O título brasileiro de 1980 completa 40 anos em 2020 e terá sua história contada detalhadamente e em três partes
Por Emmanuel do Valle – do Memória Rubro-Negra e Flamengo Alternativo
No primeiro capítulo da saga rubro-negra rumo ao primeiro título brasileiro, relembramos o histórico do Flamengo em competições nacionais até ali, falamos do interesse crescente de torcedores e dirigentes pelo Brasileirão, relatamos as reformas sofridas pelo torneio dentro do contexto do próprio futebol no país, abordamos as chegadas e partidas no elenco e, por fim, contamos com detalhes a trajetória na primeira fase da Taça de Ouro.
Agora, na segunda parte, a campanha avança pelas duas etapas seguintes, as quais o Flamengo atravessou invicto e colhendo excelentes resultados. Um deles, contra o Palmeiras no Maracanã, valeu como uma inesquecível revanche da derrota no ano anterior. Mais adiante, uma grande vitória sobre o Santos, também num Maracanã com casa cheia, significou a passagem às semifinais. Aquele era, portanto, o momento de afirmação da equipe.
Os adversários na segunda fase
Classificado como o segundo colocado do Grupo C, o Flamengo teria agora pela frente três novos adversários na segunda etapa da competição – a única fase de grupos jogada em turno e returno naquela edição. A chave J tinha dois favoritos destacados, mas também duas outras equipes bastante perigosas e dispostas a surpreender, prontas para fazerem os papões tropeçarem. E quem seriam esses rivais rubro-negros na disputa?
Em ordem alfabética, o primeiro era o Bangu, rival já conhecido do Estadual, mas que apresentava uma novidade para aquele ano de 1980: o retorno de Castor de Andrade a Moça Bonita, após dez anos de ausência, mas desta vez não mais como diretor de futebol do clube e sim como seu “patrono”, custeando com o dinheiro do jogo do bicho uma equipe repleta de nomes experientes, com longa rodagem no futebol carioca e brasileiro.
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No gol, havia Tobias (ex-Corinthians). Na zaga, o “xerife” Moisés, que recentemente passara pelo próprio Flamengo. No meio-campo, os ex-botafoguenses Carlos Roberto e Ademir Vicente, além do sempre matreiro Dé “Aranha”. E na frente, outro ex-rubro-negro, Caio “Cambalhota”, tinha a companha do trombador Luisão, principal goleador da equipe dirigida pelo ex-zagueiro Ananias, campeão carioca pelo Flamengo como jogador em 1963.
O time da Zona Oeste vinha de grande campanha na Taça de Prata, vencendo o grupo que incluía Campo Grande, Volta Redonda, Serrano e quatro paulistas: Ferroviária de Araraquara, Botafogo de Ribeirão Preto, Inter de Limeira e Noroeste de Bauru. Com cinco vitórias, um empate e apenas uma derrota (para a Ferroviária na estreia), o Bangu liderou sua chave e superou o Uberlândia na decisão do acesso com uma goleada de 4 a 0 em Moça Bonita.
Outro adversário, com quem o Flamengo faria os confrontos mais aguardados, era o Palmeiras. O Alviverde mantinha praticamente o mesmo time que eliminara o Fla no Brasileiro anterior antes de cair nas semifinais para o Internacional. A única baixa era o ponta-de-lança Jorge Mendonça, que saíra para o Vasco. Mas sem dramas: o talentoso Jorginho, ponta-direita em 1979, assumia a camisa 10, enquanto o arisco Lúcio (ex-Ponte Preta) agora vestia a 7.
Houve, porém, a mudança no comando do time, forçada pela saída de Telê Santana para assumir o comando da Seleção. Em seu lugar, entrara Sérgio Clérici, ex-jogador revelado pela Portuguesa Santista e que fizera extensa carreira no futebol italiano, dos 19 aos 37 anos, passando por nada menos que sete clubes diferentes. Mas a campanha apenas regular na primeira fase daquele Brasileiro de 1980 já fazia com que o treinador balançasse no cargo.
Por fim, o Santa Cruz era um time com histórico respeitável no Brasileirão. Chegara às semifinais deixando o próprio Flamengo de fora em 1975 e estivera bem próximo de voltar a figurar entre os quatro primeiros em outras duas ocasiões: em 1977, quando perdeu a vaga no saldo de gols para o igualmente surpreendente Operário-MS, e em 1978, quando chegou às quartas de final, mas caiu diante do Internacional, terminando numa ótima quinta colocação.
