidas e constrangimento.

Foto: Gilvan de Souza / Flamengo
A diferença está no fato de que o Flamengo é mais do que uma marca, mais do que uma empresa. O Flamengo é uma entidade, uma paixão, uma instituição que vai muito além do material e do físico. Isso quer dizer que não é preciso gerir o clube de acordo com as melhores práticas do mercado? Obviamente não. Mas significa que, além do lucro, uma gestão rubro-negra precisa mirar também em outros objetivos esportivos, sociais e até mesmo morais.
Por isso são tão absurdas as propostas, já ventiladas na Gávea, de não apenas alterar o estatuto do clube para ampliar o mandato de Rodolfo Landim como ainda trazer para debate a possibilidade do atual presidente concorrer novamente na próxima eleição.
Isso porque a despeito de qualquer avaliação sobre a atual gestão – que teve sim resultados positivos dentro de campo e no aspecto financeiro, mas também tomou atitudes condenáveis e irresponsáveis em diversos outros temas, desde uso político do clube até a questão das indenizações das vítimas do incêndio do Ninho do Urubu – o Flamengo tem a responsabilidade de respeitar o próprio processo democrático, que já é excludente e elitista o bastante sem que se rasgue o estatuto a pedido de qualquer dirigente.
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Foto: Reprodução/Instagram
Porque se a cúpula rubro-negra reconhece que o Flamengo é uma Nação para lucrar, precisa também levar isso em consideração na hora de tomar decisões. Precisamos de mais democracia, não de mais concentração de poder, de mais diálogo entre o clube e sua torcida, não de um Flamengo cada vez mais nas mãos dos mesmos executivos da zona sul carioca. Precisamos de um projeto de clube que abrace todos os rubro-negros, não de uma gestão tão personalista que Landim não se contenta em fazer seu sucessor e quer ele mesmo se tornar uma espécie de “imperador da Gávea”, como se esse cargo já não tivesse dono.
Que o Flamengo consiga então rechaçar esse tipo de postura aproveitadora e oportunista. Seja para evitar que Landim se perpetue no poder, seja para evitar as esquisitas conversas sobre SAF, criadas por pessoas que parecem acreditar que faz sentido vender um dos clubes mais lucrativos do mundo. É hora, então, de lembrar a quem quer tomar posse do Flamengo que ele já tem dono. Ou melhor, donos. 42 milhões deles, que são os que transformaram esse clube no que ele é e merecem mais, não menos, poder e controle nas suas decisões.
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