Não tem como chamar de fácil a tarefa que Paulo Sousa recebeu ao chegar aí Flamengo. Como um chef contratado pra cozinhar mas sem poder escolher os ingredientes ou um pedreiro que precisa fazer uma reforma completa na casa sem derrubar nenhuma parede, ele recebeu um Flamengo com o objetivo de ser totalmente renovado mas onde ainda precisavam ficar várias das peças antigas, o que meio que desafia todo o conceito de “renovação”.
Você quer jogar com alas? Bem, pela direita temos o Rodinei, que não sabe marcar nem apoiar, mas grava uns stories muito bons. Precisa de atacantes de lado de campo? Poxa, acabamos de vender um. Quer um goleiro que sai bem com os pés? Toma aqui o Hugo, ele tem pés. A gente acha. Deve ter, né? Braz, vê aí se o Hugo tem pé, é aquele grandão do gol.
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Então nada mais natural do que esse ser um processo lento, demorado e potencialmente doloroso. Seja pelos altos e baixos de um time em formação, seja pela memória ainda viva do Flamengo regular, vencedor e encantador de 2019, seja porque o próprio Paulo Sousa parece em diversos momentos dificultar o processo, com algumas insistências sem sentido, apostas caóticas e votos incondicionais de confiança em pessoas pra quem um ser humano normal não emprestaria dois reais sem registrar em cartório.
Mas é em partidas como a vitória de hoje, por 3×1, contra o São Paulo, diante de um Maracanã cheio, que começamos a notar que, ainda que o Flamengo ideal de Paulo Sousa esteja muuuuito longe de ser uma realidade, o torcedor rubro-negro talvez já possa começar a ver os primeiros traços de um time que realmente pode vir a, talvez no médio prazo, com paciência e boa vontade, brigar por grandes coisas.
Porque o Flamengo ainda se defende de maneira confusa, ainda deixa espaços, ainda tem uma cobertura pior do que o 4G do seu celular dentro do Maracanã e o treinador português segue se esgoelando na beira do campo pedindo sem sucesso que a marcação avance – como aconteceu durante o gol tricolor. Mas os espaços já parecem um pouco menores, a descoordenação já é um pouco menos acintosa, as falhas já são um pouco menos ridículas, como um bebê aprendendo a comer que antes batia com a colherzinha direto na testa e agora começa a conseguir colocar a papinha na boca.
O ataque obviamente segue com problemas. Jogadores que antes eram próximos estão distantes, movimentações que antes eram naturais agora parecem feitas meio contra a vontade, algumas jogadas ensaiadas parecem ter sido ensaiadas pelos jogadores cada um na sua casa. Mas seja pela qualidade individual, seja pelo entrosamento voltando, seja por um milagre da páscoa em que até mesmo Isla fez um gol – algo estatisticamente mais incomum que pessoas mortas voltando a vida – o ataque do Flamengo parece estar lentamente se soltando e voltando a representar o perigo que representou em temporadas passadas.
Visivelmente a jornada ainda é longa e o Flamengo tem muito a melhorar. Rodinei não é um jogador de futebol profissional, a Arrascaetadependência é mais do que real e a equipe rubro-negra segue recuando e falhando de maneiras que um time com uma das maiores folhas salariais do continente não pode fazer. Mas já é possível sim ter vislumbres do futebol que Paulo Sousa gostaria de ver e ele realmente parece muito interessante. Depende agora da diretoria, do elenco, e do próprio Paulo Sousa, garantir que ele haja tempo o bastante pra que esse time se torne real.
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