A cena é comum: o técnico perde uma peça, não possui outra opção e acaba escalando um jovem atleta. Em um passado não tão distante, durante o período de “vacas-magras” da base, isso era a receita do desastre. Mas este quadro mudou. O nível dos Garotos do Ninho que sobem para o profissional aumentou nos últimos anos e estes estão dando conta do recado, mesmo quando entram na famosa fogueira.
Na verdade, os jovens passaram a crescer dentro do elenco do Flamengo justamente nestes momentos adversos e se colocam como importantes alternativas para a equipe. Seja por causa de venda, lesão, suspensão, convocação, erro de planejamento ou uma mistura destes cinco, os espaços costumam aparecer ao longo da temporada. Como no caso de Jorge, em 2015 – um marco para este novo momento da base, embora Samir tenha vivido algo semelhante, em 2013. Assim que foi promovido aos profissionais, em um elenco que contava com outras três opções para a posição, o lateral-esquerdo, na época com 18 anos, era o último da fila. Entretanto, com as más atuações de Pico e Thallyson e a convocação de Armero para a seleção da Colômbia, o garoto mostrou que era muito superior em relação aos seus concorrentes, tomou a vaga e não largou mais, até sua saída para o futebol europeu.
Listamos outros casos semelhantes. Confira abaixo.
Léo Duarte
Com Léo Duarte a situação foi ainda mais complicada, em 2016. Aos 19 anos, o zagueiro entrou na equipe no meio de uma crise no setor. Após as saídas de Wallace e Antônio Carlos e a lesão de Juan, o Rubro-Negro ficou com apenas dois zagueiros disponíveis (Léo Duarte e Rafael Dumas). Na época, para reforçar o elenco, a comissão técnica teve que chamar às pressas o já dispensado César Martins. Apesar da pouca idade, Léo Duarte mostrou personalidade, principalmente por entrar em um momento tão difícil, e ganhou a confiança da torcida. Parecia que teria muitas chances, mas não aconteceu. Após as chegadas de Réver, Donatti e Vaz, o jovem voltou para a última posição da fila, de onde só saiu neste ano.
Felipe Vizeu
Campeão, artilheiro e um dos destaques da Copinha de 2016, o atacante Felipe Vizeu chegou aos profissionais com mais moral que os nomes anteriormente citados, e nem por isso teve vida mais fácil. Em sua estréia, contra a Portuguesa/RJ, no Campeonato Carioca, substituiu Paolo Guerrero, fez gol e logo caiu nas graças a da torcida. Mas acabou sendo “esquecido” pelo técnico Zé Ricardo após a chegada de Leandro Damião.
Somente com o técnico Reinaldo Rueda, já em 2017, que o Garoto do Ninho voltou a atuar com frequência. Na campanha do vice-campeonato da Sul-Americana, onde Guerrero pouco jogou por causa de lesão e, posteriormente, pela suspensão por dopping, Vizeu foi o artilheiro, com cinco gols. Em 2018, já vendido para a Udinese, o atacante voltou a se destacar marcando três gols em quatro partidas, em seus últimos dias de Flamengo.
Lucas Paquetá
O início da história de Lucas Paquetá na equipe profissional do Rubro-Negro foi semelhante ao do seu amigo Vizeu. Também campeão da Copinha e um dos destaques do torneio, o Garoto do Ninho chegou ao time com moral. Entretanto, as coincidências param por aí. Sob comando do técnico Muricy Ramalho, Paquetá fez sua estreia logo nos primeiros dias na equipe principal, com atuações discretas. Logo em seguida passou por um trabalho específico visando ganho de massa muscular e acabou não jogando mais pelo Rubro-Negro na temporada 2016.
No ano passado, o meia chegou a ser a última opção de Zé, perdendo espaço até mesmo para o contestado Matheus Sávio. Mas, assim como aconteceu com Vizeu, com a chegada do técnico colombiano o garoto finalmente conseguiu mostrar seu bom futebol. Em um primeiro momento, até atuou como centroavante, de forma improvisada, para suprir a ausência do peruano Paolo Guerrero. Com estrela, fez um gol na partida de ida na final da Copa do Brasil. Paquetá fechou o ano com moral com a Nação – não apenas pelas boas atuações, mas também pela entrega. Desde então, assumiu a titularidade e não largou mais. Hoje, é um dos grandes destaques, ou o grande destaque, do elenco.
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César
Ao contrário dos outros jogadores citados, o goleiro César já carrega certa experiencia na bagagem e passou por outros clubes, mesmo que de forma rápida. Único remanescente da geração que venceu a Copa São Paulo de 2011, o arqueiro não chegou a deixar saudades após o fim de sua primeira passagem pelo Rubro-Negro, em 2016, quando foi emprestado à Ponte Preta/SP – onde foi reserva durante toda a passagem. Em 2017, após a saída de Paulo Victor, o Flamengo solicitou o retorno do goleiro, que na época estava na Ferroviária/SP, para compor o elenco.
No Rubro-Negro, a rotina de César seguia igual a dos últimos anos. Muitos treinos e nenhuma partida. O arqueiro chegou a ficar mais de dois anos sem entrar em campo em um jogo oficial. Porém, a história dele mudou na reta final da temporada passada, durante a crise de goleiros. Sem poder contar com o lesionado Diego Alves e com as outras duas opções em péssima fase (Alex Muralha e Thiago), César, aos 24 anos, viu a titularidade caindo em seu colo na reta final da Sul-Americana e do Campeonato Brasileiro.
