Já passou da hora de acolher a torcida e dar contrapartidas a ela.
Por isso, o programa de Sócios torcedores do Flamengo vem mudando pouco a pouco, tem evolução constante. Em um primeiro momento funciona o pedido forte de ajuda, o chamado rasamente de “Sócio doador”, depois é preciso mais, trabalho de prospecção, mudança de paradigma. Já existem contrapartidas razoáveis para se associar, na minha opinião, bem melhores do que no momento em que o programa foi lançado, Mas como pensar em aumentar a adesão e aproximar aos torcedores do clube e não o contrário?
No futebol se vive de paixão, um “produto” em que o “consumidor” é fiel, não há mudanças. Tem um famoso dito em que “muda-se de religião, de esposa, de família, de sexo, mas ninguém troca de time”! O Flamengo como instituição deve parar de se pensar como “nação” e se pensar como “Estado”, ajudando a todos os seus concidadãos a rumarem à mão-dupla clube torcida. A torcida de modo geral quer ajudar, sempre esteve ao lado do clube em bons ou maus momentos. Sempre. Da mesma forma que ela quer ser ouvida, fazer “parte do negócio”.
A relação não pode se dar apenas nos dias de jogos, o clube tem que querer fazer parte da rotina diária do torcedor. Mais do que já faz. Tempos atrás postei uma coluna onde o amigo Thiago Gonçalves (nosso correspondente especial de Portugal), me enviou depoimento de Portugal, por e-mail:
“Tenho imagens e acho que podem interessar. Veja o nível do trabalho que o Benfica faz por cá. Hoje cheguei a casa e quando fui à caixinha de correio ver se tinha correspondências, deparo-me com um panfleto do Benfica, mostrando uma promoção para captação de novos sócios e junto, num destacável, um envelope e a ficha de inscrição em que bastava o cara preencher e enviar de volta (sem selo) e passado uns dias recebe em casa o cartão de sócio.
Detalhe: 3 meses de mensalidades grátis é a promoção e ainda recebe dois ingressos para um jogo no estádio da luz”.
Não deixa de ser uma opção, um caminho. Mas me vem uma pergunta recorrente, porque já falei sobre embaixadas no Buteco do Flamengo por 9 vezes. N-O-V-E vezes. Esta é a décima vez em 4 anos. Porque o Flamengo aparentemente abandonou as embaixadas? Falo isso na semana de aniversário do clube, quando todas elas estão reunidas para festejar e confraternizar na Gávea. As embaixadas são a solução, a meu ver, de uma maior aproximação entre clube e torcida, além da monetização do Flamengo. Sem falar na abertura política merecida, a possibilidade de democratização real do clube. Vejamos as diferenças básicas entre os três modelos:
- Tem mais de 800 consulados espalhados pelo mundo, mais de 300 apenas no RS (298 cidades do RS), 401 cidades com consulados fora do RS, e 81 cidades com consulados fora do Brasil.
- Modelo parecido com as Casas Benfica.
- São necessários 10 associados do clube para se criar um consulado em uma cidade do país, o cônsul passa por alguns testes e há alguns pré-requisitos.
- Modelo de território é simplificado e amplamente comercial, ponto de encontro e de consumo.
- De réplica simples, desde que o Flamengo tenha profissionais específicos para o relacionamento com a torcida. Hoje no Inter, 11 pessoas trabalham no relacionamento com os sócios.
- No Flamengo apenas dois, posso estar enganado (dos que tenho conhecimento, o Dirceu com licenciados e o Saboia que trata da questão das embaixadas, diretamente).
Modelo importante, porque demonstra que ao contrário do que eu e a maioria das pessoas imagina, o internacional tem mais consulados fora do RS do que dentro do estado. Ao menos, a lista de cidades é maior fora do que dentro. Isso seria fundamental para que o Flamengo consiga expandir este ponto de relacionamento com sua torcida, tanto pelo aspecto institucional, quanto no comercial.
Atentando-se que 80% da torcida do Flamengo se encontra fora do RJ, onde temos 96 cidades e metas particulares observadas no projeto, seria ótimo que mantivéssemos a essa proporção para territórios da nação. Porém, considerando que o RJ seja nosso mercado principal, a proporção de pontos de venda (Embaixadas) seja maior por aqui, exatamente como fazem Inter e Benfica.
A ideia é de que alcancemos esses números até 2022, dobrando a proporção até 2025, quando projetamos alcançar a meta de 2.000 Territórios da Nação, de forma sustentada. Projetando para o triênio 2016-2018 a meta estabelecida seria de ao menos mais 200 territórios pelo Brasil.
- O clube tem o maior número de associados do mundo, deve perder o posto por conta de um recenseamento interno de associados. Mesmo assim, deve permanecer com mais de 180 mil sócios ativos.
- O Benfica tem 185 Casas Benfica em Portugal e mais 37 outras espalhadas pelo mundo (eram mais de 200, algumas foram descadastradas).
