No último domingo (26) o programa de Sócio-Torcedor do Flamengo completou dez anos do seu sonhado lançamento, realizado na gestão de Eduardo Bandeira de Mello e com presença de Zico. Apesar de ser algo a se festejar, o ST pouco evoluiu desde então, passando por mudanças de nomes (hoje é “Nação“) mas com os mesmos defeitos.
Quando foi lançado, em 2013, o Sócio-Torcedor do Flamengo logo atingiu patamares animadores, com a equipe de marketing almejando a faixa dos 1,6 milhão de sócios, ancorando-se nos cerca de 6% dos torcedores do Benfica associados ao clube. Lembrando que o clube português segue, até hoje, sendo um exemplo com seu programa de ST.
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Pouco após o lançamento, Bap, então vice-presidente de marketing, chegou a dizer que, em um primeiro momento, o Sócio-Torcedor do Flamengo precisava ser melhor para o clube do que para os próprios torcedores. À época fazia sentido, já que o Mais Querido sofria com o alto endividamento e poucos recursos. Acontece que, dez anos depois, esse “em um primeiro momento” nunca deixou de existir.
O programa passou por diversos altos e baixos nesse período. O seu auge aconteceu em 2019, quando o elenco badalado conquistou Campeonato Brasileiro e Libertadores e passou a marca de 150 mil sócios. Um número alto para os padrões brasileiros, mas apenas 10% da sonhada proporção em relação ao Benfica. Um ano depois, no entanto, esse número caiu pela metade muito por conta da pandemia e também pelos momentos ruins após a saída de Jorge Jesus.
Torcida do Flamengo vê o Sócio-Torcedor como o programa de venda de ingressos que ele é
Somente em meados de setembro de 2022 o clube voltou a alcançar patamares de antes da pandemia, sem chegar novamente ao seu recorde. A alavancagem do Nação, contudo, se deu nos períodos em que o Flamengo disputava fases importantes, de competições importantes. Essa é uma infeliz coincidência dos momentos de ápice nos números de sócios-torcedores.
Isso porque o número de associados sempre aumenta quando a equipe disputa quartas, semis e finais. Cientes de que a maior vantagem do Sócio-Torcedor do Flamengo é ter a preferência na compra de ingressos, os torcedores buscam se inscrever no programa para garantir presença nas partidas importantes.
Sem tantos benefícios relevantes, o ST mais parece um programa de venda de ingressos e o torcedor enxerga ele dessa maneira. Isso, portanto, influencia nos altos e baixos nos números de inscritos. Tende a ser sempre assim: se o time está em boa fase, disputando fases finais de torneios importantes, o número aumenta. Do contrário, ele reduz.
Poucos atrativos fazem com que o ST jamais atinja os patamares sonhados
Seja na era quebrada de Bandeira de Mello ou na rica e vencedora de Rodolfo Landim, fato é que o Sócio-Torcedor do Flamengo é muito pouco atrativo. Para além dos descontos e prioridades na compra de ingressos, os benefícios poucos são atrativos para a torcida, fazendo com que o Nação viva inconstante. Apesar disso, bilheteria + ST geraram mais de R$ 180 milhões em 2022, ajudando ao clube chegar aos R$ 1,2 bi de faturamento. Pelo segundo ano consecutivo as receitas com marketing e matchday superaram a arrecadação com transmissões e premiações.
Além disso, os valores elevados e ausência de um plano que contemple boa parte da Nação flamenguista, que é mais humilde, também impede que os sonhados patamares sejam atingidos. Soma-se a isso o fato de “escantear” outra boa parte da sua torcida: os off-Rio. Para quem mora fora do estado sede do Flamengo, não há o que realmente faça com que o torcedor se associe a bom gosto. Pelo contrário, quem o faz, é a contragosto, torna-se sócio apenas para ajudar a equipe.
E pior: mesmo após a equipe se reerguer e conquistar arrecadação bilionária, a equipe do ST ainda usa a mesma premissa do “ajude o Flamengo, vire Sócio-Torcedor” de dez anos atrás. E aos que podem pagar e aproveitam dos benefícios dos ingressos ainda restam filas longas e atendimento ruim.
Falta muito para o programa de Sócio-Torcedor do Flamengo se tornar, de fato atrativo. Para isso, chegou a hora de deixar a máxima de Bap para trás e se tornar tão bom para o torcedor quanto é para o clube.
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