A discussão tem sido o contrato do Maracanã e a baixa rentabilidade obtida pelo Flamengo. Walter Monteiro explica tudo neste artigo.
Por Walter Monteiro – Twitter: @womonteiro
O assunto do momento nos círculos de discussão rubro-negra tem sido o contrato do Maracanã e a baixa rentabilidade obtida pelo Flamengo. E é sobre ele que quero aclarar alguns pontos, que me parecem não estarem sendo adequadamente ponderados. Não vou entrar no mérito se o Flamengo deve construir ou não um estádio próprio. Quero apenas trazer ao centro do debate itens importantes.
A inspiração para esse artigo vem do fato de que, ao tempo de sua análise pelo Conselho Deliberativo, fui o relator do parecer da Comissão de Finanças, que por unanimidade recomendou a assinatura do contrato. Por essa razão, acabei tendo um conhecimento mais profundo das condições contratuais. E pretendo detalhar tudo na forma de tópicos, para facilitar a leitura. Vamos lá.
POR QUE O CONTRATO FOI ASSINADO?
Por que o contrato anterior era bem pior. Em 2013 o Consórcio Maracanã ofereceu ao Flamengo as mesmas condições ofertadas ao Fluminense: o clube ficaria com a renda dos setores mais baratos e o Consórcio com a dos lugares mais caros. Desconheço as razões que levaram os dirigentes a buscarem um modelo de repartição de receitas e despesas, mas é fato que o tempo provou que as condições do Fluminense eram melhores (e graças a isso o Flu conseguiu impor uma renegociação mais vantajosa). Portanto, por pior que seja o contrato atual, ele é bem melhor do que o contrato original.
E SE NÃO TIVESSE SIDO ASSINADO?
Aí restariam ao Flamengo 3 opções: a) jogar fora do Rio de Janeiro (caso de 2016); b) jogar em outro estádio dentro da cidade (opção de 2017, na Ilha do Urubu); c) jogar no Maracanã sobre as bases contratuais originais, bem piores (lembrando que o clube tinha conseguido uma liminar para amenizar os custos, mas o desfecho da ação judicial era incerto e arriscado). Em tese, existiria uma 4a opção, que era o Engenhão, mas além das conhecidas objeções do Botafogo, há uma notória resistência do torcedor carioca com o estádio Nilton Santos.
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O que muitos agora parecem esquecer é que a escolha de um estádio não é puramente uma decisão econômica. Há aspectos esportivos, muito mais relevantes do que a renda em si. Ter a torcida ao seu lado e a mística do Maracanã é uma vantagem competitiva do Flamengo em comparação às demais alternativas então disponíveis – que aliás seguem sendo as mesmas.
O CONTRATO FOI UMA DECISÃO DA DIRETORIA ANTERIOR?
Não exatamente. A negociação, sim, foi de responsabilidade exclusiva da diretoria anterior, mas a decisão de assinar foi um consenso do Conselho Deliberativo. Falo confiando apenas na memória, mas a sensação que tenho é de que a aprovação ocorreu por unanimidade, com a divergência se resumindo ao prazo do contrato (o atual presidente, Rodolfo Landim, defendeu a redução do prazo original de 4 anos para 2 anos, proposta que acabou prevalecendo). Aliás, a versão aprovada já havia sofrido uma alteração substancial, depois de passar pelo Conselho Fiscal que recomendou a exclusão de um terceiro interveniente (a empresa encarregada da venda dos camarotes, que pagaria parte do aluguel). Logo, centenas de conselheiros votaram a favor do contrato e a responsabilidade é de todos eles (eu incluído).
POR QUE O FLAMENGO LUCRA TÃO POUCO ?
Aqui há 2 aspectos cruciais, talvez os mais importantes desse texto.