- O modelo de Casas Benfica é um modelo comercial e de aproximação com os associados do clube espalhados pelo mundo. Sei que existem Casas benfica no Brasil, mas estas não são “oficiais” segundo o site do clube português.
- Também clube poliesportivo, com handebol, futsal, basquete, vôlei e hóquei sobre patins, dando direito a assistir a todas as partidas de cada esporte na temporada regular de cada modalidade, via associação de “ST olímpico” que custa 5 Euros/mês.
- Tem uma grande rede de parceiros que vão de dentistas até postos de gasolina, por exemplo. Muitas destas casas contam com um integrado sistema de vendas, dentre os quais, ingressos para partidas do Benfica.
Existem 3 tipos de unidade, vamos dizer assim: Casa, Filial, Delegação. - O Benfica é um clube de 1904, a primeira Casa Benfica data-se em 1914. Mais de 100 anos.
- Segundo o site das Casas Benfica: “Nas Casas do Benfica pode-se regularizar as quotas de sócio de forma rápida e eficaz, comprar bilhetes para os jogos do Benfica e até votar nas eleições para a presidência do clube (nas Casas do Benfica de Vila Nova de Famalicão, Coimbra, Évora e Faro os sócios podem votar por voto electrónico)”
- Vemos que em algumas casas específicas é permitido o voto eletrônico, ou seja à distância. Provavelmente com urnas eletrônicas ou computadores auditados.
O voto eletrônico é uma demanda antiga da torcida do Flamengo, cada vez mais por estarmos em tempos conectados e de discussão e consciência política. Sei que para efetivação da regra seria necessária mudança do estatuto do clube. E esta modificação asseguraria que os sócios torcedores que o Flamengo tem obtivessem direito ao voto. Isto pode ser pensado e projetado agora para um futuro próximo, já que caminhamos para uma abertura política do Flamengo, observando a entrada constante de associados mais jovens no clube.
- O Flamengo tem apenas 96 embaixadas, das quais apenas 40 aparecem no site oficial. A proporção de torcedores por embaixada no Flamengo é bem ruim, uma embaixada para Proporção torcedor/embaixada. Números bem ruins.
- A relação entre o clube e suas embaixadas, tem que ser um movimento coordenado de mão-dupla, facilitado, não somente um movimento espontâneo como diz o clube. : “As Embaixadas da Nação são movimentos espontâneos de torcedores rubro-negros espalhados por diversas localidades do Brasil e do exterior, que se reúnem para assistir aos jogos do Flamengo, comemorar suas vitórias e conquistas, bem como discutir assuntos relacionados ao clube”.
- Para uma coletividade de torcedores se tornar uma embaixada do Flamengo é preciso: “Realizar encontros com frequência em locais fixos e pré-determinados, escolhidos pelos participantes; Dispor de coordenadores com atribuições de marcar as datas e tomar as providências para a realização das reuniões; Disponibilizar endereço para correspondência; e Ter mais de um ano de existência”.
- Sobre as condições o clube ainda diz: “Os movimentos espontâneos já existentes com as características enunciadas acima poderão ser oficializados como Embaixadas da Nação, mediante solicitação de seus coordenadores à Diretoria de Responsabilidade Social/Projeto Embaixadas da Nação Rubro-Negra, do Clube de Regatas do Flamengo.
Essa oficialização dar-se-á pela emissão de um diploma a ser conferido pelo Clube de Regatas do Flamengo, assinado pelo presidente do Conselho Diretor.
A condição de Embaixada da Nação cessa por iniciativa da própria Embaixada, ou, automaticamente, quando deixarem de existir as características definidas para tal. Para mais informações, entre em contato pelo e-mail [email protected] ou pelo telefone (21) 2159-0112”.
Os critérios para se tornar embaixada da nação, projeto do Flamengo são mais rígidos do que os de Benfica e Internacional, por isso flexibilizar talvez seja uma boa saída para crescer. Em “flexibilizar” leia-se tornar o processo mais simples. Por conta dessa “rigidez” as informações são escassas, também por conta de uma escolha de um clube assaz endividado, falta investimento. Penso que esta área precise de investimento e atenção, pois a mesma pode ser uma fonte de retorno e satisfação institucional e financeira, porque não.
O Internacional consegue espalhar-se mais do que o Benfica, tendo mais embaixadas fora do país do que o clube português. O Flamengo tem todas as condições de ter um projeto maior do que os dois citados. Temos 5.570 municípios, projetaria 4.000 pontos até 2025, daqui há 10 anos. Uma bela meta, não? Considerando que cada ponto do internacional proporciona 10 sócios para o clube, teríamos como base 40.000 sócios, se esse for o caminho escolhido.