Na edição de 1980, porém, havia cumprido uma campanha um tanto oscilante na primeira fase. Foi capaz tanto de empatar em casa com dois dos piores times de sua chave – Gama e Maranhão – quanto de vencer o líder Coritiba e arrancar um empate diante do Grêmio, segundo colocado, dentro do Estádio Olímpico, em Porto Alegre. Em suma: um time que complicava contra os fortes, mas ia mal contra os mais fracos. Valia ligar o sinal de alerta.
O elenco trazia alguns nomes experientes, como o goleiro Wendell (ex-Botafogo, Fluminense e Seleção), o vigoroso zagueiro Tecão (ex-São Paulo) e o malicioso centroavante Tadeu Macrini (ex-Operário-MS), somados ao bom armador Betinho e ao goleador ponta-de-lança Baiano. Mas o time logo enfrentaria uma troca no comando na virada da primeira fase para a segunda, com o gaúcho Cláudio Duarte dando lugar a Paulo Emílio, o mesmo de 1975.
E seria exatamente o Santa Cruz o primeiro adversário do Flamengo naquela segunda etapa, no Estádio do Arruda, no Recife, no dia 6 de abril. Uma partida com predomínio das defesas sobre os ataques, até com uma certa rispidez por parte dos pernambucanos (o zagueiro Gaúcho chegou a rasgar a camisa de Tita), e que teve os rubro-negros melhores no primeiro tempo e os tricolores, que chegaram a colocar uma bola na trave, no segundo.
O Fla, no entanto, poderia ter vencido se o árbitro paulista Dulcídio Vanderlei Boschilia não tivesse invalidado uma jogada de Nunes, que recebeu de Zico, encobriu o goleiro Wendell e, após rebote da defesa pernambucana, mandou para as redes. O juiz, no entanto, ignorou a lei da vantagem e preferiu marcar uma falta do arqueiro pernambucano, que havia tocado a bola com a mão fora da área. Apesar dos protestos, o jogo ficou mesmo no 0 a 0.
A grande revanche
A segunda rodada marcava o reencontro de Flamengo e Palmeiras no Maracanã, pouco mais de quatro meses após a goleada alviverde no mesmo local pelo Brasileiro do ano anterior. Agora, em 13 de abril de 1980, o time paulista chegava para o confronto em meio a uma troca de comando: Sérgio Clérici não resistira a uma surpreendente derrota por 3 a 2 para o Bangu dentro do Parque Antártica na estreia da segunda fase e seria demitido.
Para o seu lugar, a diretoria palmeirense apostou em uma lenda do clube. O veterano Oswaldo Brandão, comandante da Academia bicampeã brasileira em 1972 e 1973, voltava para aquela que seria sua última passagem pelo Parque Antártica. Nome com extenso e vencedor currículo no futebol paulista, havia recentemente dirigido a Seleção Brasileira, entre 1975 e 1977, quando foi substituído exatamente por Cláudio Coutinho – de quem era amigo particular.
“O líder, o pai, o técnico: Brandão voltou”: assim a Folha de São Paulo mancheteava o retorno do treinador, que – amizade com o comandante rubro-negro à parte – não evitou lançar uma bravata para motivar o ambiente palmeirense: “Se o Coutinho bobear, arrebento com ele lá dentro do Maracanã”. Para isso, contaria com dez dos 11 titulares do time de 1979. A única baixa, como dito, era a de Jorge Mendonça, compensada com a chegada de Lúcio.
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No Flamengo, após quatro empates consecutivos (três deles fora de casa), Coutinho começava a viver um período de incertezas, com a imprensa começando a aventar um suposto desgaste entre ele e o elenco. E a vitória enfática dos reservas sobre os titulares num coletivo na semana do jogo fez com que o treinador resolvesse alterar o time, trocando Adílio por Andrade para fortalecer a combatividade no meio-campo. Toninho também voltava após lesão.
Em São Paulo, onde se costumava até mesmo ridicularizar o treinador rubro-negro pelo hábito de ler livros e mais livros sobre táticas, o jogo era tratado como o confronto entre a “experiência” (Brandão) e a “teoria” (Coutinho). Quando a bola rolou, de fato o primeiro tempo foi bastante estudado de parte a parte, com poucas chances de gol. O Flamengo, porém, aproveitou melhor as que teve e foi para o intervalo em vantagem.
