Antes o time a ser batido, Flamengo viveu revoluções ao longo do campeonato que tiraram seu favoritismo e o tornaram apenas mais um candidato ao título
O primeiro turno do Campeonato Brasileiro chegou ao fim para o Flamengo bem diferente do que se imaginava antes do seu início. Se durante o trajeto foram semanas de problemas, surto de Covid e até muitas dúvidas sobre o trabalho, a única certeza agora é que o atual campeão não é mais imbatível. O time que parecia novamente repetir marcas histórias ficou para trás, trazendo a incerteza sobre até onde pode chegar. E uma juventude que pode ser o caminho para o sucesso.
Um recomeço inesperado e muitas desconfianças
Era final de julho, duas semanas antes do início do Brasileirão. Pouco mais de um mês após renovar seu contrato por mais um ano, o então técnico Jorge Jesus anunciou que estava de saída. Na verdade, retornando. Para Portugal, o seu Benfica. A notícia, além do mais frustrante momento para a torcida rubro-negra no ano, foi o divisor de águas na temporada 2020 do Flamengo. Era o fim ou a chance para os rivais?
Sem o seu grande guru, o clube foi novamente à Europa buscar um novo. Depois das recusas de outros portugueses como Leonardo Jardim e Carlos Carvalhal, apostou continuar em “outro patamar”, mas agora com grife vencedora: Domènec Torrent, ex-auxiliar do campeoníssimo Pep Guardiola. Um choque tático. Se o ex-treinador gostava de mudanças de posicionamento e jogo mais pelos lados, o novo do jogo posicional, com faixas do campo sendo exploradas de acordo com as movimentações adversárias.
O primeiro grande teste, por coincidência do destino, foi o Atlético-MG de Jorge Sampaoli, grande rival do Rubro-Negro na temporada passada. Após a derrota por 1 a 0 em pleno Maracanã, percebia-se ali que muita coisa estava em transição. E não era apenas o estádio vazio, longe da sua tradicional e fundamental torcida apaixonada. Os resultados provaram isso, conquistando apenas 15 dos 27 pontos em casa.
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Ainda tentando assimilar a saída de Jesus, os torcedores tiveram outro choque: o xodó e irreverente lateral direito Rafinha, que mais encarnava o “flamenguismo”, também estava indo embora. A ficha começava a cair, tudo estava mudando. Até o time. Derrotado de forma acachapante para o Atlético-GO por 3 a 0, novamente as dúvidas e os questionamentos sobre o novo treinador desabavam em formas de críticas. Nem mesmo a chegada de Maurício Isla, jogador que manteria o nível do setor, foi capaz de amenizar o clima de incertezas.
Enquanto oscilava no campeonato, alternando vitórias magras por 1 a 0 sobre Santos e Coritiba e empates com sabores amargos contra Grêmio e Botafogo, ambos por 1 a 1, Domènec ficava de costas para a parede entre suas ideias bem diferentes do antecessor e manter o que deu certo. “Tá mal, Arão” voltou a ser ouvido. O trio de ataque mortal ficou normal. Ou melhor, nem trio mais era. Apenas um dueto e onde o Bruno Henrique parou de fazer gols. “Hoje tem gol do Gabigol”, mas apenas em penais nos finais das partidas.
Ainda sem o apoio esperado, então veio o rodízio. E mais críticas. Principalmente na imprensa, acostumada a afagar amigos treinadores. O time que antes atropelava adversários, agora parecia mais “comum” que de costume. Internacional e Atlético-MG agradeceram e saltaram à frente de todos. À essa altura, o Rubro-Negro estava em oitavo lugar. Jornalistas e torcedores cravavam: O Flamengo está fora da disputa.
“Outro patamar” ficou no passado, crias do Ninho a direção pro futuro
Isso até pegar o Bahia e impor seu jogo. Seria o 5 a 2 um acaso ou o Flamengo estava de volta aos trilhos para renovação do título? As vitórias sobre Fortaleza e Fluminense, ambas por 2 a 1, pareciam provar que sim. E não só elas, mas também novos importantes nomes protagonistas, como Thiago Maia e Pedro, com gols. Muitos gols.
“O Pedro fede a gol”, diziam as redes sociais. O atacante colocou até mesmo Gabigol no banco para a rotação de plantel. Mais críticas da imprensa. E um registro furioso do atacante olhando para Dome. Viralizou. Só que agora com vitórias. E Arrascaeta em nova função, deixando de ser apenas goleador para ser o clássico camisa 10 que tanto pedem no futebol brasileiro.