Jogando fora de casa, contra o Junior Barranquilla (COL), na semifinal do torneio continental, o arqueiro viveu sua redenção. Mesmo sofrendo com câimbras ao longo do jogo – em consequência do tempo de inatividade -, fez boas defesas e pegou um pênalti aos 43 do segundo tempo. A partir deste momento, virou o reserva imediato de Diego Alves.
Vinicius Junior
Um dos principais símbolos de um novo momento da base do Flamengo, o jovem Vinicius Junior não precisou de muito tempo para conquistar a torcida mais exigente do Brasil. Acostumado a pular etapas na carreira e sempre um passo a frente em relação ao garotos de sua idade, o menino de 17 anos cresceu dentro de um elenco recheado de jogadores consagrados e assumiu o protagonismo na equipe profissional, embora só tenha conseguido a titularidade nos seus últimos meses na equipe.
Maior venda da história do Flamengo (45 milhões de euros), o jovem não chegou a viver um momento complicado na equipe, mas conseguiu segurar a barra após saída de Everton Cardoso, para o São Paulo. Como resultado, a torcida não chegou nem a sentir falta do “motorzinho”. Contra o Emelec, jogando fora de casa, na Libertadores, viveu o seu melhor momento pela equipe, quando ainda era reserva. Entrou no segundo tempo, com o Flamengo perdendo por 1 a 0 e desequilibrou a partida. Fez dois gols e deu a vitória ao Rubro-Negro.
Thuler
Tido como um dos zagueiros mais promissores revelados pela base rubro-negra nos últimos anos, Matheus Thuler, de 18 anos, foi promovido ao time profissional no início da atual temporada. E não precisou de muito tempo para mostrar seu potencial para a torcida. O jovem fez parte do grupo de jovens que jogou nas primeiras rodadas do Campeonato Carioca e, desde então, só cresceu no elenco.
Na reta final do semestre passado, mais uma vez, o Flamengo viveu um problema no setor defensivo. Sem poder contar com Réver e Juan, lesionados, o técnico Maurício Barbieri acionou a dupla reserva, Léo Duarte e Rhodolfo. Ambos foram bem e o Rubro-Negro ficou quatro jogos sem sofrer gols – no empate contra o River (0 a 0) e nas vitórias sobre Bahia ( 2 a 0), Corinthians (1 a 0) e Fluminense (2 a 0). Porém, no clássico contra o Fluminense, Rhodolfo também se lesionou. A partir daí, Matheus Thuler precisou entrar em ação… e deu conta do recado.
A dupla de zaga formada pelos Garotos do Ninho manteve o bom rendimento e foi vazada em apenas uma oportunidade, em três jogos. Eles jogaram juntos na vitórias sobre o Atlético Mineiro (1 a 0), com grande atuação de ambos, e Paraná (2 a 0), e no empate contra o Palmeiras (1 a 1), fora de casa – neste último, o jovem Thuler marcou seu primeiro gol pela equipe profissional do Flamengo. Agora, com o retorno dos mais experientes, o técnico Maurício Barbieri não terá vida fácil para definir a zaga titular. O famoso “bom problema”.
Lincoln será o próximo?
Considerado um dos grandes expoentes da base do Flamengo, o atacante Lincoln é um dos grandes favoritos para entrar nesta lista. Ele está sendo cuidadosamente preparado para o segundo semestre desta temporada. Embora a concorrência seja dura – com nomes como Uribe, Guerrero (embora ainda não haja uma definição sobre sua permanência) e Dourado -, o Garoto do Ninho segue buscando seu “lugar ao sol” e está crescendo dentro do elenco.
Durante a intertemporada, Lincoln começou entre os titulares nos dois jogos-treinos que o Flamengo disputou. Contra o Bangu, na vitória por 7 a 0, marcou cinco gols. Já na vitória por 3 a 0 sobre o Nova Iguaçu, o garoto deu uma assistência para o colombiano Marlos Moreno balançar as redes. Para o jogo contra o São Paulo, partida que marcará a retomada da temporada para o Flamengo, a maior dúvida segue justamente na posição do atacante. O bom desempenho nos treinos somado a situação dos outros atacantes estão credenciando o jovem ao posto de possível titular.
Situação dos outros atacantes para a partida: Expulso contra o Palmeiras, Henrique Dourado está suspenso; Paolo Guerrero está liberado para jogar, mas segue aguardando o julgamento do recurso contra a pena por doping no Tribunal Suíço; Uribe precisa ser regularizado, e a expectativa é que consiga ser relacionado, mas a janela de transferências abre apenas no dia 16, dois dias antes do duelo contra o São Paulo.
Craque o Flamengo faz em casa
Atualmente, o Rubro-Negro conta com 11 atletas formados na base em seu elenco principal, isso sem contar os garotos do sub-20 que frequentemente são relacionados para os treinos e partidas. Assim como Lincoln, Jean Lucas, Michael, Ramon, Hugo Moura e tantos outros jovens de qualidade estão sedentos por uma oportunidade. Quando o trabalho é bem feito nas categorias de base, a máxima não falha: craque o Flamengo faz em casa.
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Imagem destacada e fotos na matéria: Gilvan de Souza/ Flamengo
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