Primeiro, aos 13 minutos, Andrade ganhou uma bola estourada com Rosemiro, e ela sobrou para Júlio César na ponta. O camisa 11 parou, olhou para a área e centrou. Gilmar saltou para a defesa, mas não segurou, e Tita rebateu de cabeça para as redes, abrindo a contagem. Depois, aos 33, Júnior fez jogada pela esquerda e sofreu falta do mesmo Rosemiro perto do bico da grande área. A cobrança de Zico foi perfeita, na gaveta de Gilmar: 2 a 0.
O Fla ainda esteve muito perto de fazer o terceiro ainda na etapa inicial, numa bomba de Toninho em cobrança de falta que Gilmar deu rebote, mas nem Zico nem Nunes conseguiram concluir. Mas, se não veio no primeiro tempo, acabou vindo no segundo, em que o time rubro-negro foi verdadeiramente avassalador. Logo aos sete minutos, Zico tabelou com Tita, entrou na área e foi derrubado por Pires. O próprio camisa 10 bateu e converteu.
Com a já confortável vantagem no placar, Zico alegou dores musculares e deixou o jogo aos 12 minutos, substituído pelo ponta-direita Reinaldo (Tita seria deslocado para a ponta-de-lança). Mas nem mesmo isso impediu o Flamengo de buscar – e, no fim das contas, infligir – uma goleada memorável sobre o time paulista, agora cada vez mais refém do bom toque de bola rubro-negro e desmantelado pelos deslocamentos constantes da ofensiva do Fla.
O quarto gol rubro-negro chegou a lembrar o de Carlos Alberto Torres na final da Copa de 1970. Júlio César bateu escanteio rolando a bola para Júnior, que carregou pela intermediária e abriu na diagonal, Nunes fez o corta-luz e então abriu-se um clarão pelo lado esquerdo da defesa palmeirense. Nele apareceu Toninho, chegando como uma locomotiva e enchendo o pé para fuzilar Gilmar. A vingança já estava completa. Mas cabia mais.
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Depois disso, o Fla relaxou e o Palmeiras foi para cima tentando diminuir a goleada. Antes que pudesse fazê-lo, porém, Tita combinou bem com Carpegiani pelo lado direito do ataque e chutou de virada para marcar o quinto gol. Na comemoração, era hora de extravasar: o camisa 7 correu o campo todo e se dirigiu ao setor das arquibancadas onde estavam os cerca de três mil palmeirenses. Com um “tchauzinho” maroto, acenava despedindo-se deles.
O Palmeiras ensaiou uma breve reação. Primeiro quando Marinho calçou César na área e o árbitro marcou pênalti, convertido por Baroninho com um chute forte. E em seguida quando um centro de Lúcio da direita encontrou Mococa nas costas da zaga rubro-negra para finalizar marcando o segundo. Mas não terminaria assim: o Flamengo não daria ao adversário o direito de colocar o ponto final no placar da partida em plena revanche.
E veio então o cruzamento de Reinaldo também da direita, procurando Nunes na segunda trave. O zagueiro Beto Fuscão não alcançou, e o camisa 9 rubro-negro, na pequena área, teve todo o tempo de ajeitar, deixar cair e bater seco, por entre as pernas de Gilmar. Só mesmo um gol assim poderia concluir a deliciosa vingança do Flamengo, um time que ali provava sua verdadeira força. E que permitia ao seu treinador calar a boca da imprensa paulista.
Depois da grande forra, o Flamengo tratou de garantir a classificação antecipada para a próxima etapa, já que faria no Maracanã seus dois jogos seguintes, contra Bangu e Santa Cruz – e venceria ambos por 2 a 1. Contra o primeiro, o personagem do jogo foi o árbitro Wilson Carlos dos Santos, que apitou um pênalti inexistente para cada lado: Zico e o lateral Ademir converteram. O outro gol foi de Nunes, escorando cruzamento de Júlio César.
Já contra o Santa Cruz, em 21 de abril, Andrade comemorou seu aniversário de 23 anos anotando um lindo gol para abrir o placar, num chute da intermediária que entrou no ângulo. No segundo, na etapa final, Júlio César conseguiu impedir a bola de sair pela linha de fundo e cruzou. O goleiro Carlinhos se atrapalhou e jogou para dentro. No fim, os visitantes diminuíram com Tadeu Macrini, num lance em que a defesa rubro-negra parou.
