Primeiro é preciso lembrar, como sempre, que se tratava do Boavista pela terceira rodada do Campeonato Carioca e não do Bayern de Munique pela final da Champions League. Qualquer elogio tem que levar em consideração a fragilidade do adversário, um time de Saquarema que disputa a Série D do Brasileirão. Qualquer crítica tem que encarar a realidade de que se trata da estreia de um novo técnico tentando implementar uma nova filosofia para uma equipe que muito provavelmente, sob o comando de Renato Gaúcho, atuava no esquema tático “vamo lá porra, a gente é foda, olha só o meu dvd”.
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Mas se ainda é muito cedo para qualquer avaliação mais contundente do trabalho do treinador e sedutor Paulo Sousa, um técnico tão romântico que quer que todo atleta jante com a própria esposa depois das partidas, já foi possível, na vitória de 3×0 da noite desta quarta-feira, ter talvez algumas pistas do que vai ser o Flamengo durante o ano.
Primeiro no aspecto tático, em que o português realmente parece optar pelos três zagueiros, o que garante mais liberdade para os nossos alas – Matheusinho, por exemplo, sempre manifestou bem mais vocação ofensiva do que defensiva – mas também escancara o fato de que, levando em consideração que Rodrigo Caio está sempre machucado, Gustavo Henrique é abaixo da média e Léo Pereira nem mesmo é um ser humano, sendo cientificamente considerado o elo perdido entre os reinos monera e fungi, o Flamengo teria, em seu elenco profissional, cerca de 1,3 zagueiros, contando David Luiz. Ao menos não apenas Noga e Cleiton tiveram atuações seguras, gerando opções para o treinador, como existe a expectativa de que Marcos Braz e seu programa de milhagens possam retornar da Europa com algum reforço para a posição.
A escalação com algumas surpresas também serviu para dar oportunidades, que alguns aproveitaram bem e outros nem tanto. Se Renê mais deixou claro que não foi nessas férias que encontrou uma fada madrinha que o transformasse num lateral de verdade, Marinho fez sua estreia com toda disposição que a torcida poderia esperar e um pouquinho mais, já marcando seu primeiro gol. Assim como Pedro, que também deixou a sua marca e Gabigol, que apesar de ter perdido gol daqueles que se o seu amigo perde na pelada todo mundo tira o colete, conseguiu também iniciar o ano com mais uma bola na rede.
E o grande destaque da partida acabou sendo exatamente o jogador responsável pelos passes para esses três gols: Victor Vinícius Coelho dos Santos, o famigerado Vitinho. Com uma grande atuação, Vitinho passou, marcou, armou, acertou lançamentos de longa distância, roubou bolas importantes e gerou – possivelmente pela décima oitava vez em sua passagem pelo Flamengo – a expectativa de que talvez tenha chegado a hora de uma das mais caras contratações da história rubro-negra finalmente deslanchar. Grandes chances de que seja apenas mais um alarme falso? Com certeza. Mas se o jeitinho romântico de Paulo Sousa conseguir transformar Vitinho em um jogador decisivo será talvez o feito mais sobrenatural já realizado pelo amor desde que o fantasma de Patrick Swayze fez um vaso de cerâmica junto com Demi Moore no filme “Ghost”.
No mais, o que se viu foi o que se espera de um começo de temporada, com novo técnico e novo esquema tático, com algum nível de desorganização, alguns jogadores perdidos ou fora de ritmo, mas um nível de disposição e de qualidade técnica que faz acreditar que talvez algo realmente bom possa sair daí. Porque afinal, não tem nada que a gente queira mais do que, novamente, viver um gostoso poliamor entre um homem português e um monte de taças. Depende só de você, Paulo Sousa.
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