Por nós, pelos que amamos e já se foram, pelos que virão, é preciso ver o Flamengo jogar e alegrar a cidade
E agora que o sétimo título de campeão brasileiro é questão de dias, e enquanto nos consome a ansiedade pelo jogo do dia 23 em Lima, eu venho até que você me lê para fazer um alerta: é preciso ver o Flamengo jogar. Não estou me referindo aos jogos pela televisão, embora este meio também tenha valor. Estou falando em ir ao estádio neste ano da graça de 2019 para ver o Flamengo jogar. O Flamengo de Diego Alves, Rafinha, Rodrigo Caio, Marí e Filipe Luís; Arão, Gérson, Arrascaeta e Éverton Ribeiro; Bruno Henrique e Gabigol e, por Deus que é nosso Senhor e pelas bênçãos do padroeiro São Judas Tadeu, o Flamengo de Jorge Jesus, olê-olê-olê-olê, Mister-Mister.
Assim como, mesmo tendo todos os discos e com milhares de horas de audição, eu só pude perceber a plenitude dos Rolling Stones quando estive frente a frente com a maior banda do mundo, eu digo que este Flamengo só pode ser vivido em toda a sua grandeza de modo presencial, nos estádios, em transe coletivo. Me ocorre que o grande terreno na velha Tijuca, onde se realizavam corridas de cavalos antes de se erguer o estádio, deve ser uma espécie de campo santo, porque foi ali que eu vi o Flamengo dos anos 1980, os Rolling Stones e o Flamengo de 2019.
Não estou dizendo que aqueles que não podem ver o Flamengo jogar são menos Flamengo. Longe disso. Um dos motivos compreensíveis para o Flamengo ser uma Nação é que ele se deixa amar sem distância e sem pudor, tanto por quem está nas arquibancadas como pelo torcedor que nunca foi ao Rio e assiste aos jogos lá onde o vento faz a curva nos cânions de São José dos Ausentes, ou em uma casinha sob palafitas nos confins da Amazônia. Mas, pelo amor dos Jesus (o Nazareno e o Jorge), se você pode ver o Flamengo jogar ao vivo, faça isso por você mesmo.
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Eu ainda não havia aceitado o Novo Maracanã. Me recusava até mesmo a chamar pelo mesmo nome do estádio inaugurado em 1950. Mas, num espaço de 20 dias, saí de Santa Catarina para testemunhar quatro jogos: os 2×0 no Fluminense, os 5×0 no Grêmio, o 1×0 no CSA e os 3×1 no Bahia. E este Flamengo era o que faltava para que o estádio pudesse, de novo, pulsar, vibrar e voar como exige o nome Maracanã. Este Flamengo uniu velhos guardiões, gente que viu o tricampeonato de 1955, ou rubro-negros da estirpe de um Moraes ou de um Eduardo Vinícius de Souza, a gente tão jovem que não só não viu Zico e Junior como não viu Pet e Imperador, e sequer conheceu o velho Maracanã a não ser por fotos. Há um novo povo Flamengo, que pede o mundo de novo, irmanado pelo time arrebatador, hipnótico e envolvente regido por um português que deu um novo sentido ao Ai-Jesus.
2019 vai acabar e não sabemos quanto tempo este Flamengo, tal como o estamos vivendo, irá durar. Não é possível embarcar em um DeLorean DMC-12 para ir até o velho Maracanã ver aquele Flamengo de 1981 ou 1982, mas dá para ir em 2019 ao novo Maracanã ou a outro estádio ver este Flamengo jogar. Há muito tempo eu não seguia tão feliz para encontrar o meu time, e é uma felicidade tão flamenga, tão dilacerada, tão vibrante, que eu lembro de Vinicius de Moraes dizendo que mais que nunca é preciso cantar e parafraseio, mais que nunca é preciso ver o Flamengo jogar.
Por nós, pelos que amamos e já se foram, pelos que virão, por quem está longe e não pode vir, pelos Garotos do Ninho e pelos motivos incompreensíveis de ser Flamengo, porque estamos vivos e porque é o nosso maior prazer vê-lo brilhar, é preciso ver o Flamengo jogar e alegrar a cidade.
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