Todo mundo já deu sua opinião sobre Everton Ribeiro e sua precoce saída do Flamengo. Uma breve busca no Twitter e você verá desmemoriados que alegam que o Camisa 7 não rendia “há muito tempo”. Você também encontrará os atrasados, que hoje bradam como eles valorizam Diego Ribas (agora, sério?), por suas renovações sem muitas complicações ao longo dos anos.
De outro lado, tem os que enxergam na saída do capitão uma perda técnica e de um ídolo que dificilmente vamos recuperar em ambos os aspectos. Tanto o tom desse texto quanto meu histórico de não rifar ídolos, denunciam facilmente de que lado me encontro nessa disputa.
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Mas veja bem, há uma profusão de artigos dizendo aquilo que eu gostaria e poderia dizer aqui. O Pedro Henrique Torre, por exemplo, publicou um brilhante texto a respeito. Mas existe um enfoque, uma visão, que só eu posso dar. E é uma visão particular e pessoal sobre como Everton Ribeiro foi a contratação da minha vida.
Eu tinha 15 anos quando primeiro vi Everton desfilar seu futebol pelo Cruzeiro. E eu olhava seus lances e pensava “Esse cara nunca vai jogar no Flamengo”. Lembro também do alívio ao saber que ele ia para a Arábia. Afinal, lá ele não podia nos fazer mal.
Imaginem então minha surpresa ao começar a ver, anos depois, que ele estava sendo especulado aqui. Eu acompanhei cada notícia e especulação em uma época na qual cada “F5” tinha um custo grande nos dados móveis do celular e demorava uma eternidade para carregar.
Naquela época as notícias ainda não corriam tanto quanto correm hoje, durante o dia eu praticamente fazia um relatório do que aconteceu no dia do Flamengo para passar para minha irmã quando ela chegava do trabalho. Mas não quando Everton chegou. Anunciado com um vídeo do meme “Coé, rapaziada!”, assim que vi, gastei preciosos créditos para ligar e informá-la imediatamente.
Também, pudera! Era um craque chegando ao Flamengo! Era finalmente a coroação de um clube que estava se reestruturando. Obviamente já havíamos dado sinais de que estávamos melhores, mas Diego Ribas estava sem jogar na Turquia e eu nunca entendi o hype pelo Guerrero (de quem nunca gostei). Everton, por sua vez, estava voando na Arábia, embora fosse a Arábia.
E também por isso o início foi difícil. Passamos meses vendo Ribeiro ainda em marcha lenta e dando motivos para que desconfiassem da efetividade do contratado. Eu, por outro lado, sempre o defendi. Não serei hipócrita, nem todos contam com a minha paciência tanto assim. Nunca exijam que eu faça isso com Cebolinha, Luís Araújo ou qualquer outro supervalorizado que vem da MLS.
Mas eu já sabia do que Everton era capaz e era impossível que todo aquele talento tivesse sumido de uma hora para outra. E essa crença se pagou. Em algum tempo o Camisa 7 se tornou um dos melhores nomes do time até que em 2019 se tornasse mais um coadjuvante de luxo. Apesar de “coadjuvante” nunca significou menos entregas. A magia estava ali jogo após jogo.
E foi mágico todo esse tempo de parceria nos rendendo os melhores anos da minha vida. Isso sem falar no espetáculo a parte que era os vídeos do Guto e depois do Totói, duas crianças de almas rubro-negras. A Família Ribeiro se tornou assim parte do “lore” flamenguista. E como foi lindo ter vivido isso.
Everton Ribeiro está para as contratações assim como a Libertadores de 2019 está para os títulos. Podem vir novos, mas nunca astros se alinharão tão perfeitamente para resultar em algo tão grandioso. Mas Ribeiro também é a despedida mais difícil no futebol para mim até hoje. Sofri com o adeus de William Arão, chorei no ônibus na despedida dos Diegos e me debulhei em lágrimas enquanto via frente a frente Filipe Luís e Rodrigo Caio.
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Mas em todas essas anteriormente citadas eu vi um sentido, um porquê dessa perda. Não na de Everton. É perder um ídolo e craque por nada. Ou melhor, é perder um ídolo e craque usado como bode expiatório para um ano ridículo por decisões da diretoria. E tudo isso em nome da chamada “reformulação” bradada por muitos.
Uma reformulação que troca Filipe Luis por Ayrton Lucas e possivelmente Juninho Capixaba. Que resulta abrir mão de Rodrigo Caio em nome de Léo Ortiz (ainda que este seja bom zagueiro). E que, o mais catastrófico de tudo, pode substituir Everton Ribeiro pelo possante Evander. E quem sabe até reformular mais ainda e trocar Gabigol por Yuri Alberto? Dizem alguns.
Por fim, o ano mais decepcionante do Flamengo acaba por tirar de mim também os meus 3 pilares morais do time de 2019, tudo de uma vez. É triste e desanimador. Mas assim é a vida, que Everton tenha muito sucesso. Te amo ídolo.
Ps: Se por ventura qualquer pessoa com contato com o jogador tenha tido acesso a este texto, peço encarecidamente que mostre-o a ele. Significaria muito para mim. Sei que as chances são remotíssimas, mas eu preciso tentar.
Renato Veltri é advogado, formado pela UFRJ em 2019 e flamenguista formado por sua irmã, Vanessa, na final da Copa do Brasil de 2006. Twitter: @veltri_renato.
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