O Flamengo pode virar SAF (sociedade anônima de futebol) mesmo estando em uma situação financeira bem melhor que a de outros clubes brasileiros. O presidente do Flamengo, Rodolfo Landim, defendeu esse posicionamento em uma fala a conselheiros na noite desta segunda-feira (13).
De acordo com Landim, o clube precisa estudar a “oportunidade” de aderir à Lei das SAFs. No entanto, a possibilidade é contestada dentro da própria atual gestão do Fla.
Leia mais: Flamengo pode escolher melhor modelo para atrair investidores, afirma especialista em SAF
O MRN explica como isso poderia acontecer e o que significaria para o Flamengo.
O que é SAF?
As SAFs (Sociedades Anônimas de Futebol) foram criadas em 2021 após a aprovação da Lei das SAFs pelo Congresso Nacional. Desde então, 29 clubes do Brasil já optaram pelo novo modelo, entre eles Cruzeiro, Botafogo, Vasco e Bahia.
As SAFs separam o futebol dos clubes sociais, que passam a funcionar de maneira independente. No caso dos clubes endividados, dá a possibilidade de aderir a um regime de parcelamento da dívida ou então a uma recuperação judicial.
Após 10 anos, caso ainda haja restos a pagar, os investidores da SAF passam a assumir a dívida remanescente de maneira solidária.
Qual seria a diferença de uma SAF do Flamengo para outras?
Ao contrário de outros clubes de grande torcida que já aderiram à lei, o Flamengo encontra-se em situação financeira sólida, com receitas superiores a R$ 1 bilhão por ano.
Isso significa que o clube consegue andar com suas próprias pernas e não precisa de um investidor externo para sobreviver.
Com isso em vista, o Flamengo não tem interesse em ceder o controle do clube aos investidores, como fizeram Cruzeiro, Botafogo e Vasco.
Landim disse que a ideia do Flamengo é ceder até 30% de participação na SAF a um ou mais investidores, mantendo os demais 70% sob controle do Clube de Regatas do Flamengo, que assim continuaria mandando no próprio futebol.
Por que o Flamengo viraria SAF, então?
Landim argumentou aos conselheiros que a Lei das SAFs representa uma “ameaça séria” ao Flamengo. Isso porque torna competitivos rivais que não tinham condições de se equiparar ao Flamengo com seus próprios recursos.
Ele afirmou, porém, que o Flamengo pode virar SAF para se capitalizar, mantendo assim sua soberania financeira e esportiva.
Quanto o Flamengo poderia arrecadar?
O senador Carlos Portinho (PL-RJ), relator das SAFs no Senado, divulgou em sua palestra no Flamengo um estudo que atribuiu ao clube o maior valor do futebol brasileiro. O valor chegaria a cerca de R$ 3,5 bilhões.
Landim ponderou que, como o mercado de futebol não é estável, o Flamengo vive perspectiva de aumento de receitas, com a criação de uma Liga do futebol brasileiro e ganhos no marketing.
Com isso, afirmou, considera que o Flamengo possa valer R$ 5 bilhões e arrecadar até R$ 1,5 bilhão com a cessão de 30% dos seus direitos.
O que siginificaria, na prática, virar SAF?
A principal diferença de uma SAF para uma associação civil é o regime tributário. Hoje, por não visar lucro estatutariamente, o Flamengo é isento de vários impostos.
Caso optasse por virar SAF, passaria a pagar 5% de alíquota única sobre todas as receitas menos venda de jogadores pelos primeiros 5 anos. A partir do sexto ano, uma alíquota geral de 4% sobre todas as receitas, incluindo venda de jogadores.
Além disso, a SAF pode emitir debêntures do futebol, um título de dívida. Torcedores podem investir dinheiro na compra desses títulos, com remuneração não inferior à caderneta de poupança, e resgatar o investimento após dois anos. Com o dinheiro pode se pagar gastos, despesas ou dívidas da SAF.
O que o Flamengo faria com o dinheiro da SAF?
Landim disse aos conselheiros que, caso o Flamengo conseguisse arrecadar R$ 1,5 bilhão com a criação da SAF, poderia financiar a construção do sonhado estádio próprio sem precisar de parceiros. Isso abriria a possibilidade de multiplicação das receitas do clube.
É claro que a construção de um estádio próprio depende de uma série de fatores além de financiamento, como a aquisição de um terreno e a autorização da construção.
Quais são os próximos passos?
O presidente afirmou que, para atrair investidores, o Flamengo precisa “institucionalizar” a gestão profissional do clube.
Ele não explicou a conselheiros o que isso significa. Mas o senador Portinho, em sua palestra, disse que usa o Flamengo como modelo de boa gestão, mas avalia que isso poderia mudar da noite para o dia. Isso aconteceria se fosse eleita uma diretoria não comprometida com boas práticas financeiras.
É de se supor, portanto, que o Flamengo mudasse o estatuto para assegurar uma gestão continuada do futebol independente das eleições trienais para a presidência do clube.
A criação de uma SAF teria também que passar por votação nos conselhos e na Assembleia Geral do clube, que inclui todos os sócios. Só com a aprovação da mudança, o Flamengo passaria para a fase seguinte, de negociação com os possíveis investidores.
O que o investidor teria a ganhar com a participação minoritária?
O que levaria um ou mais investidores a aportar mais de R$ 1 bilhão no Flamengo sem poder tomar decisões no futebol? A possibilidade de reaver o investimento com participação proporcional nas receitas da futura SAF, o que permitiria recuperar e multiplicar o investimento inicial.
Além disso, os investidores também poderiam ter assentos nos Conselhos de Administração e Fiscal da SAF, influindo nas suas decisões. Haveria também a hipótese de revenda da participação a novos investidores, em caso de valorização.
O modelo de participação minoritária em clubes é muito difundido em Portugal, cuja lei das SADs (Sociedades Anônimas de Desporto) foi uma das inspirações para a Lei da SAF.
Grandes clubes como Porto, Benfica e Sporting mantêm controle de mais de 70% de suas SADs. O restante é dividido entre grandes investidores e torcedores que se organizam individualmente ou em fundos de investimento para adquirir parcelas da SAD.
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