Djalminha é um dos expoentes máximos da expressão “craque, o Flamengo faz em casa”. Uma coisa que sempre me chamou muito a atenção nesse jogador espetacular foi a sua ambidestria. Faça um exercício, caro leitor do MRN. Quantos jogadores você conhece hoje hábeis com as duas pernas?
Quem vivenciou o futebol brasileiro na década de 1990 suspira de saudade ao falar desse monstro do futebol. Para nós, flamenguistas, Djalminha poderia ter sido muito mais do que foi, embora sua passagem tenha sido marcada por títulos importantes. Mas será que foi assim mesmo?
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Djalminha: filho de craque, craque é
É impossível não nutrir expectativas sempre que o filho de um ex-grande jogador desponta para o futebol. Assim foi com Edinho, filho de Pelé, Thiago, filho de Zico e até Rodrigo Gama, filho do Maestro Junior, entre muitos outros. Talvez Edinho tenha sido o único desses que ainda conseguiu obter certo destaque, firmando-se como titular no gol do Santos na década de 1990.
Sem qualquer pretensão de esgotar o debate, arrisco dizer que Djalminha é um dos raros casos em que o nome do pai acabou por ficar à sombra do filho, mesmo o pai tendo sido um grande jogador. Acho até que parte dessa percepção seja pelo fato de Djalma Dias, o pai, ter sido zagueiro — e que zagueiro!
Falando em Santos, é curioso que Djalminha tenha nascido na cidade que consagrou Pelé e tenha começado sua carreira no Rio, nas categorias de base do Flamengo. Consequência da vida nômade que muitos jogadores de futebol acabam por levar, na qual filhos nascem aqui para serem criados ali.
Como foi a passagem de Djalminha pelo Flamengo
Djalminha é cria do Flamengo. Ele é um dos muitos grandes jogadores que surgiram naquela que se pode chamar de “segunda geração de ouro”, como era a safra de atletas que surgiu no final da década de 1980 e início da de 1990.
Foi em 1990 que o Fla conquistou a sua primeira Copa São Paulo de Juniores, com gol de Junior Baiano na final contra o Juventus-SP. Também nessa competição, o futebol brasileiro seria apresentado ao talento de Djalminha, que só faltou fazer chover.
Nas semifinais, por exemplo, meteu logo 5 gols no Corinthians. Eram tempos nos quais o sucesso de um time na Copinha era quase garantia de sucesso no profissional. Tanto que, daquele esquadrão de garotos, mais da metade seria aproveitado na categoria principal. Além de Djalminha, faziam parte daquela safra Nélio, Paulo Nunes, Piá e Marcelinho, que ainda não havia incorporado o “Carioca” ao nome.
Uma coisa que acho interessante é a percepção que alguns rubro negros têm de que Djalminha fez mais sucesso no Palmeiras do que no Flamengo. Com o Manto Sagrado, ele fez 129 partidas, anotando 28 gols, enquanto pelo alviverde foram 95 jogos e 51 gols.
Acredito que muito dessa percepção foi por causa do histórico título paulista de 1996, em que Djalminha infernizou as defesas adversárias com gols de tudo quanto era jeito. Assim como hoje, o porco era turbinado por um patrocinador forte, no caso, a Parmalat, que tirou Djalminha e Luizão do Guarani, onde em 1994 fizeram um campeonato brasileiro excepcional.
Mas a passagem de Djalminha pelo clube que também consagrou seu pai ficou só nisso, enquanto que, pelo Fla, ele ganhou o estadual de 1991, a Copa do Brasil de 1990 e o Brasileiro de 1992.
A briga com Renato e o “degredo” para o Guarani
A temporada de 1993 prometia, se não fosse um detalhe: Djalminha não levava desaforo para casa. Outro jogador que também não deixava por menos era Renato Gaúcho, titular absoluto do ataque rubro negro naquele ano. Dois “fios desencapados” que, não tardou muito, entraram em curto ao se tocarem.
Assim, depois de uma daquelas discussões em campo que acontecem praticamente todo jogo, Djalminha e Renato foram às vias de fato em rede nacional. Aliás, como mostra essa matéria interessantíssima do Marcos Uchôa, os dois eram “useiros e vezeiros” em arrumar confusão.
