Após o jogo ruim contra o Vasco, esperava-se alguma mudança que pudesse indicar que Muricy havia identificado os problemas para resolvê-los. A vitória pelo placar mínimo em jogo muito ruim, que rendeu vaias após o apito final, mostrou o contrário.
Sheik foi poupado por causa do desgaste muscular e não viajou, Arão e Cirino também foram poupados, viajaram e começaram no banco. Cuéllar faria sua estreia e Éverton e Gabriel ganhariam novas chances no time titular.
Outra novidade foi o esquema tático inicial, 4-2-3-1 com Paulo Victor – Rodinei, Wallace, Juan, Jorge – Márcio Araújo, Cuéllar – Gabriel, Mancuello, Cirino – Guerrero.
Enquanto Márcio Araújo e Cuéllar alternavam entre quem era o 1° e o 2° volante, o meio continuava com problemas de transição, seja na saída de bola ou na transição para o ataque. O América-MG deixava seus jogadores em seu próprio campo, onde fazia uma marcação dura. A falta de movimentação dos rubro-negros causava uma dificuldade a mais.
O Problema Conceitual
Todos sabemos que Muricy nunca foi um treinador ofensivo, seus times se preocupavam primeiro com a defesa e tentavam garantir o placar numa bola de sorte, o famoso Muricybol. Decidido a deixar a fama para atrás após a “reciclagem” de 12 dias no Barcelona, resolveu fazer do Flamengo um time ofensivo.
E o grande erro conceitual está justamente no entendimento do que é um time ofensivo. Claramente nota-se pelas escalações e substituições que quanto mais lento é o jogador, menos espaço tem com o treinador. Se pudesse, provavelmente escalaria um time só com velocistas.
Já imaginaram um time com Superman – Supergirl, Bart Allen, Jay Garrick, Jesse Quick – Wally West, Barry Allen – Zoom, Prof Zoom, Rival – Inércia?
Mas já diz o ditado: A pressa é inimiga da perfeição. E isso tem se refletido em campo quando vemos muitos jogadores correndo, sem saber ao certo que espaços ocupar, carregando demais a bola e, por consequência, perdendo demais a sua posse. Raras são as jogadas criadas, os ataques tramados que culminam em finalização ou ainda um simples momento de criatividade no meio-campo para mostrar que o cérebro ainda está funcional.
Enquanto Muricy não perceber que os jogadores de lado precisam ser velozes e os do meio dinâmicos, cadenciadores, capazes de fazer a bola correr, o Flamengo continuará sendo um time que não cria, recorre a infinitos cruzamentos (errados) e depende de falhas na defesa para penetrar em velocidade e conseguir um gol. Funciona contra times fracos como os pequenos do Carioca, superexpostos como o do Atlético-MG, mas não contra times organizados defensivamente como Vasco e América-MG.
Mancuello pode ser o armador do time?
Contra a Portuguesa, Mancuello em um jogo deu mais assistências que Willian Arão em 2. Não há dúvidas de que o jogador com maior capacidade de criação no meio que Muricy vem escalando é o argentino, porém, assim como contra o Vasco, teve problemas hoje. Se movimenta, tenta criar, mas nem sempre tem companheiros bem posicionados para receber o passe. Além disso, o estilo correria do time obriga-o a conduzir mais a bola e tentar passes mais arriscados que favorecem os erros, principalmente em lançamentos.
Outro fator que atinge não só Mancuello, mas que hoje foi fundamental para a partida ruim, é a disciplina tática que os jogadores estrangeiros possuem. Se o treinador diz para ele que jogará centralizado na linha de três meias, tendo que encostar em Guerrero e penetrar na área quase como um atacante, o jogador obedecerá. Ao contrário dos brasileiros que mais ou menos ficam na faixa indicada, mas correm pra onde o nariz aponta, o que costumam chamar aqui de “liberdade criativa” ou “espaço para individualidade”.
Se Muricy quer um meio capaz de criar, tem que entender que o espaço onde Mancuello menos renderá é o que ocupou hoje. Seu jogo é na meia esquerda, podendo tanto ter o corredor quanto tramar as jogadas com o ponta, o lateral e eventualmente com o centroavante se cair pelo mesmo lado. Também precisará entender que ao seu lado tem que haver um jogador com mais capacidade de passe que de velocidade, alguém que ajude a cobrir a subida do lateral e auxiliar o 1° volante quando necessário. E só quando essa dinâmica entre a trinca central começar a fluir, com o 1° volante fazendo a saída de bola qualificada, como se espera, teremos um meio-campo produtivo.
O que teve de bom no jogo?
Logo no início do 2° tempo, o Flamengo veio com vontade de buscar o resultado e Gabriel, subindo pela esquerda, tentou cruzar dentro da área e o zagueiro cortou com a mão: pênalti incontestável. Éverton bateu muito bem e fez o gol do jogo.
Na ausência de Sheik, Éverton virou cobrador de pênalti. (Fonte: Futebol Interior)O Flamengo então passou a administrar mais, o América-MG tentou sair pro jogo em busca do empate e algumas poucas jogadas saíram, como a que Guerrero tocou de calcanhar para Gabriel entrar na área, driblar o goleiro e chutar para fazer o 2°, que foi logo anulado por um impedimento mal marcado em lance difícil. Gabriel ainda fez outra grande jogada, recebendo a bola e tocando por cima na saída do goleiro, acertando a trave. O lance foi anulado por ele ter dominado com a mão no início do lance.
Contudo, o melhor do jogo foi ver Muricy usar as substituições para testar formações táticas diferentes. Na troca de Mancuello por Cirino, o armador centralizado foi Éverton mantendo o 4-2-3-1, mas quando Gabriel saiu para a entrada de Arão, voltou para o 4-3-3 com Márcio Araújo de 1° volante. Aos 40 do 2° tempo, Guerrero saiu para a entrada de Felipe Vizeu.
Nenhuma das variantes táticas deu certo, mas ao menos agora Muricy sabe o que não funciona. O problema é que parece ter em Márcio Araújo seu homem de confiança, o que leva a crer que Arão e Cuéllar devem disputar a 2ª vaga no meio de campo. Canteros continua sem receber chances e segue treinando como 1° volante.
Expectativa para o Clássico
Diego Souza tem feito bons jogos, Fred está recuperando ritmo e o Fluminense surge como um time de ataque perigoso, mas com defesa nem um pouco confiável. Como Mancuello têm sentido um acentuado desgaste físico, não me surpreenderia em ver o 4-3-3 com Márcio Araújo de 1° homem e Arão e Cuéllar de meias direito e esquerdo, tendo os retornos de Sheik e Cirino no time titular. Nitidamente o Flamengo deve jogar mais fechado, tentando aproveitar a velocidade do ataque para marcar seu gol da vitória.
Saudações Rubro-Negras