Os valores que aparecem no borderô não representam a única receita do Flamengo. O clube recebe ainda um valor fixo dos bares por cada espectador presente (inclusive os beneficiários de gratuidade) e também o equivalente a 40% da receita da venda de camarotes. Uma conta rápida. Imaginem um público de 40 mil pessoas, onde o clube tenha vendido 50% dos camarotes, ao preço de R$ 100,00 por pessoa. Isso renderia um acréscimo de cerca de R$ 100 mil, não declarados no boletim financeiro da FERJ.
O segundo – e prestem muita atenção nisso – o Ticket Médio cobrado e a política de preços praticada não estão de acordo com as projeções que fizemos na época da aprovação do contrato. Nas simulações o Ticket Médio necessário para gerar equilíbrio seria de R$ 30,00. Neste campeonato carioca o Ticket Médio tem ficado ao redor de R$ 24,00. Esses R$ 6,00 fazem muita diferença, já que boa parte dos custos é fixa.
Na lógica adotada para a aprovação, o clube teria apenas 1 setor com ingressos mais baratos (o Norte), cobrando mais caro no Sul, Leste Superior, Leste Inferior e Oeste, de forma progressiva. Ao cobrar em todos os setores sem distinção R$ 16,00 do ST e R$ 20,00 a meia entrada do torcedor não sócio (no RJ quase todo mundo paga meia, não há fiscalização) o clube decide um trade-off importante: enche o estádio por igual e leva bastante gente ao Maracanã, porém lucra bem menos do que deveria lucrar.
Não me interpretem mal, como é usual ocorrer sempre que falo de preço de ingressos. Não estou dizendo que o clube deva cobrar mais caro. Estou dizendo que SE o Flamengo quiser ter mais lucro com a bilheteria, considerando os custos fixos do estádio, não pode cobrar R$ 16,00 ou R$ 20,00 em todos os lugares à venda. Aliás, na minha opinião pessoal o Flamengo ESTÁ CERTO em cobrar barato nesses jogos de baixo apelo. Porém não dá para ter o melhor dos mundos: cobrar barato e ganhar muito.
Um último comentário: mesmo que o Flamengo fosse o dono do estádio, com os preços que cobra, lucraria pouco (ainda que talvez um pouco mais). Afinal, a operação de qualquer jogo não é barata.
POR QUE O CONTRATO FOI APROVADO SEM O DETALHAMENTO DOS CUSTOS ?
Não é verdade. Os conselheiros tiveram acesso aos anexos do contrato, onde os principais custos foram detalhados e estavam à disposição para consulta. O maior deles, Segurança Patrimonial, foi destacado no parecer da Comissão de Finanças e exibido no telão (sei disso porque fui eu que apresentei os slides). Importante lembrar que o contrato permite ao Flamengo apresentar qualquer outro fornecedor que represente uma redução desses custos e o Consórcio deve considerar essa redução.
POR QUE O FLAMENGO NÃO RESCINDE O CONTRATO ?
Porque não quer. Pode fazê-lo, pagando uma multa, que originariamente era de R$ 6 milhões. No entanto, como o Código Civil autoriza a redução da multa proporcionalmente ao que já foi cumprido, o Flamengo pode pagar R$ 3 milhões e rescindir.
Obviamente, rescindir o contrato só traz mais problemas, porque o clube segue sem ter onde jogar e a Odebrecht segue dona do estádio. O Rio de Janeiro já está sob a gestão do 3o governador desde que o Maracanã foi entregue à Odebrecht. Todos eles foram generosos com a empresa e cruéis com o Flamengo. E estranhamente a ira da torcida costuma ser maior com os dirigentes e conselheiros do Flamengo do que com os governantes.
Walter Monteiro é advogado com MBA em Administração. Membro das Comissões de Finanças do Conselho Deliberativo e do Conselho de Administração do Clube de Regatas do Flamengo. Escreve sobre o Flamengo desde 2009, em diferentes espaços.
*Créditos da imagem destacada no post e nas redes sociais: Alexandre Vital / Flamengo
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