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A confirmação da classificação permitiu a Coutinho poupar Zico, então à beira de um desgaste físico mais sério. O camisa 10 ficaria de fora dos dois últimos jogos daquela etapa, com Tita ocupando sua posição. No domingo, dia 27, o time faria a partida de volta contra o Palmeiras no Morumbi, agora naturalmente com os paulistas ávidos por vingança depois da verdadeira surra sofrida no Maracanã. Mas ficariam apenas na vontade.
Depois de aguentar a pressão do time da casa por cerca de meia hora no primeiro tempo, o Fla saiu na frente com um golaço: Júlio César armou um salseiro na defesa palmeirense e passou de calcanhar para Júnior, que disparava em direção à linha de fundo. O centro do lateral encontrou Tita chegando como um raio na pequena área adversária. E numa cabeçada fulminante, o camisa 10 daquela tarde venceu o goleiro Gilmar e abriu a contagem.
O Palmeiras empatou três minutos depois com Jorginho, recebendo lançamento no meio da defesa. E virou logo no começo do segundo tempo com o futuro rubro-negro Baroninho, soltando uma bomba quase sem ângulo após rebote da defesa. Mas o Fla frustraria a torcida palmeirense a nove minutos do fim: Nunes carregou a defesa, Reinaldo cruzou da direita, Rondinelli escorou de cabeça e Carlos Henrique chutou de virada para empatar.
O ponto conquistado no Morumbi garantiu também a primeira colocação no grupo ainda com uma rodada pela frente. Mas antes de encerrar sua participação naquela etapa, o Fla foi a Belo Horizonte na quarta-feira, 1º de maio, enfrentar e vencer o Atlético no Mineirão por 1 a 0, gol de Tita, num confronto de times mistos, em amistoso comemorativo ao Dia do Trabalhador. Na volta, enfrentaria o Bangu no Maracanã, no dia 4, poupando vários titulares.
Coutinho deu descanso a Andrade, Carpegiani, Zico e Júlio César – os dois últimos se recuperando de problemas físicos – e ainda substituiu Rondinelli no intervalo. Mesmo assim, Tita garantiu a tarde, marcando os três gols (todos no segundo tempo) na vitória de 3 a 0. Primeiro, apanhando o rebote de um chute de Nunes. Depois, com um toque só, após o goleiro Arerê não segurar o cruzamento de Toninho. E por fim, numa cobrança de falta a la Zico.
A terceira fase
Os 16 clubes classificados para a terceira fase seriam novamente divididos em grupos de quatro equipes, mas desta vez se enfrentando em turno único. Era tiro curto: apenas três partidas para cada clube. Ao Flamengo coube reencontrar dois adversários da primeira fase, Santos e Ponte Preta, além da Desportiva, principal surpresa entre os que avançaram, e que fazia a melhor campanha de um clube capixaba na elite nacional em todos os tempos.
Na primeira rodada, em 10 de maio, o Fla recebeu a Desportiva no Maracanã e venceu por 3 a 0 numa tarde em que Zico e Nunes inverteram os papeis. Foram três assistências do centroavante para três gols do camisa 10. Primeiro, num cruzamento da esquerda para a cabeçada do Galinho. Depois, Nunes driblou o goleiro e centrou para Zico dominar no peito e chutar. E o terceiro, no último minuto do jogo, Nunes cruzou e Zico cabeceou meio sem querer.
O Santos bateu a Ponte Preta pelo mesmo placar no outro jogo do grupo, o que deixou o time campineiro dependendo de uma vitória sobre o Flamengo em seu estádio Moisés Lucarelli, na noite de quarta-feira, 14 de maio, para seguir com chances. O Fla, por sua vez, queria pelo menos um empate para enfrentar o Peixe na rodada decisiva ainda em boas condições. E conseguiria o ponto precioso, mas não sem enfrentar um adversário duríssimo.
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Empurrada pela torcida, a Ponte foi para cima e abriu a contagem aos 19 minutos da etapa final. Após confusão na área, o volante Humberto apanhou o rebote e chutou forte da marca do pênalti para abrir o placar. Mas o Fla não se deu por vencido e empatou aos 34: Zico arriscou de fora da área, Carlos não segurou e Nunes, oportunista, empurrou para as redes. No fim do jogo, Zico ainda foi atingido na barriga por uma pedra atirada por torcedores.
