O Especial “Personagens do Semestre Perdido” apresenta 11 peças-chave para os resultados do 2023.1 do Flamengo. A maior parte desse elenco decepcionou, mas alguns se salvaram e outros contam com nossa certeza de que ainda podem muito em breve ajudar a reverter o quadro de vexames históricos que machucou a Nação nos primeiros meses desta temporada.
Rodolfo Landim passou o primeiro semestre de 2023 dividido entre 2022 e 2024. E isso ajuda a explicar por que o presente do Flamengo ficou em segundo plano enquanto o presidente se agarrava aos sucessos do passado para tentar estender seu futuro à frente do clube.
Enquanto o Flamengo colecionava fracassos dentro de campo, Rodolfo Landim consolidava seu poder nos bastidores do Flamengo. Aliados do presidente apresentaram mais de uma proposta para estender o mandato do dirigente.
A primeira tentativa foi a de permitir mais uma reeleição, mas ela esbarrou na limitação imposta pelo Profut, que permite somente dois mandatos dos dirigentes dos clubes que participam do programa. Diante disso, avançou nos conselhos do clube uma proposta que estenderia o atual mandato de Landim de três para quatro anos, que deve ser votada nos próximos meses.
Além de estender seu mandato, Landim também começou a preparar terreno para a eventual transformação do Flamengo numa SAF. Em falas a conselheiros, ele acenou com a construção de um estádio e a valorização absurda dos títulos dos sócios proprietários caso o clube opte por se tornar Sociedade Anônima de Futebol.
Mais recentemente, ele se reuniu com dirigentes do Bayern na Alemanha para discutir o modelo de empresa do clube alemão, que manteve o futebol sob comando da associação, mas cedeu parte das ações para os parceiros Allianz, Audi e Adidas em troca de quantias milionárias.
Negociações para a formação de Liga viram simples bloco comercial
Enquanto a SAF permanece como possibilidade tratada nos bastidores, Landim gastou boa parte do seu tempo e energia nas negociações para a formação de uma Liga do futebol brasileiro. O próximo mês deve ser decisivo para o aporte do fundo árabe Mubadala à Libra, Liga do Futebol Brasileiro, que de liga por enquanto só tem o nome. Atualmente apenas 15 times permanecem na liga que se tornou um bloco comercial de negociação de direitos televisivos do Campeonato Brasileiro.
Apesar de Landim ter feito uma série de concessões, os outros clubes continuam insatisfeitos com o valor maior que o Flamengo irá receber – apesar de a quantia ser quase insignificante para o clube, o que torna difícil entender porque o Flamengo segue trabalhando para a aprovação da Libra. Os R$ 158 milhões da proposta mais recente representam pouco para um clube com receita de mais de R$ 1 bilhão por ano abrir mão de um oitavo dos seus direitos pelo Brasileiro por 50 anos.
A recente adesão do Atlético-MG, porém, indica que apesar das ponderações, o acerto com o Mubadala está próximo. Neste caso, caberá ao Conselho Deliberativo decidir se aceita abrir mão de receitas futuras em troca de um aporte vultoso no presente.
Para pavimentar esse futuro, Landim vem se agarrando nos resultados do passado. Ao ser questionado sobre o fracasso do futebol em 2023, seu argumento são os títulos ganhados entre 2019 e o ano passado.
Na sua narrativa, os títulos são fruto do planejamento da diretoria, embora mais de uma vez o time tenha trocado de técnico durante a temporada após más escolhas – o que se repetiu em 2023. Apesar disso, Landim se negou a fazer mudanças na estrutura do departamento de futebol, mantendo a aposta no amadorismo do vice-presidente Marcos Braz e do “Conselhinho” de Futebol.
A torcida vem se mostrando menos tolerante que os sócios do Flamengo e já hostilizou Landim no Maracanã mais de uma vez na temporada, a mais recente delas no empate contra o Cruzeiro.
Mulher do presidente vira ré por xenofobia, mas continua diretora do clube
O dirigente, porém, já deu demonstrações de se importar pouco com a torcida fora dos muros da Gávea. O MRN revelou que, a portas fechadas, ele prometeu fazer de tudo para impedir que o clube retire o limite para novos sócios off-Rio, em mais uma da série de iniciativas da diretoria contra o sócio e torcedor fora do Rio.
Nada pior do que a permanência no cargo de diretora de Responsabilidade Social do clube de Ângela Machado Landim, mulher do presidente, que se tornou ré por xenofobia por conta de comentários depreciativos sobre os nordestinos que votaram no presidente Lula. Landim disse que a mulher fez um desabafo e a manteve no cargo, até homenageando Vinícius Júnior, vítima de racismo – um crime que a legislação brasileira equipara à xenofobia.
Se não conseguir estender seu mandato nem transformar o Flamengo em SAF, Landim deve continuar os próximos meses mais de olho no futuro do que no presente. Isso porque avançará a disputa interna para escolher um sucessor do presidente.
O vice-presidente Rodrigo Dunshee pode perder espaço nesta disputa caso se confirme que usou um perfil falso para ofender opositores, o que pode lhe render problemas na Justiça e dentro do clube. O outro nome cotado para ser candidato de Landim é o atual presidente do Conselho de Administração, Luiz Eduardo Baptista, o Bap. As eleições nas quais Landim não poderá concorrer à reeleição inicialmente estão marcadas para dezembro do ano que vem.
Se a gente vender 30% do Flamengo, a gente consegue R$ 1,5 bilhão. A gente constrói nosso estádio próprio de graça, tendo 70% das ações do Flamengo, o controle do Flamengo.
Rodolfo Landim, em reunião com conselheiros
Contribua: [email protected]