Everton Ribeiro ainda não renovou seu contrato com o Flamengo. Mas a depender da vontade do jogador, expressa em uma emocionante carta aberta no Players’ Tribune, ele ainda quer continuar no clube e voltar a conquistar títulos para enfrentar seu maior medo: decepcionar a torcida.
“Eu tenho um medo danado de decepcionar as pessoas. Só que isso não me paralisa. Pelo contrário, é um troço que me deixa esperto, me faz acordar toda manhã e pensar assim: bom, o que eu vou fazer hoje para me livrar desse medo? Eu só tenho uma resposta para essa pergunta. Só existe uma coisa que eu posso fazer para me livrar desse medo. É vencer. Para mim, o oposto do medo não é a coragem, é a vitória”, diz Everton no início do texto.
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Entretanto, ele admite que em 2023 ele e o Flamengo não cumpriram esse objetivo. Por isso, ele se desculpa com a torcida.
“Título nunca é demais. Quanto mais a gente tem, mas a gente quer… Mas esta temporada, definitivamente, não foi do jeito que planejamos. Precisamos reconhecer isso. Assumo a minha parcela de responsabilidade e compartilho da frustração de todo o grupo por ter decepcionado nossa torcida.”
Everton, porém, diz que continua acreditando que o atual grupo do Flamengo ainda tem “muito mais para conquistar”.
“Por tudo que vencemos, o torcedor esperava mais de nós. Afinal, jogar no Flamengo exige um compromisso permanente com a vitória, o que me faz recordar que um ano atrás, quando ganhamos a segunda Libertadores da nossa geração lá em Guayaquil, tínhamos certeza de que ainda havia muito mais para conquistar. E eu sigo acreditando nisso.”
‘Meu sonho é continuar vencendo com o Mengão’
O meia relata diálogo que teve recentemente com um torcedor sobre o seu maior sonho.
“— Tio, qual é o seu sonho?
Caraca! Só uma criança para fazer uma pergunta dessas. Meio desprevenido, eu respondi de bate-pronto, sem pensar muito, de coração aberto:
— Meu sonho é continuar vencendo com o Mengão.”
O contrato de Everton Ribeiro com o Flamengo vence em dezembro e ainda não foi renovado. Outros clubes, como o Fluminense, já manifestaram interesse de contratar o jogador. Vai ser difícil, porém, substituir o espaço do Flamengo no coração de Everton, que passa pela relação da torcida com seus dois filhos, Guto e Totói.
“Eu tenho dois moleques. Dois carioquinhas flamenguistas da gema. Totói, mais novo, brincalhão, extrovertido, não pode ver alguém com a camisa do rival na rua que já manda “Aí, nós vamos amassar vocês!”. A pessoa dá risada, brinca com ele, vem conversar, trata a gente com cordialidade. O mais velho, o Guto, nasceu prematuro em 2018 e precisou ficar na UTI neonatal. Todas as noites eu ia dormir no hospital com ele e a Marília. E no meio desse turbilhão, na quarta-feira, tinha jogo contra o Emelec, no Maracanã, valendo classificação para as oitavas da Libertadores”, lembra.
“Vocês podem imaginar como estava sendo difícil para mim. Eu ia me perdendo nessa aflição quando pisei no gramado e um grito absurdo, diferente dos outros que eu já conhecia, começou a vir da arquibancada. Levei um tempo para compreender o que a galera dizia. Quando compreendi, quase caí no chão. O Maraca inteiro cantava o nome do meu filho. Dá para imaginar um negócio desses? P****, velho!”
‘Ser Flamengo é como a vida’, resume Everton Ribeiro
Everton dá razão à torcida em suas cobranças ao time.
“Ok, jogar no Flamengo não é uma eterna lua-de-mel. Há momentos pesados de cobrança e pressão e, sinceramente, eu acho que nem dá para ser diferente. Tudo no Flamengo é intenso, grande, poderoso: a história, as conquistas, os ídolos, a torcida, os clássicos. Quem joga aqui precisa entender que carrega a esperança, o sonho, a felicidade de milhões de pessoas. Tem pai de família que economiza no supermercado para ver o Flamengo no Maracanã pelo menos uma vez na vida. Quem não entende isso, não entende o Flamengo, não entende o futebol, não entende nada”, afirma.
Ele garante que fazer a torcida feliz é o principal motivo para ele continuar jogando.
“Então, eu estou contando essas coisas para deixar claro que representar bem essas pessoas, ou, como eu digo, tentar não decepcioná-las, é o mínimo que dá para fazer. No fundo, a gente joga bola por isso. Podem achar que é grana e adrenalina. Também, mas não é o que vem primeiro. A gente joga para fazer feliz quem ama a gente.”
Por fim, o meia encerra o texto com uma declaração de amor ao Flamengo.
“Títulos outros clubes também ganham. O que é único do Flamengo, patrimônio, é o inexplicável de ser Flamengo. Se aquele garotinho voltar no estacionamento do CT e me perguntar o que é ser Flamengo, eu vou responder que é como tomar um picolé com os filhos num fim de tarde: simples, terno, memorável e poderoso. Ser Flamengo é como a vida. Uma vez e para sempre”, resume, por fim, Everton Ribeiro.
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