Marcos Paulo Neves: A visita do Flamengo aos torcedores do Norte e Nordeste em 1950

O começo de ano do Flamengo será itinerante. Enquanto o Maracanã está fechado novamente para reparos, o Rubro-Negro vai jogar seus quatro primeiros jogos do Campeonato Carioca em diferentes estados do Norte e Nordeste do Brasil.

A excursão começou no último dia 17, com a vitória sobre o Audax por 4×0. Havia oito anos que o clube não visitava Manaus. Em seguida, o time pega o Nova Iguaçu em João Pessoa. Pela quarta rodada do Carioca (a terceira foi adiada), o confronto é contra a Portuguesa-RJ em Natal. Por fim, o Flamengo tem compromisso em Belém contra o Sampaio Corrêa-RJ.

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A excursão é uma oportunidade gigante para a enorme massa de torcedores do Flamengo verem de perto seus jogadores. Por mais que o clube tenha cobrado um enorme preço para os torcedores acompanharem o certame contra o Audax, registrou-se um público de 44.068 pessoas, o quinto maior registrado na Arena do Amazonas.

Antes do jogo, o time foi recebido com muito carinho por vários torcedores no aeroporto e no caminho ao hotel. Todo esse apoio reforça a penetração do Flamengo no Norte e Nordeste brasileiro.

Sem querer me aprofundar nas origens históricas disso (tema para outro texto), vamos destacar a excursão do Mais Querido em 1950, que marca sua primeira aparição em Manaus, depois de rápida parada no Amapá, retorno ao Pará, a visita a Fortaleza e a última parada em Recife.

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Primeira parada: Belém

Em 17 de março de 1950, o Correio da Manhã anunciava a partida do Flamengo para o Pará, onde o clube realizaria três jogos. Ali já era planejado uma visita a Recife, Manaus e, possivelmente, na Bahia. Posteriormente, o Rubro-Negro teria compromissos na Europa. A edição seguinte do mesmo periódico destacou como o clube já era conhecido na região:

Todos sabem a legião de “fãs” rubro-negros existentes no Brasil, o que assegura sempre, onde quer que se exiba, completo éxito. O interesse manifestado atualmente não é menor do que nas outras vezes, levando-nos a crer que sem dúvida alguma, o Flamengo alcançará seu objetivo nesta excursão aos principais centros futebolísticos do Norte.

Correio da Manhã 18/03/1950

A exibição inaugural do Fla se deu no dia 20 de março, com a vitória sobre o Paissandú (grafia da época) no placar de 3×2. Os gols flamenguistas foram marcados por Aloisio, Gringo e Beto. Um detalhe interessante do jogo foi a expulsão do atacante, posteriormente tricampeão carioca, Esquerdinha, após ser agredido pelo próprio juiz do certame.

O segundo jogo no Pará foi um empate em 2×2 com o Tuna Luso Comercial no dia 23, com dois gols de Aloísio. A despedida de Belém ocorreu três dias depois com uma vitória sobre o Remo, então campeão estadual, por 2×0, com gols de Durval e Beto. De lá, o Flamengo partiu de forma inédita para o Amazonas, primeiramente com uma rápida parada no Amapá.

A primeira vez que o Flamengo jogou em Manaus

A chegada do Rubro-Negro na capital amazonense foi noticiada com empenho pelo Correio da Manhã, que destacou como outras localidades buscavam a visita do “mais querido”, porém, sem sucesso devido às barreiras impostas pela CBD:

Alvo de inúmeros convites, a delegação do Flamengo tem procurado atender a todos. Os desportistas cearenses e pernambucanos desejavam assistir ao “mais querido”, o que se tornou impossível em face da proibição da Confederação Brasileira de Desportos, pois as entidades destes Estados encontram-se em débito.

Correio da Manhã 30/03/1950

Como será mostrado abaixo, o clube conseguiu disputar partidas em ambas as cidades.

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Entretanto, o Flamengo conseguiu realizar uma parada no Amapá para enfrentar o selecionado local. O resultado foi uma estrondosa goleada de 9×2 para o Rubro-Negro. Gringo (2), Esquerdinha (2), Aloísio, Moacir, Hélio, Durval e Hamilton foram os goleadores.

