Em poucos dias, os Jogos Olímpicos e Paralímpicos de 2024 se encerram, mas podemos desde já tentar esboçar uma reflexão em cima deste evento esportivo mundial, que mobilizou nossa atenção nas ultimas semanas.
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Foram muitas as polêmicas, críticas e elogios, amplamente divulgados. Contudo, além da contagem das medalhas, além dos fatos narrados, existem alguns aspectos que foram pouco abordados pela mídia em geral, mas que merecem ser relatados.
➕ MARION KAPLAN: Além do mal entendido
O objetivo primeiro dos franceses era oferecer um modelo de JOP totalmente diferente e diferenciado, socialmente e economicamente responsáveis, fortemente ancorados na diversidade e na inclusão.
Desenvolveram uma plataforma ESS (Economia Social e Solidária) unindo performance econômica e social, com preocupação ambiental.
E para não ter “elefantes brancos” pós olimpíadas, optaram por infraestruturas adaptáveis ou temporárias.
Vários espaços inovadores foram instalados, como o espaço dedicado à saúde mental dos atletas e das atletas. Ou, a criação de um berçário na vila olímpica e a disponibilidade de quartos de hotel para as mães que amamentavam seus bebês.
Outra medida exemplar: um dispositivo de luta contra qualquer forma de discriminação, largamente difundida durante o evento:
On vous écoute. On vous croit. On est là.
(Escutamos você. Acreditamos em você. Estamos aqui)
Estimulando testemunhas ou vítimas de preconceito a procurar o pessoal dos JOP.
Esse dispositivo recebeu o Label Terrain d’ Égalité, que recompensa engajamentos em prol da igualdade entre homens e mulheres e contra a discriminação.
Portanto, foram muitas as determinações em prol da equidade, da diversidade, da inclusão. Foram muitas as medidas humanizadas, preocupadas com questões sociais e ambientais,
O próprio mascote dos JOP é um símbolo carregado de significado: a Phryge é a boina usada durante a Revolução Francesa. Ela representa a luta pela Liberdade. E faz um elo entre o passado e o presente. Entre a tradição humanista e as preocupações sócio-ambientais atuais.
Contudo, se por um lado a inclusão foi o tema central das Olimpíadas, não foram poucas as medidas arbitrárias e excludentes.
A b-girl Manizha Talash foi desclassificada por exibir uma capa com os dizeres “free afghan women”. O COI proíbe manifestações politicas. Ela é integrante da equipe de refugiados, fugiu do Afeganistão quando o Talibã assumiu o controle em 2021 e atualmente reside na Espanha.
Ora, uma equipe de refugiados políticos foi criada em 2016, os JOP de 2024 divulgaram inúmeras mensagens sobre os direitos humanos, a inclusão e a diversidade, mas uma atleta não pode se manifestar em prol das mulheres oprimidas e violentadas do seu país? Uma forma opressora de lidar com quem denuncia a opressão…
Outro aspecto polêmico dos JOP revelado, o estudo “O reverso da medalha”, denuncia a limpeza social pré Jogos. Esse relatório é detalhado e exemplifica ações excludentes do poder público, “limpando” as ruas dos sem tetos, empurrando eles para fora da cidade. “Para mostrar uma bela cidade de cartão postal, se afasta e se invisibiliza”.
Também pouco divulgada e lastimável, a discriminação política ocorreu de diversas formas. Muitos se viram proibidos de trabalhar nos Jogos. Manifestantes, militantes ecológicos, integrantes de associações sindicais. Os critérios eram inusitados e nada transparentes. Foram simplesmente notificados que não poderiam trabalhar nos JOP. E não puderam recorrer.
Ademais antes e durante os “Jogos da inclusão”, medidas repressoras foram constantemente usadas, manifestantes detidos, inclusive jornalistas que cobriram um protesto pacífico, ou jovens que colaram stickers no metrô.
São muitos os relatos, relatos preocupantes que enevoaram uma Olimpíada que se erigiu em cima dos direitos humanos oriundos da Revolução Francesa, e dos valores de inclusão, diversidade e sustentabilidade do mundo moderno.
O balanço contudo é positivo. Mas muito pode ser aperfeiçoado. Que as questões e lições de Paris sejam levadas até Los Angeles, para que os Jogos de 2028 sejam ainda mais inclusivos e sustentáveis. E que, além das medalhas, nós possamos nos aprimorar como sociedade.
Marion Konczyk Kaplan é conselheira do Clube de Regatas do Flamengo e presidente da Bancada Feminina do Conselho Deliberativo. Mestre em História pela Sorbonne Paris. Siga: @marionk72
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