Um Flamengo com ainda mais soluções e ideias. Este é o recomeço do trabalho de Jesus em 2020
Blog Ninho do Urubu | por Bruno Guedes
O atraso tático no Brasil era tão grande quando Jorge Jesus chegou ao país, que logo em seus primeiros jogos houve um assombro por parte dos que acompanham apenas o futebol brasileiro. Eram soluções táticas e pressões com ou sem a bola que só se viam nos jogos internacionais. Após ganhar quase tudo, o português agora apresenta outro elemento nesta temporada: a evolução. Ao contrário de muitos treinadores tupiniquins, o luso não sentou no seu trabalho e ficou acomodado, mas criou mais variações para o Flamengo de 2020.
A partida contra o Bangu, na volta do futebol no Rio de Janeiro, mostrou uma equipe com algumas ideias novas, entretanto ainda em ritmo lento por causa de tanto tempo parado. Já contra o Boavista, na última quarta-feira, o panorama foi outro por diversos fatores. O primeiro foi a saída do Gabigol, poupado por dores musculares. A entrada do atacante Pedro apresentou uma importante mudança tática que ampliou o leque de opções para o restante da temporada.
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Ao contrário de Gabriel Barbosa, o recém contratado jogador tem um perfil mais clássico do camisa 9, o centroavante. Ainda que tente sair mais da área para buscar a bola e criar opções de passes ou espaços, o atleta é mais fixo. Isso faz com que não só a defesa também acabe ficando presa à marcação, como cria uma profundidade, forçando o sistema defensivo a recuar. E foi por causa desse cenário que Jorge Jesus conseguiu uma variação tática para jogos mais físicos e que necessite pressionar o adversário contra o seu gol.
Se Gabigol é bastante móvel, um atacante que cai pelos lados, inverte posição com os outros dois avançados confundindo bastante os sistemas defensivos, Pedro faz com que Arrascaeta e Bruno Henrique possam trabalhar atrás dele. Isso é, nos espaços que a defesa deixa por conta dos buracos que a marcação sobre o centroavante deixam. Foi por ali que a dupla, contra o Boavista, não sou atuou enquanto ele esteve em campo, como se aproximou bastante e confundiu ainda mais o rival.
O resultado foi um Boavista completamente pressionado contra a sua área e sem nenhuma reação. Praticamente ficou os 90 minutos no seu campo defensivo, tentando marcar e evitar gols. Nesse panorama, há que se ressaltar: mesmo inferior tecnicamente, a equipe de Saquarema fez uma partida digna, tentando jogar como conseguia contra o forte time do Flamengo.
Até por conta disso, Éverton Ribeiro acabou também atuando nesses espaços, quase formando um trio. E esta formação gerou uma solução que é bastante vista na Europa: com laterais apoiando por dentro, quase como volantes. Além de irem à linha de fundo, ajudavam nessa flutuação ofensiva. E Gérson, não à toa chamado de Coringa, novamente numa noite inspirada. Apesar de estar em todas as faixas do campo, quando centralizava era fatal. Quase sempre tocava na bola e se tornando o homem do penúltimo passe, aquele que acha os atacantes livres.
Já no segundo tempo, Jorge Jesus apresentou mais ideias que começam a florescer. Pedro e Éverton Ribeiro saíram, entraram Michael e Vitinho. Bruno Henrique passou a fazer função de centroavante, já utilizada algumas vezes em 2019, mas agora com estes dois ao seu lado. Um ataque mais móvel, à exemplo da temporada passada, mudando sempre de lado ou posições. Só que a novidade foi um Arrascaeta mais recuado, pelo meio, porém também entrando na área. Uma espécie de camisa 10 clássico ou ponta de lança, como antigamente.
Neste formato, laterais apoiaram mais abertos e também congestionando e criando enorme confusão defensiva no Boavista. Durante alguns ataques, o Flamengo chegou a ter oito jogadores dentro ou próximo à área. Ou seja, apenas os zagueiros e Diego Alves não estavam ali. E vale destacar, estes também construíram as jogadas, acelerando os passes e dando no máximo dois toques na bola.
Um Flamengo com ainda mais soluções e ideias. Este é o recomeço do trabalho de Jesus em 2020. Ao contrário dos técnicos brasileiros que acham uma solução e se acomodam nela por anos – em alguns casos, décadas – o português buscou aprimorá-las. E na próxima partida outras surgirão e estas estarão desenvolvidas. De fato, como afirmou Bruno Henrique, está em outro patamar.
Imagens: Reprodução / FlaTV