Blog Ficou Marcado na História – Daniel Giotti — Uma das primeiras músicas de que gostei do Dire Straits, icônica banda de rock n´roll, chama-se “On Every Street”, de álbum já no fim da carreira, mais para o blues e o country. Lá pelas tantas, Mark Knoplfer canta: toda vitória tem um sabor agridoce. Era o verso que me perseguia, enquanto eu quase morria do coração ontem, 25 de fevereiro de 2021, vendo os jogos finais do Brasileirão de 2020.
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Por via das dúvidas assisti ao jogo sozinho, deitado, levantando-me a cada movimento de quase gol do Flamengo, do São Paulo, do Inter, do Corinthians. Muito diferente de 2019.
Nem bebi. Podia ter optado por um vinho, que combina com jogos que se vê sozinho e que exigem uma serenidade estoica, mas isso me lembraria da camisa que o Abel vestia lá pelo Sul e a própria predileção etílica do técnico adversário.
Eu só me permito superstição no futebol e, por isso, ao tentar falar algo sobre São Paulo 2 e Flamengo 1 – o que falar, por que falar? -, vem minha crônica à la astrólogo de araque, “Flamengo campeão brasileiro de 2020? O pior é que não falta apenas combinar com os colorados”, quando “previ” todos os nossos resultados desde a vitória contra o Sport, inclusive o empate contra o Bragantino.
Previ quase todos os resultados do Inter e errei dois, porque confiei demais no “projeto do Luxa” para o Vasco, esperando que arrancaria um empate contra os colorados e fugiria do rebaixamento, e muito no próprio Abel, esperando que o time dele não fraquejasse contra o Sport.
Sim, acertei todos os resultados do Mengão, embora nada tenha comentado sobre Flamengo e São Paulo, porque, no fundo, no fundo, eu pressentia uma derrota.
Não temos encaixado o jogo contra os são-paulinos, que tem mudado o material do banco sobre o qual estão sentados à espera do título desde 2008, quase como aquela mudança do material das bodas dos casamentos.
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Ainda sim eles encontraram um jeito de fazer uma blitz no meio campo do Flamengo e não permitir que nossos quatro dez joguem como vinham jogando.
Ou uma outra explicação, um tanto esotérica assim – astrólogo que é astrólogo tem que ser de araque –, é que Everton Ribeiro e Arrascaeta não jogam bem contra o São Paulo, são anulados, assim como Gerson é perseguido por Daniel Alves no meio de campo, e tem de prender a bola.
Não prende porque quer, neste caso.
Tudo passa, tem de passar, pelo Gerson, e por isso, eu pensava em João Gomes começando desde o primeiro tempo no lugar de Diego Ribas, para cansar o veterano inesgotável, que está no rol dos jogadores geniais no elenco de um dos mais geniais Barcelonas de todos os tempos.
Ou, ainda, eu previa que Neneca fraquejaria, assim como o sistema defensivo, que melhorou, é verdade, contudo, sem nem sombra fazer do “quintento mágico” defensivo de 2019.
Que tal recordar? Diego Alves (em grande fase), Rafinha (adepto de que a melhor defesa é o ataque), Rodrigo Caio (o infalível xerife, que não voltou ainda a ser), Pablo Marí (um zagueiro por quem nutri simpatia futebolística à primeira vista) e Filipe Luís (incrivelmente melhor agora, mas que, como o futebol é coletivo, me dá saudade do antigo naquele time antigo).
Enquanto isso, lá no “gigante da Beira-Rio”, o Inter se apequenava, porque não conseguiu vencer o Corinthians. Seriam por razões psicológicas, presos os jogadores de hoje ao passado, ao pênalti não dado em Tinga, lá em 2005? Ou seriam os 41 anos na fila?
Diga-se de passagem, o Inter caminha a passos largos para retirar o troféu do time do chororô das mãos dos botafoguenses – até isso podem perder os pobres rebaixados -, pois, claro, foi prejudicado por algumas interpretações de arbitragem, todavia, foi igualmente ajudado em outras, como no jogo contra o Vasco.
Tudo isso para dizer que somos octacampeões, o único time que ganhou todos os títulos em campo, não por fax, decisões ou acordos a portas fechadas, e que estou com um estranho gosto na boca, agridoce, pois um título sempre é doce, só que fica meio amargo quando vem com derrota.
Se um irreconhecível Dire Straits, com sua música e álbum “On Every Street”, foi quem me fez amar o genuíno rock londrino, por que deixaria de comemorar um título sem cara de Flamengo, que em geral ganha no fim após batalhas espetaculares?
Resta comemorar e, na verdade, o Brasileirão de 2020 foi o título da redenção, agridoce, que termina em derrota mais como metáfora de um ano em que todos perdemos para um vírus, tempo cuja doçura diária vinha com o futebol e suas alegrias.
É, hoje é dia de comemorar, beber, e nas ruas, “em todas as ruas”, a vitória agridoce do Brasileirão de 2020 vai sendo prova e comprovada.