Por Tiago Cordeiro
Há uma variação de quase cinco milhões de euros entre o menor e o maior valor envolvendo Andreas Pereira, que deve ser contratado pelo Flamengo até 2025 em uma transação milionária de qualquer jeito. Muita gente preferiu criticar os valores, mas embora ache um pouco caro para a posição, não são esses valores que me incomodam. Mas algo que me perturba frequentemente: qual a mensagem que a gestão passa ao elenco e aos funcionários do Ninho do Urubu com esta decisão?
Qualquer pessoa que acompanha futebol sabe como dar certo no Flamengo é difícil. Nos últimos três ou quatro anos passaram jogadores com um currículo relevante e boa parte foi moído pelo rolo compressor que é o clube de maior torcida do mundo. O diagnóstico é claro: se você tem um jogador que deu certo no Flamengo e for possível, mantenha. Que o diga Pablo Marí, Gerson e outros poucos que não valem um “etc”.
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Andreas, vejam vocês, foi contratado para a posição justamente do camisa 8 que venceu a Libertadores a um custo relativamente próximo e com uma carreira até então mais significativa (o ex-tricolor era mais jovem). Gerson custou quase doze milhões de euros (revendido por quase o dobro do valor) por quase 100% de seus direitos, enquanto Andreas terá apenas 75%. Apesar da diferença significativa, tudo indica que um jogador titular pro Flamengo naquela posição vai custar algo entre dez a quinze milhões de euros.
Então por que não mantê-lo? Pelo motivo que faz os palmeirenses jogarem em Dubai enquanto Paulo Sousa grita em Volta Redonda.
Não é razoável um clube ligar para a zoeira de torcidas na hora de definir seu planejamento, mas Andreas cometeu o maior erro da derrota mais importante da centenária história do Flamengo. Daqui a dezenove anos, você vai estar assistindo Globoesporte com seus filhos ou netos e vai aparecer uma chamada lembrando da libertadores que o Palmeiras conquistou em 2021 reprisando o gol de Deyverson. Ou a falha do volante. Os patrocinadores que investiram no clube na última temporada estarão eternamente associados a este momento histórico assim como a camisa 2021.
Não é um prejuízo mensurável, mas pode apostar que é enorme.
Na virada do ano, jogadores rubro-negro apostaram em um discurso de “saber perder” e “nem sempre dá pra ganhar”, que lembra muito o fim da jornada de times campeões. Andreas esteve mal em boa parte do Fla-Flu e recebeu uma senhora vaia em sua substituição. Será assim daqui para frente com ele e se o time não ajudar, piora. Piora mais ainda pra ele.
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Se já não bastasse um clima ruim pro jogador, eu imagino como fica a cabeça de um departamento em que o responsável pelo maior erro da história do clube ganha a chance de permanecer por mais quatro anos, luvas e a solidariedade inacreditável de torcidas organizadas (sabe-se lá sob que condições).
Seria injusto jogar Andreas por um único erro? Seria. E seria justo para o Flamengo dobrar a aposta esperando que Andreas pague um débito quase impagável? Entre clube e jogador, escolha sempre o clube.
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Eu acho que um diagnóstico de clima ruim bastaria para não contratar Andreas, mas para quem veio aqui atrás de uma análise técnica de Andreas lá vai:
Andreas é um ótimo jogador. Mas não é craque como Gerson foi em 2019, em boa parte de seu contrato e todas as temporadas que estiver no seu melhor. O ex-Manchester é melhor na marcação que seu antecessor, chuta bem demais de fora da área e tem um bom passe, mas insuficiente para dar uma dinâmica de toque rápido como Pirlo e Xavi faziam na Europa e o próprio Gerson faz.
O fato de ter feito bons jogos pelo Flamengo seria decisivo para topar esse gasto não fosse o único jogo em que falhou ter sido tão importante. Deveria ser o suficiente para repensar e manter um clima de tensão saudável no Ninho. Torço para que esta decisão não cause ainda mais relaxamento que a defesa do Flamengo marcando Jhon Arias.
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