Como a abertura para jogadores negros fez do restrito, branco e elitista Flamengo o miscigenado e imenso Mais Querido do Brasil
Rio de Janeiro, final da década de 20. O Flamengo é mais um clube poliesportivo dentro os inúmeros existentes na então capital do Brasil. Já tinha seu destaque ao conquistar taças e vitórias marcantes no popular remo e no pungente futebol. Mas sua futura grande marca, a Nação Rubro-Negra, ainda não existia. Mas isso estava prestes a mudar.
Assim como a maioria das agremiações da Zona Sul carioca, o clube (que ainda não atendia na atual sede da Gávea) era restrito apenas a brancos. Há registros de mulatos atuando pelo Flamengo, como é o caso do maior artilheiro da era amadora do Rubro-Negro: Claudionor Gonçalves da Silva, o Nonô. Um atacante estilo Adriano Imperador, que balançou as redes nada menos que 121 vezes em 146 jogos, entre 1921 e 1930.
Outro que não era branco que atuou com o Manto foi a lenda Friedenreich, o maior jogador brasileiro da era amadora, que jogava pelo Ypiranga (SP), mas foi emprestado ao Flamengo para o amistoso contra o Sportivo Barracas, da Argetina, em 1917. Porém foram casos isolados, que não apagam a proibição de negros atuarem pelo clube.
Foi então que o Flamengo embarcou com seu elenco reforçado pelos negros Jarbas, do então Carioca Futebol Clube (atual Carioca Esporte Clube); Roberto, da Liga de Niterói; Gradim, do Bonsucesso; e Ladislau da Guia (irmão do Domingos da Guia), do Bangu.
Como mostra a afirmação do goleiro Rubro-Negro da época, Fernandinho, no contexto daquele tempo podia-se fazer a diferenciação entre negros e mulatos: “Muita gente pensava que foi o Nonô (o primeiro negro a atuar pelo Flamengo), só que ele era mulato. Negro de verdade era o Jarbas, um atacante muito veloz”, comentou o ex-atleta para o livro “100 anos de bola, raça e paixão: A história do futebol do Flamengo”, de Arturo Vaz, Celso Junior e Paschoal Ambrósio Filho.
Tudo começou a mudar quando o Flamengo fez uma excursão para o Uruguai, em abril de 1933, a primeira internacional do time da Gávea. Era cada vez mais comum as excursões internacionais. E os clubes pediam jogadores emprestados de outras equipes para se reforçarem evitando vexames além da fronteira.
Foi então que o Flamengo embarcou com seu elenco reforçado pelos negros Jarbas, do então Carioca Futebol Clube (atual Carioca Esporte Clube); Roberto, da Liga de Niterói; Gradim, do Bonsucesso; e Ladislau da Guia (irmão do Domingos da Guia), do Bangu.
A iniciativa de seguir ao Uruguai com jogadores negros partiu do presidente Bastos Padilha, que já planejava abrir o clube para negros e usou a excursão como uma semente dessa ação. Então, a terra de Arrascaeta foi palco de dois momentos históricos do Flamengo: a primeira vez que teve três ou até quatro jogadores negros em campo e a primeira vitória no exterior, com o 3 x 2 sobre o Peñarol.
No retorno ao Brasil, o clube da Gávea tenta contratar jogadores que estavam apenas emprestados para a viagem, conseguindo a permanência Jarbas e Roberto.
Profissionalização
Em junho de 33 acontece uma das maiores tomadas de decisão da história do Flamengo, que é a profissionalização do seu futebol. O clube abandona o Campeonato Carioca organizado pela Associação Metropolitana de Esportes Athleticos (AMEA), uma liga amadora reconhecida pela CBD e pela FIFA, e ingressa no Campeonato Carioca organizado pela Liga Carioca de Futebol (LCF), onde estavam os principais times do Rio de Janeiro: Fluminense, Vasco, América, Bonsucesso e Bangu, todos profissionalizados.
Então, no dia 10 de julho de 1933, num Fla-Flu, o Flamengo entra em campo com seus reforços Jarbas e Roberto e faz sua primeira partida oficial com jogadores negros. A disputa terminou em 3 x 1 para o Rubro-Negro.
Nos próximos dois anos outras contratações de negros aconteceram, poucas fizeram tanto sucesso quanto Jarbas, o Flecha Negra, o qual se tornou o sexto maior goleador da história do Flamengo com 154 gols em 380 jogos.
O reinado solitário de Jarbas terminou onde começa o reinado do Flamengo nas arquibancadas. Em 1936 o mesmo presidente Bastos Padilha põe em prática um plano para a massificação do clube da Gávea. Para isso ele contrata nada menos que três astros da seleção brasileira: Domingos da Guia, Leonidas da Silva, o Diamante Negro, e Fausto, o Maravilha Negra.
Em junho de 33 acontece uma das maiores tomadas de decisão da história do Flamengo, que é a profissionalização do seu futebol.
Bastos Padilha estava obcecado em fazer do Flamengo o time mais amado do Brasil. Era importante introduzir a miscigenação. A sociedade estava mudando e o clube já tinha o maior apelo popular no Rio de Janeiro.
As contratações de astros negros fizeram parte da luta de Padilha contra um Flamengo elitista somado a uma visão de grandeza que passava pela geração de ainda mais identificação com a população. Um exemplo desse diálogo entre o clube e sua torcida é a interação através de concursos para escolha de slogans sobre o clube.
De norte a sul do Brasil ecoava a frase de Mário Filho, “o Flamengo se deixa amar” e assim tornou-se o time do povo, do negro, do mestiço, do mulato.
O Mais Querido do Brasil.
Assim surgiu a Nação Rubro-Negra, junto com a sua consciência negra.
Com consultoria do jornalista e historiador Emmanuel do Valle.
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