Ele só errou em dizer que a diretoria do Flamengo passava a mão na cabeça dos jogadores. Nesse caso, o punido foi Djalminha, com uma venda involuntária para o Guarani, encerrando para sempre sua passagem pelo futebol profissional do Mengo.
A consolidação nos clubes “verdes”
Lá foi Djalma Dias — assim ele era chamado naqueles tempos — para o Guarani, que naquela época era um time casca grossa. Também naquela época, os times pequenos vez ou outra surpreendiam, montando esquadrões respeitáveis mesmo com pouca grana.
Em 1993, por exemplo, o Vitória emergiria das profundezas da segunda divisão para encantar o Brasil com o seu time cheio de garotos talentosos, entre os quais estavam Dida, Alex Alves, Paulo Isidoro, Dão e Rodrigo, assessorados pelos experientes Roberto Cavalo e Picchetti.
A vez de Djalminha chegaria em 1994, quando o Guarani montou uma bela equipe, que só parou na semifinal para o então poderoso Palmeiras, no confronto que muitos acreditavam ser uma final antecipada — e foi. Detalhe: em 1993, o Bugre já estava em alta, conquistando um honroso 6º lugar no Brasileirão.
Em 1994, Djalminha só faltou fazer chover, formando uma linha de frente infernal com Amoroso e Luizão. Abastecidos pelos passes milimétricos, dribles desconcertantes e lançamentos precisos, a dupla Amoroso-Luizão anotou nada menos que 28 dos 45 gols que o Guarani marcou naquele campeonato. Amoroso foi inclusive o artilheiro, com 19 gols, ao lado de Túlio.
A propósito, aquele time do Guarani não era nada ruim. Na zaga, tinha o excelente zagueiro e cobrador de faltas Jorge Luiz, além de Julio Cesar, o Imperador, no ataque. Para quem não lembra, é de Julio o gol do título do penta em 1992, no empate de 2×2 contra o Botafogo.
La Coruña: idolatria e conquistas
Até então, Djalminha encantava mais pelo futebol arte que praticava. Precisava ainda confirmar que era de fato um craque conquistando títulos. Os que havia ganho pelo Flamengo, embora importantes, ainda não eram na condição de protagonista.
A chance veio com a venda para o La Coruña, que na década de 1990 deu para comprar tudo quanto era jogador brasileiro. Por lá passaram Mauro Silva, Bebeto e Donato, este inclusive se naturalizando espanhol. Pelos blanquiazules, Djalminha fez 160 partidas entre 1997 e 2004, marcando 45 gols.
Também levantou as taças do Campeonato Espanhol em 1999/00, Supercopa da Espanha em 1999/00 e 2001/02 e a Copa do Rei em 2001/02. É a fase mais vitoriosa do clube da Galícia, cuja torcida, como é de se esperar, tem em Djalminha um dos seus maiores ídolos.
Porém, nem tudo foram flores. A personalidade de Djalminha, que anos antes o tirou do Flamengo, custou a ele uma vaga na seleção na Copa de 2002. Tudo por causa de uma “encarada” no então técnico do La Coruña, Javier Irureta que, segundo Djalma, o mandou tomar naquele lugar.
Pós-carreira como jogador
Qualquer tentativa de especular se Djalminha seria um fenômeno no Flamengo como foi em outros clubes é mero exercício de achismo. Acho até que, para compensar esse sentimento, foi que Djalminha liderou a criação de uma nova categoria, o Showbol, que ficou bastante popular em meados da década de 2000 e 2010.
Também foi uma forma de compensar a falta de uma passagem mais longeva pela seleção brasileira, com a conquista do mundial da modalidade em 2006, na Espanha. Foi a última oportunidade de ver Djalminha em ação, esbanjando todo seu talento e jogadas inacreditáveis.
Aliás, em entrevista recente para o canal do Zico, ele já manifestou interesse em voltar com a categoria. Quem sabe teremos mais uma chance de ver Djalminha em campo pelo Mengão?
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