O empate tirou definitivamente a equipe campineira da briga. Mas, para o Fla, melhor ainda foi o resultado do dia seguinte, quando a Desportiva segurou o 0 a 0 com o Santos dentro de uma Vila Belmiro lotada, permitindo que os rubro-negros jogassem por uma nova igualdade diante do time paulista no domingo, 18 de maio, no Maracanã, por terem mais gols marcados, um dos critérios de desempate. Mas o Flamengo não se conformaria com a vantagem.
Curiosamente, o cenário lembrava muito o da fatídica partida contra o Palmeiras no ano anterior: o Flamengo a um jogo das semifinais do Brasileiro enfrentando um grande clube paulista que contava com uma equipe jovem, talentosa e de vocação ofensiva, diante de um público superior a 100 mil pessoas – desta vez, exatos 110.079 pagantes, que estabeleceram o recorde nacional de renda. Agora, porém, o desfecho seria completamente diferente.
O jogo contra o Santos fechou com chave de ouro a campanha rubro-negra naquela terceira fase. Os paulistas bem que tentaram assustar nos minutos iniciais, mas o Flamengo logo tomou conta das ações. Fechando os espaços, tinha sob controle os dois meias de criação do adversário (Pita e Rubens Feijão), impedindo que a bola chegasse aos perigosos ponteiros Nílton Batata e João Paulo. E confundia a defesa santista com sua movimentação incessante.
Mesmo em meio à excelente atuação coletiva, foram muitos os destaques individuais. Toninho, um colosso na defesa e no apoio. Júlio César, com seus dribles, um tormento constante para o lado direito da retaguarda santista. Júnior, além de tomar conta de Nílton Batata, juntava-se aos meias como mais um armador. Andrade, protegendo e apoiando com muita classe. E Zico, é claro, o grande construtor da vitória e da classificação.
O placar foi aberto logo aos 13 minutos, depois que o Fla já havia construído uma sucessão de jogadas ofensivas. Carpegiani, outro que esteve soberbo nos 45 minutos em que atuou, recebeu a bola no meio-campo e, de primeira, lançou Nunes, que caía pela ponta-esquerda exatamente como fizera contra a Desportiva. Zico, pelo meio, correu para acompanhar. O cruzamento veio na medida: o camisa 10 cabeceou para baixo, vencendo o goleiro Marolla.
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O arqueiro santista, aliás, revelaria-se a melhor figura de seu time. Depois de já ter espalmado um chute perigoso de Júnior, reapareceu de maneira brilhante aos 19 minutos, defendendo uma cabeçada de Nunes que tinha endereço certo. Pouco depois, Marolla também pegaria outra boa cabeçada, agora de Zico, e assistiria a outros chutes de Andrade e Tita passarem perto de suas traves. Tudo isso ainda no primeiro tempo.
Na volta para a etapa final, Carpegiani deixou o jogo por um desconforto físico e Adílio entrou em seu lugar. O substituto iniciaria a jogada do segundo gol, aos 13 minutos, puxando um contra-ataque e entregando a bola a Zico na intermediária. O Galinho arrancou fazendo fila na defesa santista até ser deslocado pelo zagueiro Neto na área. Pênalti que o próprio Zico bateu no canto, sem chances para Marolla, selando a classificação rubro-negra.
“Nossos jogadores esqueceram a vantagem do empate e chegaram a uma grande vitória. Na minha opinião, foi um show de autoridade técnica em todos os momentos”, declarava satisfeito Cláudio Coutinho nos vestiários. Uma afirmação que encontrava eco até no resignado treinador santista Pepe: “Atuamos contra o melhor time do Brasil no momento. E se o Flamengo continuar jogando dessa maneira, chegará facilmente ao título”.
Sobre Zico, que já chegava a 18 gols no Brasileiro e negociava uma renovação de contrato que elevaria seu salário a um milhão de cruzeiros, o maior do futebol brasileiro na época, Pepe também não economizou elogios: “Naquele lance em que ele pegou a bola no meio de campo e levou até a nossa área, cavando o pênalti e cobrando, ficou comprovado que Zico vale muito mesmo. Tudo que ele pedir tem que se dar, pois está muito bem”.
Assim, o Flamengo confirmou os prognósticos para o Grupo O e ficou em primeiro. Nas chaves M e N, também os clubes apontados como favoritos – Atlético-MG e Internacional – avançaram. Apenas o Grupo P surpreendeu, com a classificação do Coritiba à frente do favorito Corinthians e também de Grêmio e Botafogo. Os paranaenses seriam os próximos adversários do Fla. Mas esse confronto e também a decisão do título serão contados no próximo capítulo.
Até lá! SRN!
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