Entre as quatro linhas, muitas razões se dispersam, pequenos viram grandes, fracos ficam fortes e a tensão permanece até o apito final
Para valer as tradições Flamengas, foi uma classificação na emoção. Jogo duro contra um time já virtualmente eliminado na competição sul-americana, com técnico em “aviso prévio”. Mas entre as quatro linhas, muitas razões se dispersam, pequenos viram grandes, fracos ficam fortes e a tensão permanece até o apito final, ou nesse caso, no apito de um gol que nos remete imediatamente ao nosso maior ídolo: cobrança de falta na entrada da área, canto alto do goleiro, caixa, alegria da Nação.
Jogo começa com Emelec tomando a postura de ditar o ritmo, marcando forte e adiantado em linhas dispostas em um 4-3-3 bem espaçado na primeira linha que, ao invés de atacarem quem estava com a posse, se preocupavam em fechar as opções de passes para os laterais, afunilando o jogo do anfitrião e tornando o setor de criação rubro-negro burocrático nos primeiros 16 minutos.
Essa ação fez com que Flamengo aproximasse suas linhas mais ao centro e ao pressionar quem carregava a bola, cedeu espaço nas laterais ao time equatoriano, que conseguia trabalhar a bola pelo setor. Boas atuações defensivas de Rodinei e Renê evitaram que esse controle inicial se tornasse volume ofensivo efetivo, tanto que a melhor chance de gol nesses primeiros minutos de jogo veio de contra-ataque que Vinicius Jr chuta por cima do gol, aos 5’, e com Paquetá com chute de fora-da-área aos 15’.
Na imagem, a aproximação das linhas e má distribuição dos jogadores em campo abre corredores para infiltrações do time equatoriano. No lance, jogada interrompida por desarme de Juan à Matamoros.
Flamengo se dispõe em campo em um 4-2-3-1 com bastantes recuos de Éverton Ribeiro ao meio de campo, fazendo o papel de ponta-construtor à direita, Diego como meia-atacante que flutue entrelinhas, Vinicius Jr como ponta agudo de infiltração e amplitude pela esquerda e Henrique Dourado sempre postado como referência. Com isso, o ritmo e distribuição de jogadas é gerido quase que exclusivamente por Cuéllar e Paquetá, haja vista que Rodinei/Renê não têm capacidade técnica para participar dessa parte da transição das jogadas.
Diego ainda sofre em compreender seu novo posicionamento. Tende a recuar muito para auxiliar na saída de bola, o qual não tem características para execução – ainda que seja bom ressaltar o seu bom rendimento nas bolas longas, com 2 certas em 3 tentadas – e que faz com que receba muitas faltas na intermediária ou aplicar muitos passes laterais em sequência, o que cadencia o ritmo do jogo e torna o setor de meio-campo burocrático. Precisa pisar mais vezes dentro da área e dar opção de trocas de passes pela zona central. Ao cair muito à esquerda ao longo do 1º tempo permitiu que houvessem espaços para constantes infiltrações de Paquetá, porém, acaba por retirar o espaço que deveria ser ocupado por Vinicius Jr, o que encaçapa o garoto entre Jaime e Paredes, que afeta em sua atuação, já que ainda tem dificuldades em se manter no jogo físico com zagueiros. O camisa 10 não estava em noite inspirada mas correu, lutou (até de certa forma exagerada e passível de punição caso o juiz assim quisesse), acertou bons passes (3 passes decisivos e 1 ótima chance criada), errou outros tantos (pecando pela costumeira hesitação e excesso de toques na bola antes do passe). Atuação na média, que tende a evoluir conforme prossiga na nova função.
Diego posicionado sobre a linha lateral, como opção de passe para Renê. Posicionamento este que adianta Vinicius Jr para ficar entre os zagueiros e permite deslocamento de Paquetá pela zona central. Hesitação do 10 acaba por matar a jogada a recuando para Céellar.
A dupla de zaga foi segura ao longo de todo o jogo, mesmo após substituição por lesão de Juan (autor de duas ótimas cabeçadas no 1° tempo que poderiam ter aberto o placar). Entretanto, para o estilo de jogo que Barbieri tenta, zagueiros lentos e de idade elevada inviabilizam a compactação tática da equipe.
Laterais cobrem os espaços por trás dos zagueiros e afunilam para evitar passes entrelinhas. Nesse caso, Cuéllar também participa da última linha entre os zagueiros, o que permite corredores para infiltração, principalmente pela esquerda, onde temos Vinicius Jr que não tem aptidões defensivas e sobrecarrega o setor.
Nesse ponto vale ressaltar as participações de Cuéllar e Lucas Paquetá. O colombiano teve uma das suas melhores partidas em 2018, cobrindo todas as falhas defensivas, exercendo a saída de bola, construindo jogadas. Partida exuberante do camisa 8. Já o jovem meia-volante-atacante teve uma noite mais conturbada. Pecou algumas vezes na saída de bola gerando contra-ataques, seja por precipitação ou preciosismo nos passes. Sua função na saída e distribuição exige criatividade, tal como prudência. Mas se não estava em boa noite no aspecto técnico, raça e dedicação tática não faltaram. Dois leões à frente da última linha de marcação. Estatísticas fornecidas e encontradas no site sofascore.com.
E enfim, podemos falar do “trio de ataque”. Henrique Dourado não estava em noite inspirada, e como centroavante de finalização, pouco agrega à criação e transição ofensiva da equipe, ainda que demonstre a dedicação de sempre em participar da marcação alta e cobertura em contra-ataques. Que se ressalte seu baixo aproveitamento saindo da função de “referência” e vindo jogar mais ao meio, onde pouco produz e pouco consegue prender a bola, além do mal posicionamento em infiltração de Paquetá pelo meio, que poderia ter rendido o primeiro gol da noite.
Vinicius ainda tem muitos excessos em jogadas onde o simples é necessário. Tem veia artilheira, sabe se posicionar e esperar o passe entrelinhas sem estar em impedimento. Ainda que não tenha maturado completamente, conseguiu um bom aproveitamento em duelos (4 de 6 vencidos), acertou bons passes para infiltrações de Renê e Paquetá. Esteve em ótimas condições para marcar mas acabou desperdiçando – a última chance atrapalhado pelo bandeirinha.
E entre eles, o dono da noite e da classificação. Participação determinante do placar com dois golaços, jogando com mais liberdade para desenvolver seu futebol. Éverton Ribeiro continua a sequência de bons jogos alternando entre ponta-construtor e armador recuado, cedendo espaço para infiltrações de Rodinei e Paquetá. Decisivo, técnico e intenso os 90 minutos. Éverton Ribeiro se coloca realmente como candidato a ser o protagonista de 2018.
As entradas de Marlos e Jonas demoraram a acontecer e pouco mudaram o panorama tático da equipe.
Vitória na raça, na vontade de vencer, no espírito rubro-negro. Deficiências técnicas já apresentadas em jogos anteriores voltaram a influenciar o rendimento coletivo, que necessita de mais jogos para análises mais consistentes. Classificação antecipada que acalma os nervos de torcida, diretoria e jogadores. E que permite espaço para planejamento antecipado de contratações e dispensas no período de paralisação para a Copa do Mundo.
Imagem destacada nos posts e nas redes sociais: Gilvan de Souza / Flamengo
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Matheus Miranda analisa os jogos do Mengão no MRN. Siga-o no Twitter: @Nicenerd04
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