Foram quase dois anos, com 105 partidas disputadas e 23 gols marcados. Foram dribles incríveis que deram certo, dribles simples que deram muito errado, chutes impossíveis que entraram e passes de dois metros que terminaram nos pés do adversário.
Foi contratado na época de Jorge Jesus, passou pelas mãos de Domenec Torrent, ganhou oportunidades com Rogério Ceni, brilhou muito com Renato Gaúcho, numa época em que ninguém mais parecia ser capaz de brilhar nesse time.
Do mesmo autor:
- Se o Carioca é um laboratório, a experiência rubro-negra começou muito bem
- O que esperar quando você está esperando (o Cariocão 2022)
A verdade é que, nos 23 meses de sua passagem pelo Flamengo, Michael viveu de maneira absolutamente intensa todas as experiências que um atleta pode viver com a camisa rubro-negra. Chegou como craque, revelação do Brasileirão anterior, coberto de expectativas, apenas para não empolgar a torcida e ser duramente criticado.
Viveu a reserva, foi questionado, viu treinadores indo e vindo e quando todos menos esperavam voltou a mostrar seu melhor futebol, se tornou o principal jogador do time, viu os mesmos torcedores que pediam a sua saída do clube exigindo sua titularidade.
Michael no Flamengo acertou muito, errou bastante, deu diversas alegrias, causou profundas irritações, foi comparado a Vitinho, disputou posição com Arrascaeta, fez gol, deu assistência, ganhou sósia, desenhou cachorro no cabelo, recebeu prêmio de melhor da partida, foi cornetado por um vencedor do Prêmio Puskas, fez gol que mereceria indicação ao Prêmio Puskas.
E viver absolutamente tudo dentro de campo, seja a comemoração de títulos ou o trauma das derrotas faz todo sentido quando a gente lembra quem é Michael.
Porque se por um lado Michael é tudo que se costuma chamar de “jogador raiz”, revelado na várzea, sem passar pelas categorias de base e tendo sobrevivido a seis tentativas de assassinato por conta de dívidas, tudo isso para com a bola rolando ser um driblador alucinado e tão imprevisível que ele mesmo assumia ser incapaz de prever os próprios movimentos, ele também teve a coragem de fazer algo muito incomum até mesmo no futebol atual, que é assumir uma doença como a depressão, falar abertamente sobre o que viveu e, mais complicado ainda num ambiente machista como o futebol, pedir ajuda para lidar com seus problemas.
Leia mais: Flamengo fecha venda de Michael para o Al-Hilal
E Michael é exatamente essa complexidade, esse grande choque de conceitos. É o homem que não vai hesitar em dominar a bola da maneira mais escrachada, em tentar o drible mais humilhante, mas também é o atacante que vai voltar para ajudar na marcação como se a vida dele dependesse disso.
É o cidadão que vai acertar um chute absurdo na hora que o time mais precisa, mas também é o jogador que pode errar um passe simples que armaria o contra-ataque. Michael foi um atacante que a torcida se cansou de criticar, mas também foi um dos atletas rubro-negros mais amados pela nação nessa sua passagem pela Gávea.
Passagem essa que aparentemente chega ao fim hoje, com sua saída para Al-Hilal, da Arábia Saudita, onde irá receber mais de um milhão de reais por mês, um salto que talvez parecesse impossível dez anos atrás, quando Micha recebia 20 reais por pelada na várzea de Goiânia.
Mas se tem uma coisa que a gente aprendeu sobre esse atacante que em 2017 estava no Goianésia da Série D e em 2021 disputou a final da Libertadores pelo Flamengo, é que, se nem o próprio Michael é capaz de entender do que ele é capaz, não somos nós que vamos conseguir.
Siga João Luis Jr no Medium.
Siga o MRN no X/Twitter, Threads, BlueSky e no Instagram.
Contribua com a independência do nosso trabalho: seja apoiador.
- Sofascore destaca números de Wesley com liderança importante
- Zico fará Jogo das Estrelas no Japão em 2025
- Meia do Internacional deve enfrentar o Flamengo no sacrifício
- STJD: Alcaraz está livre para jogar, mas Braz é suspenso e perde fim do Brasileirão
- Flamengo x Internacional: Rochet projeta dificuldades no Maracanã
- Sofascore destaca números de Wesley com liderança importante
- Zico fará Jogo das Estrelas no Japão em 2025
- Meia do Internacional deve enfrentar o Flamengo no sacrifício
- STJD: Alcaraz está livre para jogar, mas Braz é suspenso e perde fim do Brasileirão
- Flamengo x Internacional: Rochet projeta dificuldades no Maracanã