Esta manhã fomos surpreendidos com o anúncio bombástico da Chapa Verde de que caso vençam a eleição o treinador será Jorge Sampaoli, ex-treinador da poderosa LaU e da atual seleção campeã da Copa América.
Talvez a mais antiga memória que todos temos de Sampaoli foi a goleada humilhante que a La U, treinada por ele, deu no Flamengo na Sul-Americana de 2011, quando o time brigava no G4 e tinha Ronaldinho Gaúcho e Thiago Neves.
Sampaoli, discípulo de Bielsa, tornou-se conhecido ao treinar a Universidad de Chile (La U) onde começou em dezembro de 2010, ganhando o campeonato Chileno de 2011 (Apertura e Clausura), além da Copa Sul-Americana, já em 2012 chegou a semifinal da Libertadores e venceu o Apertura antes de ir para a seleção do Chile, sensação da Copa do Mundo em 2014 e campeã da Copa América de 2015 sob muita pressão por ser o país sede.
Todos aqui conhecem o trabalho consistente de Sampaoli, a preferência por times ofensivos que sabem ficar e trabalhar a bola, marcam forte e jogam com muita raça, muita vontade, tirando ao máximo de cada jogador. Um parâmetro interessante de comparação é ver como Valdivia sempre rendeu muito mais na seleção do que no Palmeiras mesmo sem o mesmo tempo de treinamento que num clube.
Um indicador interessante e que mostra muito de como Sampaoli não só se preocupa com o trabalho tático e técnico, mas sabe chegar ao jogador e lidar mesmo com os boleiros, foi o pedido dele para que o departamento de TI da seleção chilena fizesse modificações em um jogo de futebol conhecido no mercado de games para que os jogadores pudessem através do jogo de videogame aprender a se posicionar em campo com e sem a bola e se inserir na filosofia do Sampaoli e todos vimos o resultado já que a seleção venceu a Copa América jogando o melhor futebol da competição.
É agora que muitos de vocês perguntam: E como ele pode trabalhar no Flamengo sem estrutura e com jogadores descompromissados e etc.?
Esse é um ótimo momento para “se livrar” dos jogadores problemáticos, os contratos da maioria deles terminam em dezembro e os outros tem mercado, podem ser negociados seja por empréstimo ou venda. A limpeza precisa ter foco em quem não pode melhorar, “frutas podres” ou aqueles com nível técnico muito baixo independente de outros fatores extracampo.
Sobre a infraestrutura não há muito o que discutir, todos sabem que o CT é inadequado e não comporta uma série de coisas, mas também sabemos que o módulo profissional estará terminado em 6 meses (Promessa de todas as chapas inclusive. Atualizando: A Chapa Azul promete em um ano), assim teremos toda uma estrutura adequada para o Campeonato Brasileiro, além de uma empresa de suporte e acompanhamento de desempenho que agregará todo o componente de inteligência.
Obviamente não há dinheiro para tudo, alguns estão questionando o quanto é válido investir pesado no treinador e não ter dinheiro para investir pesado no time. E, é claro, não dá para ter um time estrelado de uma temporada para outra, nem o Corinthians fez isso.
A diferença é que um treinador bom/mediano só faz time campeão quando há nomes de peso, o dinheiro necessário para adquirir e manter jogadores desse nível é muito maior que o dinheiro que se investiria tendo um treinador top, excelente, com um time base mediano.
Se olharmos a carreira de Sampaoli veremos que não é novidade para ele estar em um clube que está se estruturando e precisa implementar uma filosofia, pelo contrário, portanto é um desafio que ele conhece e que já superou algumas vezes. Além disto, a La U que Sampaoli treinava era um clube que ao fim da temporada vendia sem dó os jogadores que se destacavam e não investia pesado, a política de compra eram apostas de times menores e jogadores da base e Sampaoli fez mais de um time campeão atuando dessa forma, operando com jogadores de baixo custo, desconhecidos, e vários jovens da base.
A própria seleção chilena tem muitos jogadores revelados por Sampaoli e em 2012 ninguém apostava muito nos jogadores da seleção, quase nenhum estava nas grandes ligas europeias, mas o cenário para eles mudou após Sampaoli assumir a seleção e começar a tirar o máximo deles. É isso que grandes treinadores fazem, tiram 110% do time, fazem jogadores medianos se tornarem bons jogadores e bons jogadores atuarem como craques.
O plantel do Flamengo hoje tem jogadores que já mostraram muito futebol em temporadas anteriores, mas caíram muito de produção esse ano pelo péssimo trabalho da comissão técnica, tais como Guerrero, que veio voando do Corinthians e caiu, Canteros que jogou muito em 2014 pelo Flamengo, Jonas que foi destaque absoluto em 2014, o próprio Gabriel que sempre rende quando está bem fisicamente e se apaga quando está fora de forma. A base do Flamengo é boa, pode ser ótima com mais 2 ou 3 jogadores de nível, alguns reforços pontuais, tudo depende do bom trabalho físico, técnico e, principalmente, tático.
Com o clube recuperado financeiramente, administrativamente, a ponto de ter uma infraestrutura de primeira linha nos próximos meses, exatamente no momento em que se definirá a filosofia de trabalho que envolverá base e profissional para as próximas décadas, tendo a oportunidade de começar a temporada com um novo treinador, não tem momento mais adequado para a vinda de um treinador de ponta, um professor de fato, até porque um movimento errado, um treinador ainda preso ao futebol do século passado, pode condenar o futebol, no mínimo, pelos próximos 10 anos.
Não quero um treinador que fará o Flamengo alcançar o Corinthians, quero um comandante que fará o Flamengo alcançar os clubes que disputam a Liga dos Campeões.
Saudações Rubro-Negras