Por Bolívar Silveira, especialista de futebol sul-americano.
Rio de Janeiro, 17 de Agosto de 2017. Reinaldo Rueda estreava no comando do clube de maior torcida do Brasil. Missão difícil pela grandeza do Flamengo e pelo “costume brasileiro” de ser alheio a ideias estrangeiras no futebol. O treinador colombiano encontrou no elenco jogadores diferentes do que estava acostumado, juntamente com uma semifinal de Copa do Brasil. Sabiamente empregou esforços no sistema defensivo.
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Não sofrer gols em mata-mata aumenta a chance de passar de fase e nos pontos corridos te garante no mínimo um ponto. Nos primeiros 14 jogos sob seu comando o rubro-negro levou apenas oito gols. Até o jogo contra o Júnior Barranquilla a defesa flamenguista ficou 12 jogos sem ser vazada. O fator determinante para potencializar a defesa foi estreitar a linha defensiva, diminuir os espaços dos defensores entre si. Trocar Rafael Vaz por Juan foi também uma decisão que se viu acertada. O ex-selecionável possui potencial enorme de antecipação, visão de jogo e saída de bola. Equilibrando o sistema defensivo e dando começo ao processo de construção de jogo.
Na transição e construção ofensiva, o Atlético Nacional do Rueda utilizava de lançamentos para os pontas, jogadores de potência física e boa estatura que buscavam o confronto com o rival ou deixavam a segunda bola com os volantes para buscar as costas dos rivais que “desciam” para pressionar. No Flamengo as características dos jogadores são diferentes; Éverton caracteriza-se pela velocidade, cruzamento e boa recomposição. Éverton Ribeiro é um ponta de construção, tende a interiorizar o jogo, busca o companheiro mais próximo e pisa na área com facilidade. Dessa maneira, Rueda decidiu usar os volantes na organização e transição. Colocou Cuéllar ao lado do Arão. Volantes de construção, bom passe, mas com potencial de marcação. A estratégia vislumbra que os volantes limpem o jogo e atraiam a marcação adversária. Deixando espaço livre pro Diego pensar o jogo e receber a bola sem pressão para que camisa 10 tenha liberdade para encostar nos pontas.
O ritmo do jogo também foi fundamental para a mudança e melhora do Flamengo com o seu comando. Os times do Rueda têm como características trocar a velocidade do passe. Ritmos diferentes, intercalando passes curtos e longos. Diferente do Flamengo do Zé Ricardo que preferia cadenciar e ter o domínio total da posse. Outro fator distinto aos tempos do Atlético Nacional é a função dos laterais, no Flamengo esses jogadores dão suporte ofensivo. Aparecendo constantemente para triangular com os pontas e chegar a linha de fundo. Na frente, Guerrero com o seu biotipo e potência conseguiu desempenhar tudo aquilo que Rueda esperava. Pivô e movimentação para infiltração do Éverton Ribeiro, Éverton e Arão.
As imagens acima são dos passes realizados por Éverton Ribeiro, Éverton e Diego contra o Coritiba. Fica evidente a importância do camisa 10 na construção das jogadas ofensivas e a verticalidade dos pontas, com maior liberdade de movimentação para o camisa 7.
Claro que existem muitos pontos a serem melhorados no Mengão. A bola aérea defensiva é uma delas. Questão de posicionamento corporal, atenção e organização. A falta de atenção é outro ponto negativo e que vem afetando o sistema defensivo. Nos últimos seis jogos foram nove gols sofridos. Muito por descuidos e falta de pressão na bola. Esses defeitos podem ser reflexos da falta de comunicação ou defasagem física. É bastante normal uma queda no rendimento físico em equipes que jogam mais de um campeonato, principalmente nos últimos meses da temporada. No setor ofensivo a falta de efetividade também vem incomodando a torcida rubro-negra, o time cria oportunidades, mas não consegue concretizá-las.
O treinador tenta sistematizar as ações táticas positivas, torná-las um hábito. O que não é fácil, nem rápido. Desempenho e entendimento coletivo não surgem rapidamente. Demanda paciência e muito treinamento. Acostumar-se a um padrão demora. Faz parte do processo de maturação percalços e más atuações, mas geralmente recompensa quando o trabalho tem qualidade e a direção e torcida entendem o método. Mano Menezes, Renato Gaúcho, Carille e Jair Ventura são belos exemplos da importância do seguimento de um trabalho. A torcida flamenguista deve confiar no treinador e tentar entender a sua linha de trabalho. Rueda já demonstrou potencial e a simples troca de comissão, mania nacional, é evidentemente falível e desnecessária.
*Colaboraram Leonardo Miranda, Gustavo Fogaça e Emílio Ribeiro.
Bolívar Silveira escreve no excelente Footure.com.br e gentilmente aceitou escrever no MRN. Siga-o no Twitter: @BolivarSilveira.