O Internacional ultrapassou a casa dos 147 mil sócios-torcedores e hoje tem mais de 800 Consulados, isto quer dizer que podemos considerar que cada Consulado conseguiu trabalhar para que mais de 180 torcedores em media se tornassem sócios do clube gaúcho… P-A-R-C-E-R-I-A! As Embaixadas seriam as parceiras ideais para o Flamengo na captação de sócios-torcedores. Como temos sete vezes mais torcedores do que o Internacional e existem rubro-negros em quase todos os 5.570 municípios do Brasil, existe também demanda reprimida, potencial desconhecido. Um grande trabalho, se bem-feito, promove grandes oportunidades e cabe ao clube uma ação que envolva as Embaixadas, maior parceira em potencial que o Flamengo poderá ter.
Penso em “Comunidades Rubro-Negras”, “Territórios da Nação”, Embaixadas que promoveriam experiências ligadas ao Flamengo de modo virtual e físico (coletivo), nos dias de jogos com sede física ou ponto de encontro avalizado e registrado pelo clube, chancelado. O exemplo já existe, o da união de pontos “físicos” e redes virtuais, torcedores castrados e de alguma maneira em contato com o clube. Acreditem. Trocando uma ideia sobre embaixadas, André Amaral do ótimo Ninho da Nação, me informou sobre a “Rubro-Negros da Ilha”, uma Torcida Organizada da qual ele é parte, e que já virou Embaixada, no ES.
André me disse que “no grupo do Facebook são mais de 3.400 pessoas e geralmente 100 torcedores, aproximadamente, assistem aos jogos do Flamengo, juntos em Vitória”. Se estimulados pelo clube, quantos estariam dispostos a contribuir? Suponhamos que 60% destes tenham a vontade de se integrar ao ST. Só desta “Embaixada”, seriam 2040 CRNs, capitalizando aproximadamente R$ 500.000,00/ano.
Poderia subdividir a administração deste projeto em nucelos regionais: Norte, Nordeste, Centro-oeste, Sudeste, Sul. Como a demanda de Norte e Nordeste são maiores, poderia se dividir ainda mais para administrar. Criando pequenos nucelos de no mínimo 100 pessoas em cidades de até 50 mil habitantes para promover a parceria institucional do clube. O clube poderia retornar o investimento para própria embaixada, como “prêmio”. Se parte da receita retornasse para a manutenção da estrutura da embaixada, seria um ótimo negócio para as duas partes.
O ideal que se façam testes com as embaixadas já existentes, iniciando com 20 projetos pilotos, estimulando as embaixadas a prospectar o torcedor. Ideal para criar um padrão, treinar, normatizar. Poderia também se pensar na criação de um selo ou carimbo, que registre a originalidade, autenticidade; assim como a criação de um estatuto, com regras de manutenção do programa com punições individuais, coletivas passiveis de responsabilização das embaixadas e individualmente em casos de crimes (roubos, brigas…).
Cada lugar teria uma abordagem diferente, porque tem característica diferente. O Flamengo deve se adaptar a torcida, com suas regionalidades, não o contrário. Algumas ações e medidas deveriam ser definidas para o estabelecimento destas parcerias e o fortalecimento das Embaixadas como representantes oficiais do Flamengo. Os parâmetros de valores e distâncias para a prospecção e contato com o clube seriam estabelecidos. Quanto mais longe do RJ mais barato para o associado:
- R$ 40,00 para torcedores no raio de até 75 Km da Gávea
- R$ 30,00 no raio entre 75 Km e 200 Km da Gávea
- R$ 20,00 para torcedores além de 200 Km da Gávea.
Para o torcedor do Território/Embaixada Rubro-Negra, que costuma e deseja vir ao Rio de Janeiro, visualizo outra fonte de receita e aproximação entre as partes, um programa em conjunto com a prefeitura da cidade, já que a torcida é um bem cultural e o clube um patrimônio da do Rio. Seria ótimo a criação de um City Tour do Flamengo (Gávea (clube, Museu, Megaloja), Lagoa (remo), Orla (Leblon, Ipanema, Copacabana, Leme, Enseada de Botafogo (passar), parada na praia do Flamengo e nas dependências que fundaram o clube), Porto do Rio, Maracanã. Itinerário de ida e volta. “Pontos finais” na Gávea e no Maracanã. Paradas Gávea, Lagoa (Remo), Praia do Flamengo, Maracanã.
Essa é uma opção entre as dezenas que podem e devem ser criadas. O mais importante é a aproximação entre as partes e a formatação de um setor de projetos, para que sejam desenvolvidos e apreciados, avaliados, catalogados, nunca esquecidos. Desenvolver uma linha de produtos específicos para esse torcedor das embaixadas, que está interessado em “consumir o Flamengo” é parte fundamental da proposta. Algo precisa ser feito para aproximar o clube de seu torcedor mais fiel, aquele que mora longe da Gávea, do Rio de Janeiro. Quem vos fala é um carioca.
Luiz Filho escreve no blog Overlapping, da plataforma MRN Blogs. Também mantêm coluna do www.butecodoflamengo.com
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