A estreia do Mengão em território manauara se deu no dia 31 de março contra o Fast Club no Parque Amazonense de conformidade com o jogo anterior: uma goleada, dessa vez por 6×1. Apenas Moacir fez 4 tentos. Esquerdinha e Hélio completaram o placar.

A despedida da capital amazonense ocorreu enfim no dia 02 de abril em mais uma goleada: 7×1 sobre o Nacional. Moacir (2), Durval (3), Esquerdinha e Hamilton marcaram. De lá, o clube retornou para o Pará para mais compromissos.

A volta ao Pará e a ida a Fortaleza

De volta a Belém, o Flamengo “surpreendentemente” imprimiu mais uma goleada acachapante no dia 3 de abril: 11×1 contra o Santarém. Os gols foram marcados por Esquerdinha (3), Durval (2), Aloísio (3), Gringo (2) e Modesto Bria.

Ainda sem perder desde a chegada e vindo de três goleadas seguidas, Flamengo encararia um bom combinado paraense. O Correio da Manhã alertava que não seria um jogo fácil:

O selecionado paraense é, nem dúvida, um adversário difícil. Ofereceu séria resistência aos mineiros, cuja representação reúne melhores predicados que o Flamengo. Visa reabilitar o futebol do Estado, mal defendido pelos quadros que, há pouco, enfrentaram este mesmo Flamengo. Aguarda-se um confronto equilibrado.

Correio da Manhã 05/04/1950

O aviso não era em vão e acertou em cheio, afinal o selecionado conseguiu tirar a invencibilidade rubro-negra vencendo por 5×4. Os gols do Flamengo foram marcados por Valter Miraglia, Durval (2) e Esquerdinha.

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Não conseguindo liberação com a CBD para jogar na Bahia, o Flamengo seguiu viagem para Fortaleza onde enfrentou primeiramente o Esporte Clube Bahia no dia 9 de abril. O time carioca saiu vitorioso pelo placar de 3×1, sendo dois de Durval e um de Gringo.

A fim de destacar a despedida do Ceará do Flamengo, o Correio da Manhã, em sua edição de 13 de abril destacou o sucesso da visita ao clube:

Na noite de hoje, a Flamengo realizará sua peleja de despedida nos gramados cearenses, onde atuou com pleno sucesso. Embora só se tenha exibido uma vez, nesta mesmo os torcedores locais tiveram a oportunidade de presenciar o “mais querido” em perfeita forma, a despeito da estafante temporada no Pará e Amazonas. Aliás, a excursão do “onze” rubro-negro tem se caracterizado por absoluto sucesso, técnico e financeiro. Quanto a este ultimo aspecto devemos salientar que, até agora, as partidas renderam cerca de quinhentos mil cruzeiros, o que dá um lucro liquido de trezentos mil

Correio da Manhã 13/04/1950

O desfecho da visita veio com vitória sobre o Ceará no placar de 4×3. Os gols do Flamengo foram marcados por Durval (2), Hamilton e Aloísio. De lá, o Flamengo seguiu finalmente para o final da excursão em Pernambuco.

Parada final: Recife

Na capital pernambucana, o Flamengo iniciou sua jornada no dia 16 de abril vencendo o Esporte Clube Recife (atual Sport) pelo placar de 3×1 com gols de Hélio, Durval e Hamilton. Antes de encerrar a visita, porém, o Rubro-Negro disputou um amistoso contra o Madureira nos Aflitos. O resultado foi mais uma goleada: 5×1. Os gols foram de Esquerdinha (3) e Hélio (2).

No dia 23 de abril, o Correio da Manhã evidenciava o fim da excursão e novamente como a mesma foi rentável ao clube, com o lucro de aproximadamente 500 mil cruzeiros. Lembrando que houve ainda a tentativa de agendar jogos na Bahia, porém sem sucesso.

O último jogo marcou a vitória por 2×1 contra o Santa Cruz, com gols de Hélio e Zé Maria (contra). Em suma, a excursão foi um sucesso tanto esportivo quanto financeiro, destacando a força do Flamengo e provando que a amplitude de sua torcida em território nacional vem de muitos anos.

Marcos Paulo Neves é professor e historiador formado pela UNIRIO. Apaixonado por futebol e pelo Clube de Regatas do Flamengo, procura falar sobre futebol, política e história de maneira clara e não revisionista.

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