Vou deixar claro desde logo, não concordo com muita coisa que acontece no Departamento de Futebol do Flamengo, tanto assim que concorri à presidência do clube exatamente para dar visibilidade a uma proposta de profissionalização da gestão, hoje entregue ao amadorismo em estado bruto como se ainda estivéssemos no século XX.
Digo mais, até. Ou o Flamengo abre o olho ou é questão de tempo para ser superado por competidores em um ambiente que tende a ser mais qualificado e profissional. Dito isso, vamos ao que interessa: a melhor decisão que o Flamengo tomou nos últimos 12 meses foi a contratação de Paulo Sousa.
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Parece incrível que alguém tão crítico tenha que vir a público conclamar o óbvio. Paulo Sousa, nosso treinador escolhido depois de um périplo europeu dos dirigentes, precisa ser defendido com toda energia. E, ao que tudo indica, a cobrança em cima dele está vários degraus acima do que Ceni, Renato Gaúcho e até Domenec enfrentaram em seus primeiros passos.
Qualquer pessoa sensata é capaz de notar que o time está muito melhor do que esteve na última temporada. Na verdade, ainda que alguns resultados não tenham vindo, a organização tática do time, a fluidez das jogadas e a ofensividade intensa são de encher os olhos.
Há problemas? Claro que sim! Além do time estar no início de temporada, falhas individuais, onde pouco o treinador pode fazer, têm sido cruelmente decisivas em nosso desfavor. Mas é preciso aceitar que o futebol é um jogo de detalhes e nem sempre esses vão pender para o nosso lado.
Tem épocas que dá tudo certo: uma disputa de pênaltis nas 8as, um gol aos 40min do 2º tempo que garante a classificação nas 4as, uma virada épica a partir dos 43min do 2º tempo que levanta o caneco. E tem dias que a bola teima em não entrar, é possível finalizar espantosas 34 vezes e nem assim vencer, como acabou de acontecer contra o Resende.
Além disso, o Flamengo não está em um cenário de dominância absoluta. Eu cheguei a acreditar que fosse possível ser o Bayern de Munique brasileiro, mas isso não aconteceu. Há outros competidores igualmente relevantes. Para derrotá-los será preciso trabalho, estratégia, foco e determinação. Inclusive porque, convenhamos, há carências no elenco e vamos precisar lidar com elas.
Paulo Sousa reúne todas as credenciais para levar o Flamengo ao auge em 2022. É inteligente, preparado, com uma comissão técnica de alto nível e, sobretudo, compreende o aspecto motivacional que às vezes parece nos faltar (por isso fala tanto em “fome”). Assim como Jorge Jesus, está comprometido com uma lógica de profissionalismo, algo tão incomum na Gávea e no Ninho, sempre infestados de palpiteiros, vedetes e interesseiros de toda sorte.
É claro que eu gostaria de ser tetracampeão carioca – quem não gostaria? Mas esse campeonato é uma farsa! Durante quase 3 meses somos obrigados a assistir partidas irrelevantes, cujo resultado não tem qualquer serventia para o que realmente importa, ou seja, o jogo final, onde não há qualquer vantagem para quem foi bem durante a fase classificatória. E em um confronto específico, sim, tudo pode acontecer – quantas vezes não fomos nós a vencer as finais do Carioca contra adversários então muito melhores do que nós?
Defendam Paulo Sousa, ainda que ele tropece nesse início. Ele é a nossa maior esperança de ir bem. O fracasso dele é o triunfo do retrocesso. E, acreditem, o que não falta é gente influente ansiosa para retroceder, afinal no Flamengo há quem tenha alergia a tudo que soe profissional.
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