Foi um dos melhores jogos da temporada. Teve de tudo no Maracanã que merecia melhor tratamento e mais gente assistindo ao vivo hoje o grande encontro. Rivalidade. Provocação. Entradas destemperadas. Muitos gols. Emoção. Falhas defensivas. Teve até bom futebol. Artigo cada vez mais raro no país.
As duas equipes entraram espelhadas em um 4-2-3-1. O Tricolor, em desvantagem, adiantou a marcação e aproveitou uma falha gritante de posicionamento de Trauco. Marcos Júnior não segurou a bola como faz geralmente. E achou Lucas sozinho para abrir o marcador. Neste momento, o Flamengo adiantou a marcação e sufocou a saída de bola do adversário. Aos dez minutos, uma falta boba cometida na entrada da área deu o empate ao Rubro-Negro. Em uma magistral cobrança de Diego que Zico e Petkovic assinariam embaixo.
O clássico ficou mais brigado do que jogado. Tudo com a ajuda do árbitro argentino que não marcava faltas claras e não se impunha. Quando os ânimos finalmente se acalmaram, as chances voltaram a aparecer. Aos 31, Renato Chaves deu a primeira mostra que o caminho do Flu era pelo alto. Dez minutos depois, em lance quase idêntico, o mesmo Renato Chaves testou firme e desempatou a peleja.
O Mengo voltou com tudo do intervalo. Teve uma chance de deixar tudo igual aos seis. Diego Cavalieri salvou no susto um corte mal feito por Reginaldo. No entanto, quem marcou foi o Fluminense. De novo com Renato Chaves. Em nova bola cruzada e falha de William Arão na marcação.
Reinaldo Rueda mexeu no time. Tirou Trauco e pôs Vinícius Júnior. Passando Éverton para a lateral-esquerda. Aos 22, a joia Rubro-Negra achou Éverton Ribeiro. Num lampejo de genialidade, ele deu um lindo toque de calcanhar que matou a defesa. Felipe Vizeu ficou cara a cara com Cavalieri e diminuiu.
O jogo pegou fogo. Liderados por ótima atuação de Diego, o Flamengo foi com tudo para o ataque. Perdeu Juan lesionado (entrou Rafael Vaz). Também sacou Cuéllar. Lucas Paquetá o substituiu. Abel Braga respondeu apostando na velocidade de Romarinho e na entrada de Wendel no lugar de Sornoza para reforçar o meio de campo. Não funcionou. Sem saída para o contra-ataque o Flu foi sufocado por um Fla jogando com alma. Com coração.
Aos 38 minutos, mais uma falta boba e completamente desnecessária cometida pelo Tricolor deu a chance de Pará colocar com a mão na cabeça de Arão. Foi a vez de Lucas (que não era para estar marcando Arão para início de conversa) assistir a cabeçada que ainda bateu na trave e entrou, deixando tudo igual.
No desespero Abel foi para o tudo ou nada. Tirou o volante Douglas e pôs o atacante Pedro. Transformou os zagueiros em atacante. Recuou Gustavo Scarpa para fazer os lançamentos longos. Contudo, quem teve a melhor oportunidade de vencer o jogo foi o Mengo. Num contragolpe de quatro contra dois, Vinícius Júnior deixou Diego livre. Cavalieri salvou com o pé.
Justo. Ninguém merecia sair derrotado hoje. O clássico mais charmoso do Brasil foi tudo o que dele se podia esperar. E ambos saem fortalecidos do estádio. O Tricolor mostra que pode e deve terminar a temporada com tranquilidade. Sem a sombra de zona de rebaixamento. E o Flamengo se aproxima ainda mais de um título internacional e inédito que pode salvar um ano decepcionante na Gávea. Com um bônus. A alma que o time mostrou hoje aos seu torcedor foi algo fora do comum. Ou que costumava ser comum e que ultimamente não era visto. Especialmente depois de algumas atuações recentes. Que seja o início de uma nova era. E que tenhamos mais partidas como essa no pobre futebol brasileiro.
Veja a análise de Gustavo Roman em vídeo:
Gustavo Roman é jornalista, historiador e escritor. Autor dos livros “No campo e na moral – Flamengo campeão brasileiro de 1987”, “Sarriá 82 – O que faltou ao futebol-arte?” e “150 Curiosidades das Copas do Mundo”. Também escreve para o Blog do Mauro Beting.
Imagem destacada no post e redes sociais: Gilvan de Souza / Flamengo