Esse é o dilema do Flamengo na temporada. Somos Golias, o guerreiro gigante. Aquele que mete medo em todo mundo.
Malcom Gladwell lançou recentemente um livro genial e intrigante. Em “Davi e Golias” ele analisa a trajetória dos azarões, os tais “underdogs” e mostra como muitas vezes nós não entendemos essas histórias.
Para Gladwel, Davi era, na verdade, o favorito no combate. Afinal, Golias esperava uma luta de espadas, lanças e escudo, com distância próxima, armaduras pesadas e muita força bruta. Davi tinha uma atiradeira, arma mortal a média distância, e muito mais agilidade. Pôde matar o gigante a mais de trinta metros, muito longe do alcance da espada.
O erro de Golias foi pressupor como a luta aconteceria. Davi mudou as regras, surpreendeu, e venceu.
Mas existe uma lição fundamental no livro: é difícil ser Davi. Dá trabalho. Exige uma boa dose de imaginação, dedicação, coragem e sorte. Só quem está desesperado pode ser tão audacioso. Criar uma reviravolta é o último recurso de quem não tem mais nada a perder.
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Golias poderia ter se preparado melhor, poderia ter previsto as possibilidades, poderia ter reagido mais rápido. Mas não poderia lutar como Davi.
Esse é o dilema do Flamengo na temporada. Somos Golias, o guerreiro gigante. Aquele que mete medo em todo mundo.
Todos os adversários jogarão recuados contra nós. Todos os atletas jogarão no limite. Todos os treinadores estudarão o nosso jogo.
Nossa obrigação é estar um passo a frente. Imaginar todas as possibilidades e, a partir daí, impor nosso jogo. Impor nossa técnica, nossa força. Amassar os adversários, também inventar maneiras de surpreendê-los.
Não arremessar lateral na área. Pelo contrário.
O Bangu pode fazer gol de lateral porque é Davi. Porque não tem mais nada a propor. Está desesperado. É o último recurso.
Não podemos jogar com 58 volantes. Os outros podem, pois têm medo de nós. “Fechar a casinha” é obrigação deles.
O Flamengo tem muitos recursos a sua disposição. Arremessar a bola com as mãos é o mais pobre deles. É quase inacreditável que seja a nossa primeira tentativa.
Golias precisa ser inteligente, não apenas forte. Precisa criar maneiras de impor suas qualidades. Mas não pode, de jeito nenhum, jogar no terreno de Davi. Se for assim, a disputa se equilibra. A sorte reina.
Um grande erro.
Escrevo as análises táticas do MRN porque futebol se estuda sim! De vez em quando peço licença para escrever sobre outros assuntos também. Twitter: @teofb
*Créditos da imagem destacada no post e nas redes sociais: Gilvan de Souza / Flamengo
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