Porém, a pandemia que atrasou o calendário em quatro meses e um dos motivos para a saída de Jorge Jesus, segundo ele próprio, foi o adversário impossível de vencer. Foram 23 casos no clube, entre elenco e dirigentes. Nem mesmo a comissão técnica saiu ilesa. Derrota fora do campo e dentro dele. Para o Ceará e depois a goleada que quase custou o cargo a Domènec, pela Libertadores, para o Independiente del Valle por 5 a 0.
O duelo tão esperado contra o Palmeiras, rival que nos últimos anos dividiu a hegemonia nacional, poderia não acontecer. Saíram os jogadores, entraram os advogados. O festival de liminar agiu rápido e garantiu a partida. Contra a vontade da direção rubro-negra. Até a CBF se posicionou contra o clube. Mas como jogar com apenas quatro titulares? Era o começo da maratona de oito jogos em 20 dias. Seriam vários W.O.?
Não. Seria a segunda virada rubro-negra na temporada. Chegava a vez dos meninos que durante anos eram preparados para o profissional. Por total necessidade, nomes como Hugo Souza (ou Neneca), Natan, Ramón, Otávio e outros saíram do anonimato para um empate em 1 a 1 com cara de vitória, dentro do Allianz Parque, contra o completo time de Vanderlei Luxemburgo. A juventude, com o fôlego que lhe é peculiar, oxigenou não apenas o Flamengo, mas todos os demais jogos.
Com até menos de 50 horas de descanso, a jovem equipe foi a base do novo momento no Campeonato Brasileiro. Oito jogos de invencibilidade e cinco vitórias, inclusive dentro da casa do maior rival, Vasco da Gama, e uma goleada histórica sobre o Corinthians, em plena Neo Quimica Arena. Galo e Colorado tropeçavam. Era a vez deles experimentando maus momentos no Brasileirão. E não paravam de surgir novos talentos do Ninho do Urubu: Natan, Noga, Matheuzinho…
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Hugo Souza, que até meados de setembro era quase desconhecido e apenas o quarto goleiro, virou titular e principal referência defensiva de uma equipe com muitos problemas no setor. Se Diego Alves permanecia fora por uma crônica lesão no ombro e a arrastada negociação para renovar o contrato, o jovem de 21 anos e 1,96m se tornava um gigante. Bem como o Flamengo, agora novamente no G4 e assustando com sua força de um elenco que parecia inesgotável.
Enquanto alguns ganhavam os holofotes das boas partidas, outros continuavam sob a sombra da desconfiança. Michael, Léo Pereira e Gustavo Henrique, contratações mais caras para 2020, não agradavam torcida e imprensa. Bem como Vitinho, que apesar de oscilar, como o Flamengo, continuava sendo mais incerteza que titular. Pedro Rocha, emprestado como reforço, nem relacionado era mais após semanas lesionado.
Até que veio a última rodada do primeiro turno. E a possibilidade da liderança nas mãos em caso de vitória, após Internacional e Atlético-MG perderem pontos importantes. Mas quando tudo parecia estar novamente se encaixando, o baque de mais uma derrota: 4 a 1 para o São Paulo, que até então apresentava mais dúvidas que futebol em 2020. Outra goleada. A terceira de Domènec. A defesa em xeque, seu trabalho de novo questionado e fúria da torcida.
Entretanto, o que virá após o fim da primeira metade do Brasileirão? O Flamengo viveu diversos campeonatos desde agosto. Um novo time, um novo esquema, um novo rótulo e agora um novo turno para se provar. Com tantas incertezas, a única afirmativa é que o campeão não é mais tão imbatível.
NÚMEROS E ESTATÍSTICAS DO FLAMENGO NO PRIMEIRO TURNO
Campanha: Vice-líder com 35 pontos (19 jogos, 10 vitórias, 5 empates e 4 derrotas)
Gols pró: 33 (melhor ataque)
Gols contra: 25
Campanha como mandante: 10ª colocado com 15 pontos (9 jogos, 4 vitórias, 3 empates e duas derrotas)
Campanha como visitante: Líder com 20 pontos (10 jogos, 6 vitórias, 2 empates e duas derrotas)
Artilheiro: Pedro – 10 gols
Assistência: Bruno Henrique e Isla – 4 passes para gol
1° turno 2019 vs 1° turno 2020
Pontos conquistados: 42 – 35
Gols marcados: 42 – 33
Gols sofridos: 18 – 25
Grandes chances de gol: 56 – 61
Conversão de chances: 46% – 34%
Chutes para marcar gol: 5.0 – 6.5
Grandes chances cedidas: 23 – 26
Chutes para sofrer gol: 9.0 – 6.9
(Fonte: SofaScore)
*Créditos da imagem destacada no post e nas redes sociais: Alexandre Vidal / Flamengo e Reprodução
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